Programa Mais Professores: um passo inicial, mas insuficiente

Programa Mais Professores: um passo inicial, mas insuficiente

Esta semana foi marcada por eventos relevantes, como a polêmica em torno do PIX, o lançamento do Programa Mais Professores e a proibição do uso de celulares nas salas de aula. Como professor e entusiasta da educação, sinto-me à vontade para abordar um tema de extrema importância: a crise educacional no Brasil, especialmente à luz dos programas anunciados pelo governo federal. Deixarei a discussão sobre o PIX para outra ocasião.

O Programa Mais Professores foi lançado para tentar conter a escassez de docentes no Brasil, com o objetivo de atrair novos profissionais e fortalecer a formação docente. Dividido em cinco pilares, o programa tem o Exame Nacional de Magistério como método de seleção, a Bolsa Pé-de-Meia Licenciaturas para estimular o ingresso em cursos de licenciatura, a Bolsa Mais Professores para atuação em áreas carentes de profissionais, um portal para , formação continuada e ações para aumentar o valor social da carreira.

 Embora seja promissor, o programa é criticado pela falta de abordagens mais abrangentes para as questões estruturais da educação. Sem a garantia de melhor remuneração e condições de trabalho, não será suficiente para evitar um “apagão docente". No nosso querido Rio de Janeiro, a maioria dos educadores recebem bônus salariais para alcançar o piso mínimo nacional.  Isso acontece em vários estados da federação.

A crise docente no Brasil não é apenas uma questão conjuntural; é um desafio estrutural que demanda ações coordenadas e urgentes. É imperativo, por parte do governo, formular políticas além de medidas paliativas para reverter as tendências atuais de desvalorização da profissão docente e prevenir o apagão docente iminente, precisamos ir a fundo nas causas fundamentais que levaram ao dilema atual.

Salários competitivos e dignos: Pagar aos professores de maneira condizente com a responsabilidade de seu trabalho é o mínimo para atrair e reter talentos na educação. O salário médio dos professores brasileiros é um dos mais baixos do mundo, e muitos profissionais deixaram a profissão em busca de empregos mais lucrativos em outros setores. Uma reforma salarial significativa é necessária para tornar a profissão atraente.

Infraestrutura adequada e condições de trabalho: Embora seja importante pagar os profissionais de forma justa, se o ambiente de trabalho for desmotivador, isso não será suficiente. Infraestrutura precária, materiais didáticos ineficazes e ausência de tecnologia não apenas degradam a qualidade da educação, mas também deterioram a autoestima dos professores. Reinvestir em instalações mais modernas, criar espaços convidativos e reduzir a carga horária dos professores para que sobre tempo para sua qualificação, são passos básicos para melhorar as condições de trabalho.

Formação continuada: A educação é um campo que está sempre mudando, e os professores têm que se adaptar a essas transformações. Programas regulares de capacitação em novas tecnologias educacionais garantirá a requalificação e preparará os professores para as necessidades do século XXI, isso deve ser feito em parceria com universidades e centros de pesquisa.

Falta de planos de carreira: A falta de planos de carreira é outro fator desmotivador para os profissionais da educação. Quando há poucas perspectivas de avanço ou incentivos que recompensem o tempo de serviço e qualificação, faz gerar desmotivação. Propor políticas que protejam a remuneração que recebem, a disponibilidade de promoções baseadas em desempenho e a oportunidade de avanço por meio de treinamento pode reverter isso e promover a retenção na profissão.

Valorização social da profissão: O magistério é uma profissão nobre, de fato, costumava ser uma das profissões mais nobres do país, no entanto, esse status de nobreza viu um declínio significativo ao longo do tempo. Campanhas de sensibilização ajudarão a restaurar o respeito aos professores, enquanto ações governamentais devem proporcionar proteção aos professores contra situações de violência e desrespeito em sala de aula

E o Celular? Ferramenta do Mal…

Em relação à proibição do uso de celulares nas salas de aula, levanto uma reflexão: em um mundo cada vez mais digital, onde tecnologia e informação estão interligadas, a restrição total do uso de um dispositivo que pode servir como ferramenta pedagógica pode ser um retrocesso. A educação precisa se adaptar à nova realidade. É fundamental que os alunos não apenas conheçam o conteúdo programático, mas também desenvolvam uma visão crítica sobre o uso das tecnologias. Em vez de proibir, devemos integrar a tecnologia ao ensino, promovendo debates e práticas que ensinem os estudantes a utilizá-la de maneira consciente e responsável.

Um Futuro Ameaçado.

O Brasil se encontra em uma encruzilhada: ou enfrentará de forma robusta os problemas na educação, ou experimentará uma implosão do aprendizado no país. Essa situação ressoa além das salas de aula, minando o desenvolvimento social e econômico da nação. Os passos propostos neste artigo não são uma lista abrangente, mas representam aspectos fundamentais para uma reforma bem-sucedida da carreira docente no Brasil. Embora o Programa “Mais Professores” seja um avanço significativo — assim como foi o Programa “Mais Médicos” — surge a questão: teremos que recorrer à importação de professores de Cuba? Brincadeiras à parte, reformas profundas só serão possíveis com uma vontade política sólida e comprometida em enfrentar as raízes dos problemas educacionais.

Nas palavras de Darcy Ribeiro: "A crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto.” Um projeto que reflete as prioridades de uma elite que historicamente optou por manter a população na ignorância, pois cidadãos bem informados e críticos representam uma ameaça ao status quo. Transformar esse projeto requer coragem política, investimentos significativos e, acima de tudo, o reconhecimento de que uma nação só avança quando a educação se torna o eixo central de seu desenvolvimento.

Na próxima semana, teremos grandes emoções. Até lá, com saúde e educação!.

Filinto Branco. Colunista político.

Por Ultima Hora em 19/01/2025
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