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Em uma jogada que faria até mesmo o mais habilidoso encanador coçar a cabeça, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) acaba de assinar um contrato que faz a conta de água parecer troco de padaria. Sem a burocracia de uma licitação - que dirá o saudoso Ulysses Guimarães, defensor ferrenho da "Constituição Cidadã" - a empresa desembolsará a bagatela de R$ 29,6 milhões para que a Houer Consultoria e Concessões Ltda faça um inventário de seus bens.
Como diria o imortal Nelson Rodrigues, "toda unanimidade é burra", e certamente haverá quem defenda e quem critique essa decisão da Cedae. O fato é que, em tempos de crise hídrica e econômica, ver tanto dinheiro escorrer pelo ralo da burocracia faz qualquer contribuinte sentir-se como se estivesse nadando contra a corrente.
A justificativa oficial para esse gasto faraônico? A Cedae alega que sua "gestão patrimonial ganhou novos contornos" e que o levantamento é necessário para "fins indenizatórios, quando for o caso".
O contrato, publicado no Diário Oficial desta quarta-feira (07), prevê um prazo de dois anos para a realização desse "meticuloso levantamento, atualização, valoração e inventário detalhado dos bens imóveis e ativos móveis". Dois anos! Tempo suficiente para que a água da Baía de Guanabara se torne potável, ou para que os cariocas esqueçam o gosto de geosmina em seus copos d'água.
Enquanto isso, o cidadão comum, aquele que luta para pagar suas contas no fim do mês, se pergunta: "Será que não havia uma forma mais econômica de fazer esse inventário?". R$ 29,6 milhões no caminho da eficiência e da economia de recursos públicos.
A ausência de licitação nesse processo levanta mais bandeiras vermelhas do que um congresso do Partido Comunista. Afinal, como nos ensinou o eterno Tancredo Neves, "a corrupção é o cupim da República". E nada alimenta mais esse cupim do que contratos milionários assinados a portas fechadas.
É claro que a Cedae tem seus motivos para realizar esse inventário. Com as recentes mudanças no setor de saneamento básico do estado, é compreensível que a empresa queira ter uma noção exata de seu patrimônio. Mas a questão que não quer calar é: precisava ser tão caro?
Como bem observou certa vez o filósofo Millôr Fernandes, "subdesenvolvimento é quando o jipe do ano custa mais do que a fazenda". No caso da Cedae, parece que o inventário custa mais do que muitos dos bens que serão inventariados.
Resta-nos agora aguardar os resultados desse inventário milionário. Será que descobriremos tesouros escondidos nos esgotos do Rio? Ou talvez algum reservatório secreto de água pura e cristalina que ninguém sabia que existia? Como diria o sempre atual Machado de Assis, "a vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente". Neste caso, a obrigação da Cedae parece ser gastar dinheiro, e ela está cumprindo com louvor.
Enquanto isso, o contribuinte fluminense continua a pagar suas contas, esperando que um dia a água que sai de suas torneiras seja tão limpa quanto os processos de contratação deveriam ser. Afinal, como nos lembrou o grande Chico Buarque, "hoje você é quem manda, falou, tá falado, não tem discussão". E a Cedae, pelo visto, mandou bem... no tamanho da conta.
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