Performance pornográfica, feita por travesti, em universidade federal gera reação

Deputados criticam a performance de Tertuliana Lustosa na UFMA e cobram investigação sobre uso de recursos públicos no evento. A universidade promete apuração rigorosa dos fatos.

Performance pornográfica, feita por travesti, em universidade federal gera reação

O episódio envolvendo uma performance polêmica realizada por uma cantora travesti na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) gerou intensas reações no ambiente universitário brasileiro. As repercussões também alcançaram o meio político. 

O debate em torno dos limites da liberdade de expressão e do uso de espaços públicos para manifestações diversas foi reacendido após a apresentação de Tertuliana Lustosa, que durante sua palestra incluiu uma dança pornográfica e expôs partes íntimas para a plateia.

Denominada “Educando com o cú, a performance levou uma travesti cantora de Funk a um evento organizado na Universidade Federal do Maranhão. 

 Enquanto se apresentava na mesa-redonda, a travesti subiu na bancada e, protagonizando uma dança erótica, cantou: 

“No mestrado da putaria, vou te ensinar gostoso, dando aula na sua pic*. Aqui não tem nota, nem recuperação, não tem sofrimento e se aprende com tesão. De quatro, empino o c*. Educando com o c*”.

Ocorrida no contexto do “1º Encontro de Gênero do Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política” da UFMA, a apresentação viralizou rapidamente nas redes sociais.

As reações foram muitas, trazendo à tona críticas sobre o respeito aos valores da instituição e os limites do que pode ser considerado aceitável em eventos acadêmicos, sobretudo, públicos.

Em resposta, a UFMA divulgou uma nota oficial afirmando que está averiguando o ocorrido e que tomará as providências necessárias para manter o ambiente acadêmico respeitoso:

Neste sentido, a UFMA informa que está averiguando o ocorrido e tomará as providências cabíveis, após o comprometimento de ouvir todas as vozes, reafirmando seu compromisso com um ambiente acadêmico inclusivo, respeitoso e transparente.”

No comunicado, reafirmou seu compromisso com a pluralidade de ideias, mas destacou que ações desrespeitosas não condizem com os valores da instituição: 

“Como sabido, a Universidade é um espaço plural e de diálogos, dedicado ao conhecimento, à diversidade de ideias e ao respeito mútuo. Por isso, entendemos que a liberdade de expressão é um pilar fundamental da academia, mas também ressaltamos a importância de se manter um ambiente harmônico e respeitoso para todos os membros da nossa comunidade.”

Reações Políticas

 A oposição ao atual governo reagiu rapidamente. Parlamentares de partidos como o PL e União Brasil manifestaram indignação com o que consideram ser um reflexo da má gestão do governo federal sobre a educação.

O deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP) protocolou um pedido de convocação do ministro da Educação, Camilo Santana, para prestar esclarecimentos no Congresso. Segundo o parlamentar, é preciso apurar se houve uso de recursos públicos para financiar o evento e responsabilizar os responsáveis pela organização.

Outra ação adotada pelos oposicionistas foi realizada pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), presidente da Comissão de Educação da Câmara. Ferreira acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar a apresentação. O mineiro solicitou que sejam apurados possíveis crimes e que os professores envolvidos no grupo de pesquisa responsável pelo encontro sejam investigados e, se necessário, exonerados. Também trouxe à tona a preocupação sobre a presença de menores de idade no evento e destacou a necessidade de discutir o ocorrido na Comissão de Educação: 

“Chega de putaria bancada com o seu dinheiro”.

O deputado também exigiu esclarecimentos dos professores responsáveis pelo grupo de pesquisa que organizou o encontro. CCaso seja comprovada “ciência e leniência” dos envolvidos, pedirá a o afastamento de todos das funções de servidores públicos::

"Diante destes fatos, pedirei informações dos professores responsáveis pelo grupo de pesquisa que realizou o encontro. Se as apurações demonstrarem ciência e leniência quanto ao fato, solicitarei a exoneração de todos".

Por meio de nota, o deputado federal Aluísio Mendes (Republicanos-MA) também se manifestou sobre o ocorrido. Ele criticou o uso de recursos públicos em eventos dessa natureza e classificou a performance como “desrespeito ao espaço acadêmico”.

“É inadmissível que eventos dessa natureza sejam custeados com recursos públicos,  tornando-se palcos para o desrespeito ao espaço acadêmico e à sociedade em geral. A educação, em todas as suas esferas, deve ser ambiente de construção do conhecimento, diálogo sério e respeito mútuo".

O parlamentar maranhense também expressou repúdio à postura de Lustosa e reforçou a necessidade de limites éticos e morais dentro das instituições de ensino. "Há limites que devem ser respeitados, sobretudo em instituições de ensino que devem promover debates construtivos, respeitando ética e moralmente os valores que norteiam a educação brasileira", complementou.

Outro deputado do Maranhão que se pronunciou sobre a apresentação foi Pastor Gil (PL-MA). O congressista repudiou o que ele classificou como “episódio horrendo” e afirmou que a UFMA “foi palco para a libertinagem e indecência”.

“Todo meu repúdio ao episódio horrendo que a UFMA presenciou. Um lugar de respeito, de tradição, que deveria promover educação e senso de responsabilidade cidadã foi palco para a libertinagem e indecência”

Em respostas às críticas, Tertuliana Lustosa postou um vídeo em suas redes sociais. Nele, a influenciadora aparece dançando de maiô e, em tom de deboche, afirma que ainda será ministra da Educação. 

“Um recadinho para os fascistas que me odeiam: eu ainda vou ser sua ministra da Educação”.

Desafios da Educação no Brasil

O episódio reacende debates sobre os desafios da educação no Brasil e a ideologização do ambiente universitário.Enquanto a oposição se mostra decidida a utilizar o caso como exemplo de descontrole e falhas na gestão educacional, o governo evita comentar para não ampliar ainda mais a repercussão negativa, que já abala a imagem do Executivo.

Em Unitopia, a Brasil Paralelo realizou uma investigação profunda dos ambientes universitários brasileiros. A obra inclui entrevistas com professores, alunos e gestores dessas instituições, com o objetivo de mapear de forma precisa e imparcial a realidade das universidades no Brasil. 

Assista aqui.

Preocupações no Planalto

No Planalto, há preocupações de que o ocorrido possa ter reflexos no segundo turno das eleições municipais. Interlocutores temem que a controvérsia reacenda o discurso responsável pela ascensão de Jair Bolsonaro em 2018, prejudicando ainda mais o desempenho do partido nas disputas eleitorais.

O Partido dos Trabalhadores não conseguiu eleger prefeitos em capitais nas eleições municipais deste ano e enfrenta o segundo turno em quatro cidades: Porto Alegre, com a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS); Natal, com Natália Bonavides (PT-RN); Fortaleza, com o deputado estadual Evandro Leitão (PT); e Cuiabá, com Lúdio Cabral (PT). Contudo, as pesquisas indicam que o partido não deve conquistar vitórias em nenhuma dessas localidades. 

Além disso, Guilherme Boulos (PSOL), que tem Marta Suplicy (PT) como vice em São Paulo, também enfrenta dificuldades, com as projeções desfavoráveis nos levantamentos eleitorais.

Diante do cenário político e educacional conturbado, o episódio na UFMA lança  luz sobre a importância das pautas de costumes para grande parte do eleitorado brasileiro.  Já os partidos conservadores buscam capitalizar eleitoralemente em relação à situação, consolidar um discurso de descontentamento popular em relação à educação, o que pode ter repercussões significativas nas próximas eleições. 

 

Por Ultima Hora em 02/11/2024
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