Machado de Assis é destaque em sua Casa

Em comemoração aos 185 anos de Machado de Assis a ABL inaugura um painel de 150 metros com imagens alusivas às obras e ao próprio escritor retratando muito de sua profícua obra. Pintado à mão, por Cazé, integrante e um dos idealizadores do projeto Negro Muro, artista que vem despontando no cenário artístico carioca com ilustrações espalhadas pela cidade do Rio de Janeiro.

A pintura traz referências estéticas do Rio de Janeiro do século XIX, elementos pessoais da vida do autor, como sua esposa, Carolina Augusta, o jogo de xadrez uma de suas paixões, sua trajetória como tipógrafo, entre outros elementos.

Machado está no panteão dos escritores brasileiros, mas apesar disso, conta com uma trajetória que segue na contra mão da idéia de sacralização do escritor que foi um observador de seu tempo e se definia um operário da literatura, antítese a essa ideia.  Foi um escritor sui generis que abraçou diversos gêneros literários, testemunhou fatos relevantes do Brasil do final do século XIX e inicio do século XX, tornando-se um escritor que escrevia com olhos atentos.

A cerimônia de inauguração do painel contou com a presença da Orquestra Luna, um grupo de jovens violinistas da Providência, e do grupo Trio Julio, que trouxe a boa música popular brasileira ao evento, além mesa-redonda com nomes do pensamento acadêmico e do ativismo social: João Cezar de Castro Rocha, professor e historiador especializado em literatura comparada e no legado de Machado de Assis; Carolina Rocha, militante antirracista, professora e pesquisadora em educação e religiosidade afro-brasileira; e Márcio Hilário, doutor em Literatura Brasileira e especialista em Machado de Assis. Um momento reflexivo que trouxe luz a novos olhares não só a respeito da obra do homenageado, mas para a literatura que pensamos e produzimos no Brasil.

Segundo Cazé sua inspiração se baseou na pesquisa realizada por Pedro Rajão, também idealizador do grupo. “Espero que esse trabalho reforce ainda mais quem é Machado de Assis e sua importância além de proporcionar mais interação com a cidade, como o trabalho antiracista que o projeto desenvolve com ilustrações referenciais pela cidade, como de Ruth de Souza, Pixinguinha, Elza Soares, João Cândido, Moacir Santos, entre outros. Machado é mais um deles, destaca Cazé. Essa iniciativa se integra a outras ações promovidas pela ABL como Ciclo de Conferências que debateu a obra do autor e a questão racial, além do curso de formação de escritores voltado para alunos das periferias, com foco na discussão racial nas obras do escritor. Machado de Assis é libertador para qualquer democracia. É afeto e afeta".

Por Rogéria Gomes

Escritora, jornalista, dramaturga

( teatroemcenanoradio@gmail.com)

Foto: André Feltes