Decisão do Copom: Taxa de Juros Mantida em 10,5%

Por Filinto Branco

Decisão do Copom: Taxa de Juros Mantida em 10,5%

Caros amigos leitores desta modesta coluna, não serão muitos mas certamente são de qualidade. Estava dividido entre dois assuntos para esta semana.

O Projeto de Lei (PL) 1904/2024, apresentado pelo Deputado Sóstenes Cavalcante, que equipara a interrupção de gestação acima de 22 semanas ao crime de homicídio e a última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), que manteve a taxa básica de juros (SELIC) em 10,5%, interrompendo a série de baixa que vinha sendo efetivada pelo Banco central.

Como a votação do PL do aborto ficou para o segundo semestre e provavelmente será rejeitado, vamos nos ater então a reunião do COPOM.

Em sua última reunião, o Conselho de Política Monetária decidiu manter a taxa básica de juros, a SELIC, em 10,5%. Essa decisão, surpreendeu alguns analistas que esperavam uma continuidade na tendência de queda observada nos últimos meses, pois desde agosto de 2023, o Comitê de Política Monetária vinha reduzindo os juros. No entanto, desta vez, foi diferente. A SELIC permaneceu no mesmo patamar da última reunião.

Para além da decisão sobre a SELIC, o mercado aguardava, para saber como votariam os nove diretores do COPOM. Por consenso, todos decidiram pela manutenção da taxa, destacando o compromisso de levar a inflação à meta.

Essa decisão representa uma mudança na rota da política monetária, após um período de cortes consecutivos, desta vez o COPOM optou por manter a SELIC em 10,5%, demonstrando cautela diante das incertezas econômicas na conjuntura global.

Lula criticou publicamente essa decisão, alegando que o Banco Central  atua de forma política e não técnica. No entanto vejo algumas contradições entre o discurso de crítica e os fatos concretos, a saber:

-Porque os quatro diretores indicados por Lula votaram pela manutenção da taxa de juros, incluindo Gabriel Galípolo, que será indicado por Lula para suceder Roberto Campos Neto, será que ele contrariou a orientação do chefe?

-Critica a independência do Banco Central, porém nada fez para retornar a situação anterior ao Governo Bolsonaro quando o banco era subordinado a presidência da República.

- embora Lula tenha instrumentos para substituir  Roberto Campos Neto na presidência do BC, ele não o fez. 

Essa inação levanta questionamentos sobre a real intenção do presidente Lula em alterar a política monetária praticada pelo Banco Central, cabe lembrar, que no seu primeiro governo, o então presidente Meirelles, mantinha a taxa de juros maior do que a praticada hoje.

A manutenção da SELIC em um patamar elevado pode impactar a economia e o cenário de inflação, mas o presidente optou por não intervir diretamente na liderança do BC.

É interessante observar que, durante o primeiro governo Lula, a alta taxa de juros era frequentemente criticada, pelo então vice-presidente José Alencar que desempenhava um papel ativo nesse debate. Agora, Lula parece seguir uma estratégia semelhante, questionando a atuação do Banco Central e a manutenção da taxa SELIC em níveis elevados

Em resumo, a relação entre Lula e o Banco Central está marcada por tensões e divergências, especialmente em relação à condução da política monetária e à autonomia da instituição. A decisão de manter a SELIC em 10,5% reflete essas disputas e incertezas econômicas.

Resta acompanhar como esse cenário se desdobrará nas próximas reuniões do COPOM e como o mercado reagirá às incertezas e pressões políticas. Essa dualidade reflete a complexidade da política monetária e as tensões entre os atores envolvidos. A alta taxa de juros pode ser vista como uma estratégia cautelosa para controlar a inflação, mas também gera debates sobre seu impacto na economia real e no crescimento.

Em resumo, enquanto Lula  diz que a taxa de juros alta, é um obstáculo ao crescimento, Campos Neto prioriza o controle da inflação. Suas abordagens refletem diferentes visões sobre o papel do Banco Central na economia brasileira . Lula parece seguir uma estratégia de questionamento à atuação do Banco Central e a manutenção da taxa SELIC em níveis elevados, no entantoos fatos não mostram isso.

O debate sobre a política monetária continuará sendo um tema relevante e complexo na conjuntura brasileira.

Até o próximo sábado.

Filinto Branco - colunista político.

Por Ultima Hora em 22/06/2024
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