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É sempre muito gratificante, quando nossas análises se confirmam. Como havia previsto em meu artigo anterior, o cenário das eleições municipais no RJ, seguiu um roteiro que, de certo modo, já estava traçado. Em São Gonçalo, conforme antecipado, o Capitão Nelson, com seu perfil conservador, obteve uma vitória expressiva. Já em Niterói, Rodrigo Neves (PDT), mesmo com a disputa indo para o segundo turno, consolidou seu favoritismo, mostrando que a centro esquerda, quando bem articulada e pragmática, ainda consegue bons resultados.
No Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD) saiu ainda mais fortalecido, navegando com habilidade pelo centro político e atraindo apoio de candidatos mais conservadores, o que ampliou sua base de sustentação.
Como previsto, o Centrão dominou a Baixada Fluminense, especialmente em cidades como Nova Iguaçu e Duque de Caxias, onde seu pragmatismo e o foco em questões locais — como mobilidade, saneamento e segurança — conquistaram o eleitorado. Em São João de Meriti e Belford Roxo, embora os candidatos da situação tenham perdido, os vencedores também fazem parte do Centrão, consolidando o domínio desse bloco político na região.
Estas eleições foram particularmente difíceis para a esquerda, não apenas no Rio e em São Gonçalo, mas também em capitais importantes como São Paulo e Belo Horizonte, e até em regiões historicamente dominadas pelo PT, como o Nordeste, onde apesar de Lula ter conquistado uma vitória esmagadora nas eleições presidenciais, o PT não conseguiu replicar o sucesso no nível municipal. Isso revela que, apesar do carisma de Lula, a esquerda como um todo enfrenta dificuldades para dialogar com o eleitorado local e atender às demandas imediatas dos municípios. A esquerda, que já controlou diversas capitais e cidades importantes, agora precisa reavaliar suas estratégias, tanto no discurso quanto na prática. Esse cenário evidencia, ainda, uma crise mais ampla enfrentada pela esquerda em várias partes do país.
A Provável derrota em São Paulo, o maior reduto eleitoral do país, é mais um exemplo de que a esquerda não conseguiu se consolidar como uma alternativa viável. Candidatos progressistas não capitalizaram o descontentamento com a gestão atual, e quase vão dois candidatos de direita para o segundo turno. A mensagem de combate ao fascismo e de defesa da democracia, embora relevante, pareceu distante das preocupações imediatas dos paulistanos
Em Belo Horizonte, um cenário semelhante se desenhou. Candidatos de esquerda perderam espaço para figuras mais moderadas, que se apresentaram como gestores eficientes e pragmáticos. A esquerda falhou em não renovar seu discurso e apresentar soluções que dialogassem diretamente com as demandas urgentes da população, como saúde e infraestrutura.
Esses exemplos, somados ao fraco desempenho no Nordeste, mostram que a fragmentação de lideranças e a falta de uma narrativa clara foram centrais para o fracasso nas urnas. A esquerda agora precisa se reorganizar, renovar suas lideranças e, principalmente, ajustar seu discurso para dialogar com um eleitorado mais jovem e diversificado. Caso contrário, o cenário para as próximas eleições será ainda mais desafiador.
Outro ponto a se considerar é a questão geracional. A esquerda teve dificuldade em dialogar com os jovens, que hoje têm demandas diferentes das gerações anteriores. Temas como sustentabilidade, inovação tecnológica e empreendedorismo, que poderiam ser bandeiras progressistas, foram capturados pela direita, principalmente por Pablo Marçal . A esquerda está estagnada com discursos velhos que não engajam esse novo eleitorado.
Uma coisa é certa, o grande vitorioso desta eleição foi o “Centrão”, um bloco político flexível que conseguiu captar o descontentamento com os extremos da política. Candidatos unidos ao Centrão, em várias cidades, conseguiram derrotar nomes históricos da esquerda, que não apresentaram propostas concretas e adaptadas às realidades locais. Enquanto a esquerda falava de temas amplos, como a luta contra o fascismo e a defesa da democracia, o Centrão focou em questões imediatas, como transporte público, saneamento e segurança.
E o que esperar daqui para frente? Para a esquerda, o caminho da recuperação passa por uma profunda autocrítica e pela renovação de suas lideranças. É necessário entender melhor os novos desejos do eleitorado e ajustar o discurso para reconquistar a confiança perdida. Se insistirem nas mesmas fórmulas, o futuro eleitoral será ainda mais sombrio.
Até a próxima semana, com muita campanha em Niterói e Petrópolis.
Filinto Branco – colunista político
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