Hezbollah no Brasil: PF aponta formação de rede de mercenários tupiniquim

Hezbollah no Brasil: PF aponta formação de rede de mercenários tupiniquim

Os depoimentos colhidos pela Polícia Federal na operação Trapiche apontam que uma rede mercenários estava sendo formada pelo Hezbollah, mas sem vínculos ideológicos com o movimento radical libanês, informa a colunista Bela Megale, do jornal O Globo.

Com base em revelações de dois brasileiros que foram alvos de buscas, a PF concluiu que a ação deflagrada na semana passada interrompeu uma rede que seria formada no Brasil pelos chamados “proxies”, que são uma espécie de “terroristas por procuração”.

Segundo investigadores, esse segmento é formado por mercenários, ou seja, pessoas movidas por dinheiro e que, em contrapartida financeira, realizam ações operacionais e de logística para organizações supostamente terroristas. Entre esses trabalhos estão o levantamento de locais e o recrutamento de pessoas para ataques, além de compras de armas e explosivos. Por isso, os alvos buscados pelo grupo no Brasil tinham antecedentes criminais.

Investigadores da PF especializados na área terrorismo levantaram a mudança de atuação do Hezbollah nas últimas décadas. Segundo os policiais, nos anos 70 e 80, a organização atuava com membros com vínculos ideológicos na operação e logística de suas ações. Com a intensificação da vigilância pelos órgãos de inteligência de todo o mundo, especialmente após o ataque às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, em 2001, o movimento passou a usar a “tática de proxy”, que consiste na subcontratação de mercenários, já que os ideologicamente envolvidos passaram a ser facilmente identificados nos países fora do Líbano.

O que mais chama a atenção dos investigadores da operação Trapiche são as grandes semelhanças entre os fatos citados pelos dois interrogados, que admitiram terem sido alvos de recrutamento de uma organização criminosa libanesa.

O primeiro a dar o depoimento, na quarta-feira passada, afirmou que, depois de retornar do Líbano e se encontrar com um chefe da organização, fez pesquisas e “concluiu que poderia ser o Hezbollah”. O segundo alvo, localizado em Goiânia, disse em depoimento, na noite de sexta-feira, “que ainda no Líbano, entendeu que se tratava da organização terrorista Hezbollah”. Afirmou ainda que, quando esteve no país e se encontrou com um “chefe” do grupo chamado Stefano, viu indivíduos que “tinham a insígnia” do Hezbollah em suas roupas, como o garçom que os serviu.

Na investigação, a PF passou a se debruçar sobre os detalhes coincidentes dos dois depoimentos, já que ambos não se conhecem. Para os investigadores, os relatos mostram o modus operandi do recrutamento que estava sendo realizado no Brasil.

Nos dois depoimentos, os investigados afirmam que o “chefe” da organização que encontraram no Líbano perguntou se tinham “capacidade de matar pessoas”.

Eles também contaram que, ao aterrissar em Beirute, ficaram hospedados em um hotel ruim e que, nos demais dias, foram realocados para um “resort de luxo”. Os dois detalharam como foram os trâmites para encontrar o chefe, como deixar telefones e smartwatch no quarto, além de fazer um tour pela cidade para mascarar o real motivo da viagem. Contaram ainda que foram ameaçados, caso relatassem o que aconteceu naquele país.

Outro ponto que chamou a atenção da PF foi o relato de que, ao voltarem ao Brasil, receberam US$ 5 mil do chefe da organização libanesa.

Um dos brasileiros presos na mesma operação, Jean Carlos de Souza, estava com o mesmo valor em espécie quando foi preso ao chegar do Líbano, no aeroporto de Guarulhos (SP), na terça-feira passada. Ele nega ligação com o Hezbollah e disse que foi ao país comercializar ouro e agrotóxicos. A PF, no entanto, diz ter informações de que ele foi ao país tratar de seu recrutamento.

Por Ultima Hora em 13/11/2023
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