A Emergência de uma Nova Direita, não Bolsonarista no Brasil Pós-Eleições Municipais

A Emergência de uma Nova Direita, não Bolsonarista no Brasil Pós-Eleições Municipais

Nos últimos anos, o cenário político brasileiro tem sido marcado pelo crescimento de forças de extrema-direita, lideradas por Jair Bolsonaro. Agora, com as eleições municipais se aproximando, parece haver espaço para o surgimento de uma nova direita, que busca se distanciar do legado bolsonarista. Mas será que essa nova corrente tem realmente chances de ganhar espaço no cenário nacional?

Vamos analisar os atuais cenários das três principais capitais do país:

  1. São Paulo: A disputa está acirrada. A pesquisa mais recente (30 de agosto) do instituto GERP aponta Pablo Marçal com 24%, Guilherme Boulos (PSOL) com 22% e Ricardo Nunes (MDB) com 19%. Pesquisas anteriores do Datafolha e Quaest já indicavam um empate técnico entre os três, com um surpreendente crescimento de Marçal, que se mostra um candidato forte, especialmente entre eleitores conservadores. Notavelmente, nenhum candidato diretamente associado ao bolsonarismo ou à esquerda desponta como favorito.
  2. Rio de Janeiro: Segundo a última pesquisa da Quaest, Eduardo Paes (PSD) lidera confortavelmente com 60% das intenções de voto. A segunda posição é disputada por Alexandre Ramagem (PL) e Tarcísio Motta (PSOL), ambos com menos de 10%. Mais uma vez, a disputa não tem um favorito alinhado com o bolsonarismo ou a esquerda.
  3. Belo Horizonte: Mauro Tramonte (Republicanos) lidera com 30%, seguido por Duda Salabert (PDT) e Bruno Engler (PL) com 12%, apresentando um cenário bastante competitivo para a segunda posição. Assim como nas outras capitais, os candidatos favoritos não se alinham claramente ao bolsonarismo ou à esquerda.

O Fim da Hegemonia Bolsonarista?

O bolsonarismo, que dominou a política nos últimos anos, atravessa um período de fragilidade. A queda de popularidade de Jair Bolsonaro, impulsionada por condenações e escândalos, sem falar na atuação controversa na gestão da pandemia, coloca a direita brasileira em uma encruzilhada. Setores moderados, que antes se alinhavam a Bolsonaro, agora buscam se distanciar dele, sem perder as bandeiras conservadoras que têm conquistado grande parcela do eleitorado.

Uma coisa é certa: nas disputas municipais deste ano, tanto Lula quanto Bolsonaro têm desempenhado papéis secundários nas principais capitais. Os candidatos que lideram não estão diretamente associados a eles, o que reflete uma possível fragmentação do cenário político nacional. Embora ainda tenham influência, o peso de seus apoios, parece estar diminuindo em comparação com eleições anteriores, abrindo espaço para novas lideranças e dinâmicas políticas.

A Busca por Novas Lideranças

Nesse contexto, novas lideranças de direita começam a despontar. Governadores, prefeitos e deputados, antes próximos de Bolsonaro, mostram sinais de independência, tentando construir uma agenda que reflita valores conservadores tradicionais, mas sem os conflitos associados ao bolsonarismo. Uma eventual vitória de Pablo Marçal na prefeitura de São Paulo pode marcar um ponto de inflexão.

Se Pablo Marçal, como tudo indica, vencer em São Paulo, seu papel será fundamental na formação dessa nova direita. Marçal, com um estilo menos agressivo e voltado ao empreendedorismo, tem o potencial de atrair conservadores moderados e eleitores desiludidos com a retórica bolsonarista. Na prefeitura, ele poderá implementar políticas que aliem eficiência administrativa a valores conservadores, sem o radicalismo que marcou a era Bolsonaro. Caso consiga equilibrar inovação e continuidade, Marçal pode se consolidar como uma liderança capaz de redefinir a ultradireita no Brasil.

Outro nome em destaque é Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, apontado como um potencial sucessor de Jair Bolsonaro na liderança da extrema direita. Sua gestão tem buscado um equilíbrio entre o conservadorismo e a competência técnica, características que o diferenciam do estilo mais confrontador de Bolsonaro. No entanto, para se consolidar como o novo líder da extrema direita, Tarcísio precisará expandir sua base de apoio, especialmente entre os eleitores mais radicais, sem perder a imagem de gestor eficiente que vem cultivando. Se conseguir manter essa dualidade, poderá emergir como um líder nacional capaz de unificar a extrema direita e, possivelmente, até mesmo atrair eleitores descontentes com a polarização atual.

As Eleições Municipais como Termômetro

As eleições de 2024 serão um termômetro para medir a força dessa nova direita. O desempenho de candidatos que se apresentem como alternativa ao bolsonarismo poderá indicar o desejo do eleitorado por mudança. Prefeitos e vereadores eleitos com essa bandeira podem ser laboratórios de novas práticas políticas.

Será o fim da polarização Lula versus Bolsonaro?

A possível ascensão de Pablo Marçal ou Tarcísio de Freitas como líderes da ultra direita levanta uma questão: isso pode representar o fim da polarização entre Lula e Bolsonaro? A política brasileira tem sido dominada por essa dualidade desde 2018, mas há sinais de que essa polarização pode estar enfraquecendo. O cansaço do eleitorado com a disputa binária e a fragmentação tanto da direita quanto da esquerda sugerem que novos atores e questões estão emergindo.

Desafios e Oportunidades

Entretanto, o surgimento de uma nova direita não será tarefa fácil. Construir uma identidade própria, além de apenas rejeitar o bolsonarismo, será essencial. Marçal precisará enfrentar a resistência dos núcleos mais radicais do bolsonarismo e consolidar sua liderança em uma base conservadora fragmentada.

Conclusão: Um Novo Caminho à Direita?

O Brasil pode estar entrando em uma nova fase política, onde figuras como Pablo Marçal ganham destaque e a polarização entre Lula e Bolsonaro perde força. Se Marçal conseguir se estabelecer como uma liderança relevante e unificadora, ele poderá ser o catalisador para uma reconfiguração do espectro político brasileiro. Contudo, se a polarização vai enfraquecer ou se transformar, só o tempo e as urnas poderão dizer. As próximas eleições serão cruciais para definir se estamos no início de um novo capítulo na política brasileira.

E a Esquerda?

Ao final desse artigo, fica uma questão: e a esquerda, o que será dela no pós-Lula? Não percam as cenas dos próximos capítulos.

Filinto Branco - Colunista político.

 

 

Por Ultima Hora em 31/08/2024
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