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Por muito tempo na história da ciência, acreditou-se que os neurônios não se regeneravam, ou seja, não havia possibilidade do surgimento de novos neurônios. Eu me lembro disso das aulas de ciências. No entanto, desde a década de 1990, estudos mostram que existe neurogênese em adultos. Um desses primeiros trabalhos, publicado na revista Science em 1992, evidenciou a formação de neurônios e astrócitos a partir de células do sistema nervoso de ratos adultos. Hoje, já está bem estabelecido que a neurogênese acontece em determinados momentos da vida e que muitos fatores podem influenciar esse processo. Um desses fatores é o exercício.
Na década de 1980, cientistas mostraram que a prática de exercícios físicos promove o aumento da produção de uma proteína chamada fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF). Essa proteína está envolvida na geração de novas células em duas regiões do cérebro: o hipocampo e a zona subventricular (SVZ), além de possuir um efeito protetor sobre os novos neurônios produzidos. Esses efeitos celulares promovem melhorias fisiológicas, como a melhor comunicação entre neurônios (neurotransmissão), que é a base do funcionamento cerebral. Assim, um aumento do BDNF circulante exerce efeitos benéficos sobre o humor, além de ajudar a aprender mais rápido, lembrar melhor e envelhecer mais lentamente.
Estudos publicados em 2003 (Psychological Science, 14(2), 125-130) mostraram que existem algumas funções cognitivas que são mais beneficiadas pelo aumento do BDNF, como as funções executivas (aquelas relacionadas ao planejamento, inibição e programação de procedimentos mentais). Observou-se também que quando os exercícios aeróbicos eram combinados com exercícios de força, os efeitos benéficos eram potencializados.
Acredita-se que o exercício promova o aumento do BDNF cerebral através de três mecanismos principais: 1) o cérebro percebe o exercício por meio do controle motor central, aumentando a atividade neuronal; 2) o exercício faz aumentar os batimentos cardíacos, resultando em um aumento do fluxo sanguíneo cerebral; e 3) ocorre a liberação de “exercinas”, moléculas sinalizadoras liberadas pelo músculo (miocinas) ou pelo fígado (hepatocinas) na corrente sanguínea.
O BDNF também está associado a outros benefícios, incluindo aqueles que envolvem o sistema vascular, especificamente a angiogênese, colaborando também para os efeitos benéficos do exercício sobre o sistema cardiovascular. A melhor forma de aumentar o BDNF consiste em melhorar o estilo de vida, fazendo mudanças saudáveis na frequência com a qual se pratica esportes e na qualidade da nossa dieta alimentar. Vale lembrar que os efeitos são potencializados a longo prazo e que, para se beneficiar desses efeitos, é preciso fazer exercícios por um tempo acima de 30 minutos, pelo menos 3 vezes por semana. E aí, preparado para a academia?
Profª. Drª. Adriana Pedrenho
Departamento de Ciências Fisiológicas, UFRRJ
Idealizadora da Nave Química Fisiológica
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