Viva Madiba

Viva Madiba

Quinta-feira 18 de julho de 2024, desço na estação do metrô em Botafogo para beber um chopp de final de expediente com um amigo na praça Nelson Mandela. Lugar ótimo para um happy hour etílico e para conversar de política e futebol é claro. Mesinhas na calçada, chopp gelado e vários pensamentos na cabeça. 

De vez em quando somos interpelados por um pedinte ou um vendedor de balas ou coisas do tipo, pessoas invisibilizados pela sociedade. Em sua maioria são jovens e negros. Também é possível perceber um grande número de moradores de rua em situação de vulnerabilidade social que por conta do frio que esta estação do ano nos impõe, começam a se recolher mais cedo em busca de abrigos que geralmente são embaixo de marquises.

Bares lotados por uma saudável clientela majoritariamente formada por jovens brancos, que são servidos e atendidos por pretos e nordestinos, garantidos e seguros por seguranças com portes físicos avantajados, também de pele escura em sua maioria.

Não fui a cozinha dos bares, mas sou capaz de apostar que cozinheiros e cozinheiras, ajudantes e serventes também são negros e negras em maioria, menos o Cheff é "claro".

Começa o Jornal Nacional na TV do bar, realmente até hoje que não consigo entender porque TV em bar, não vejo sentido algum, a não ser que tenha jogo do flamengo.

Bom essa discussão não vem ao caso, mas meus ouvidos captaram a notícia que há exatamente 106 anos nascia Nelson Mandela. Neste exato momento me veio a reflexão de que toda desigualdade espelhada ao meu redor, normalizada em nosso cotidiano, reflete o quanto temos que celebrar esta data.

O Apartheid está na nossa cara disfarçado, sim, mas escancarado no racismo estrutural que os "herdeiros de escravocratas" se recusam em reconhecer. Nosso sistema é desigual e empurra a maioria de sua população para as periferias e postos menores ou de pouca visibilidade social.

Nossas mulheres são vistas como objetos sexuais, nossa fé é  perseguida, nossos jovens invariavelmente são mortos por uma política de segurança que só enxerga o confronto como única alternativa de combate a "criminalidade".

Peço a conta vou continuar a noite numa roda de samba no Largo da Prainha, lá posso revisitar minha ancestralidade e celebrar com muito orgulho a existência e luta de Nelson Mandela.

Viva Madiba 

Viva Nelson Mandela

 

 

Por Ultima Hora em 19/07/2024
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