SOBERANIA - O desastre da privatização total da energia mexicana, por Luis Nassif

No caso mexicano, a reforma de 2013 provocou uma explos

SOBERANIA - O desastre da privatização total da energia mexicana, por Luis Nassif

Por Luís Nassif, do GGN

Na década de 1930, após um prolongado conflito trabalhista, as companhias petrolíferas estrangeiras recusaram-se a acatar uma decisão da Suprema Corte mexicana. A reação do presidente Lázaro Cárdenas foi expropriar os bens das empresas e promulgar novas leis que mudaram o setor petrolífero e energético, que passaram a ficar sob controle do Estado.

Nos anos 70, a Pemex (Petróleos Mexicanos) tornara o país autossuficiente em petróleo e a CFE (Comissão Federal de Eletricidade) garantia a oferta de energia barata.

O quadro começa a mudar com o pré-sal mexicano, a descoberta das jazidas de Cantarell, uma das maiores do mundo, permitindo ao México tornar-se uma potência exportadora.

A crise econômica e fiscal dos anos 80, no entanto, fez o governo mexicano recorrer cada vez mais aos rendimentos do petróleo para suprir o orçamento público. Ao contrário da Petrobras, no Brasil, houve deterioração dos serviços, a ponto do México tornar-se importador de gás e petróleo dos Estados Unidos.

O modelo entrou em crise quando a produção de Cantarell começou a declinar, caindo em quase um milhão de barris diários.

Em 2013 houve a reforma com dois pontos centrais. 

1. Em relação ao setor elétrico, permitir empresas privadas na geração de eletricidade, mediante autorização prévia, e na exploração e extração de hidrocarbonetos, mediante contratos de concessão.

2. Propôs o fortalecimento institucional da Pemex e da CFE através da redução da carga fiscal.

Na exploração do petróleo, a empresa privada correria os riscos da prospecção e, sendo bem sucedida, teria direito a um percentual da produção ou lucro.

Na base de tudo, a promessa de aumento da produção e de redução das tarifas.

1. Reduzir as tarifas de eletricidade e baixar o preço do gás natural. 

2. Alcançar taxas de reposição para reservas comprovadas de petróleo e gás natural superiores a 100%. 

3. Aumentar a produção de petróleo dos atuais 2,5 milhões de barris por dia, para 3 milhões de barris em 2018 e 3,5 milhões em 2025, bem como aumentar a produção de gás natural de 5,7 bilhões de pés cúbicos por dia produzidos atualmente para 8 bilhões em 2018 e 10,4 bilhões em 2025. 

4. Gerar cerca de um ponto percentual a mais de crescimento econômico em 2018 e aproximar 2 pontos percentuais a mais até 2025. 

5. Criar quase meio milhão de empregos adicionais nesta administração, chegando a 2 milhões empregos e meio em 2025. 

6. Substituir as usinas mais poluentes por tecnologias limpas e promover a uso de gás natural na geração de eletricidade. 

Balanço

A reforma prometia que a produção de petróleo bruto aumentaria de 2,5 milhões de barris por dia (bpd) para 3 milhões até 2018 e 3,5 milhões ou mais até 2025. Em junho de 2021 a produção nacional estava em 1,681 milhão de barris, dos quais apenas 4% provenientes de contratos privados.

Comparado aos Estados Unidos, no México as taxas médias são 25% mais altas, mesmo com o subsídio, sem o qual seriam 73% mais caras. Isso constitui um freio para a economia mexicana, já que a eletricidade é um insumo essencial para as atividades industriais, comerciais e de serviços. 

Um dos grandes desafios do setor é a falta de investimento na rede nacional de transmissão de energia elétrica. É necessário aumentar a malha e interligar áreas do país com alto potencial de energia limpa. 

Em relação à distribuição, hoje existem ineficiências significativas. As perdas técnicas e não técnicas de energia no México são cerca do dobro da média dos países da OCDE.

O modelo eficaz de universalização de serviços é aquele em que, para levar a parte rentável do serviço a empresa se responsabiliza pela sua universalização – é o chamado subsídio cruzado.

No caso mexicano, a reforma de 2013 provocou uma explosão tarifária, tirando a competitividade da economia mexicana e deixando muito setores ao léu. O caminho escolhido foi permitir às empresas privadas o lucro, e ao orçamento público os subsídios para os setores necessitados.

Privatização à brasileira

Durante décadas conhecida por seu radicalismo em favor da privatização, a economista Elena Landau criticou o modelo de privatização da Eletrobras e fez uma afirmação de absoluto bom senso: a privatização não pode ser generalizada, mas de acordo com a análise que se faz do papel de cada empresa.

Um dos economistas que Lula ouve, dia desses, Gabriel Galipolo foi criticado por alguns empresários por criticar a privatização da Eletrobras.

Dias atrás, em visita à FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Gustavo Montesano, admitiu a necessidade de investimento público na infraestrutura.

O que mostra que algo se move na discussão econômica.

Por outro lado, na própria FIESP, o ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, anunciou investimentos em infraestrutura da ordem de um trilhão de reais. Foi indagado em que prazo. 30 anos, ele disse. Mas garantiu que a parte maior seria nos primeiros anos: da ordem de R$ 60 bilhões/ano. Hoje os investimentos não passam de R$ 100 bilhões. Estima-se que seriam necessários R$ 500 bilhões/ano apenas para reconstruir a infraestrutura pública. Confrontado com os números, Tarcísio murchou.

Por Ultima Hora em 10/05/2022
Publicidade

Comentários

  • Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!

Notícias Relacionadas

Frota de carros elétricos da Prefeitura de Niterói começa a rodar nesta sexta-feira
02 de Julho de 2024

Frota de carros elétricos da Prefeitura de Niterói começa a rodar nesta sexta-feira

Everest 2023 contou com palestra de Marcia Expósito sobre Proteção de Dados. “Foi uma experiência excepcional”
15 de Dezembro de 2023

Everest 2023 contou com palestra de Marcia Expósito sobre Proteção de Dados. “Foi uma experiência excepcional”

Guerra aumenta pressão por mudança na política de preços da Petrobras
06 de Março de 2022

Guerra aumenta pressão por mudança na política de preços da Petrobras

Presidente anuncia projeto para igualar salários de homens e mulheres
09 de Março de 2023

Presidente anuncia projeto para igualar salários de homens e mulheres

Aguarde..