A HISTÓRIA, SUAS FENDAS E SEUS MONSTROS: UMA ADVERTÊNCIA QUE ECOA

A HISTÓRIA, SUAS FENDAS E SEUS MONSTROS: UMA ADVERTÊNCIA QUE ECOA

 Por Luciano Martins

O clima temperado continental marcava o inverno rigoroso de novembro de 1924. Adolf Hitler, então com 35 anos, cumpria pena na Fortaleza de Landsberg, na Baviera, condenado a cinco anos de prisão pela tentativa fracassada de golpe — o Putsch da Cervejaria. Inspirado na Marcha sobre Roma de Mussolini, o plano visava tomar o poder na Baviera como etapa inaugural para dominar toda a Alemanha. Hitler cumpriu apenas cerca de nove meses, libertado graças à pressão de simpatizantes e à indulgência das autoridades, já impressionadas com sua retórica. Durante o encarceramento, ditou suas ideias a Rudolf Hess, que as transcreveu no manifesto Mein Kampf.

Naquele momento, o Partido Nazista, liderado por Hitler, tinha uma presença ínfima, conquistando apenas 6,5% dos votos em 1924 e afundando para 2,6% em 1928. Ele era uma figura marginal em uma Alemanha devastada, mas o desespero social e as crises econômicas globais, como a Grande Depressão de 1929, catapultaram-no para o centro do cenário político. Em poucos anos, o partido alcançou 18% dos votos, e, em 30 de janeiro de 1933, Hitler foi nomeado chanceler. Sua ascensão meteórica foi impulsionada por uma estratégia minuciosa de manipulação das massas e pelo uso sistemático da mentira como instrumento de poder.

Em 1939, esse domínio absoluto da narrativa já demonstrava sua potência destrutiva. A invasão da Polônia, que marcou o início da Segunda Guerra Mundial, foi precedida por uma encenação grotesca: um falso ataque polonês, arquitetado pelos próprios nazistas. A mentira, elevada à condição de política de Estado, serviu como ignição para uma guerra que custaria dezenas de milhões de vidas e redefiniria os contornos da civilização ocidental.

Ao longo dessa linha do tempo, o que permanece constante é o Poder. Ele surge como força motriz, atravessando as décadas, manipulando narrativas e decidindo os rumos da história, seja pela força, pelo discurso ou pela mentira.

Quase um século depois, os ecos desse período permanecem aterradoramente vivos. As ferramentas mudaram, mas o jogo é o mesmo. Hoje, a mentira não precisa mais de panfletos ou estações de rádio. Ela viraliza em segundos, sob a forma de memes, vídeos editados e manchetes fabricadas. As redes sociais se converteram no novo campo de batalha, onde a verdade se vê dilacerada pela lógica do engajamento e do lucro. A desinformação — essa filha bastarda do totalitarismo — alastra-se como pandemia, corroendo instituições democráticas por dentro, silenciando o debate e legitimando a barbárie sob novas roupagens.

Não se trata de um passado enterrado — é um presente em gestação. O século XX não passou; ele sussurra nas entrelinhas das redes, nas brechas institucionais, nos discursos inflamados que naturalizam o ódio. A história, quando esquecida, se repete. E, se hoje não a confrontarmos com coragem, talvez o amanhã não nos ofereça sequer a chance de escrever de novo. A verdade continua ali, inerte, aguardando que alguém a convoque — não como lamento tardio, mas como ato de resistência.

 

Luciano Martins é Advogado, Assessor Parlamentar, Mestrando em Educação pela Universidade Federal do Estado de Mato Grosso do Sul, Vice-Presidente da União Brasileira de Apoio aos Municípios – UBAM, no Estado de Mato Grosso do Sul. Possui uma sólida trajetória em cargos estratégicos, tendo ocupado posições como Procurador Municipal de Bandeirantes/MS, Controlador-Adjunto, Secretário Adjunto de Governo e Diretor-Presidente da Fundação Social do Trabalho de Campo Grande/MS.

Por Ultima Hora em 15/04/2025

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