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Há quase um século, a vitamina D foi descrita como o elixir para a cura do RAQUITISMO, uma doença infantil caracterizada por sintomas como atraso no crescimento dos dentes ou no desenvolvimento da criaça, arqueamento das pernas e dos braços e fraqueza muscular. Desde então, a vitamina D ficou associada à saúde dos ossos e dentes, além de ser essencial para a absorção adequada de cálcio e fósforo.
A partir dos anos 2000, surgiram muitos estudos científicos que aumentaram o status da vitamina D, considerando-a uma substância milagrosa capaz de curar depressão, diabetes, demência e até mesmo o câncer. Em 2009, teve início a maior e mais abrangente pesquisa sobre o assunto, um grande estudo randomizado onde os pacientes receberam 2.000 unidades de vitamina D ou uma pílula de farinha (placebo). O estudo acompanhou quase 26.000 adultos por cerca de 5 anos e ficou conhecido como VITAL (VITAL Research Group. JAMA Ophthalmol. 2020). O objetivo era verificar se os suplementos de vitamina D poderiam prevenir o câncer ou doenças cardiovasculares.
Os resultados foram decepcionantes. Não só a vitamina D não fez diferença nas taxas de câncer ou doenças cardíacas, mas o estudo também descobriu que a vitamina D não preveniu quedas, não melhorou a função cognitiva, não reduziu a fibrilação atrial, não alterou a composição corporal, não reduziu a frequência de enxaquecas, não melhorou os resultados de derrame, não diminuiu a degeneração macular relacionada à idade, não reduziu a dor no joelho ou mesmo reduziu o risco de fraturas ósseas e nem o risco de diabetes.
Em um estudo publicado em 2019 no New England Journal of Medicine , os cientistas acompanharam mais de 2.400 pessoas em risco de diabetes para tomar 4.000 UI de vitamina D ou um placebo diariamente. Após dois anos e meio, quase o mesmo número de pessoas em cada grupo desenvolveu a diabetes.
Não há dúvidas de que a vitamina D desempenha um papel importante na saúde, ajudando o corpo a absorver e reter cálcio e fósforo; ambos essenciais para a construção óssea. Mas, exceto por alguns indivíduos em situação especial, como bebês em fase de amamentação e pessoas com condições médicas específicas, a maioria das pessoas provavelmente não precisa suplementar com vitamina D. A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) recentemente realizou alterações nos valores de referências da vitamina D. O valor considerado normal era, pelo menos, acima de 30 ng/mL. Entretanto, agora estão sendo aceitos valores a partir de 20 ng/mL. Essa redução foi estabelecida após essas últimas pesquisas.
O fato é que nós somos capazes de produzir a nossa própria vitamina D! Essa mágica acontece quando uma molécula derivada do colesterol, presente nas células da pele, capta o fóton da radiação UVB específica e então é quebrada, formando a vitamina D. Isso mesmo, basta que fiquemos expostos aos raios UVB apenas entre 5 a 15 minutos, 2 a 3 vezes por semana para pessoas de pele clara e entre 30 minutos a 1 hora para pessoas de pele negra. Isso acontece porque a melanina da pele escura compete com a vitamina D pelo fóton UVB. É importante ressaltar que essa exposição precisa ser sem protetor solar com pelo menos 25% da pele exposta. Também é possível obter a vitamina D da dieta, principalmente de fontes como o óleo de fígado de bacalhau, bife de fígado, atum, cogumelos e salmão. Além dessas fontes, guardamos vitamina D no fígado e no tecido adiposo que podem suprir as necessidades diárias em até 12 semanas.
Profª. Drª. Adriana Pedrenho
Departamento de Ciências Fisiológicas, UFRRJ
Idealizadora da Nave Química Fisiológica
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