A uma semana das urnas: cenários para Niterói e as principais capitais no segundo turno

A uma semana das urnas: cenários para Niterói e as principais capitais no segundo turno

Amigos leitores, antes de mais nada, quero agradecer a cada um de vocês que dedica alguns minutos para acompanhar esta coluna. Nesta semana, alcançamos a terceira posição em número de leitores do jornal, o que nos dá ainda mais ânimo para continuar este diálogo semanal.

Agora, vamos ao que importa: estamos no último fim de semana antes do segundo turno das eleições, e os cenários começam a se definir. Em várias capitais e em Niterói, minha querida cidade, o segundo turno será um teste decisivo. Não se trata apenas de medir a força dos candidatos, mas também de observar como as estratégias políticas das últimas eleições continuam moldando o jogo eleitoral. A polarização nacional segue presente, mas menos intensa, com o surgimento de novas lideranças regionais mais moderadas.

Os resultados em Niterói e nas principais capitais revelarão mais do que vencedores e vencidos. Eles indicarão quem será capaz de sobreviver a este novo ciclo político, marcado por recomposição e adaptação. A política local mostra que, apesar da centralidade da polarização nacional, o Brasil continua sendo uma colcha de retalhos de interesses e dinâmicas regionais.

Vamos então explorar o que pode estar em jogo nessas cidades-chave e quais tendências podemos esperar para o próximo domingo.

Niterói: Rodrigo Neves lidera a disputa

Em Niterói, o ex-prefeito Rodrigo Neves surge como o franco favorito. Com uma administração bem avaliada nos seus mandatos anteriores, ele conseguiu consolidar uma base sólida de apoio, especialmente entre eleitores progressistas e nas classes populares. Neves aposta em seu histórico de gestão e na continuidade de políticas que priorizam a saúde, mobilidade urbana e a segurança pública.

Segundo as pesquisas mais recentes, ele lidera com cerca de 60% das intenções de voto, contra 40% de seu adversário. A possível vitória de Neves consolida sua abordagem técnica e pragmática, afastando Niterói das polarizações nacionais. Sua campanha é um exemplo de como a política local pode prevalecer sobre a influência nacional, ao evitar associações diretas com Lula ou Bolsonaro. A sua eventual vitória, é a reafirmação da importância de um projeto mais focado na gestão eficiente.

São Paulo: Ricardo Nunes lidera, mas Boulos mantém a disputa viva

Na capital paulista, Ricardo Nunes (MDB) lidera as pesquisas, variando entre 52,8% e 55% das intenções de voto, dependendo do instituto, enquanto Guilherme Boulos (PSOL) aparece entre 33% e 39%. Nunes conseguiu atrair parte do eleitorado de Pablo Marçal, que teve um desempenho expressivo no primeiro turno. Para Boulos, o desafio é conquistar esses eleitores e os indecisos, mas ampliar alianças além do campo progressista será essencial. Embora Nunes tenha apoio de Bolsonaro, ele busca se distanciar um pouco do ex-presidente com o objetivo de tentar atrair o eleitorado moderado. Essa eleição será fundamental para medir o fôlego do bolsonarismo na maior cidade do país.

Belo Horizonte: uma disputa acirrada entre Fuad Noman e Bruno Engler

Em Belo Horizonte, a corrida é apertada. Fuad Noman (PSD) agora lidera em algumas pesquisas com cerca de 48% das intenções de voto, após estar atrás no primeiro turno, enquanto Bruno Engler (PL) se mantém forte com aproximadamente 41%. No entanto, o cenário também apresenta empate técnico, com variações entre os institutos. Noman recebeu apoio de partidos de esquerda e tenta se posicionar como defensor da democracia, enquanto Engler se beneficia do apoio consolidado da direita. A alta taxa de eleitores indecisos (cerca de 4%) será decisiva nesta última semana.

Porto Alegre e Curitiba: embates estratégicos e hegemonia da direita

Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo (MDB) lidera com 57% das intenções de voto, contra 34% de Maria do Rosário (PT) . A candidatura de Rosário é especialmente significativa porque Porto Alegre é a única capital da região Sul onde o PT mantém alguma força eleitoral relevante. Essa força é reflexo do histórico de administrações petistas na cidade e da tradição de mobilização social, mas a tarefa de superar Melo será árdua. Melo aposta em uma campanha de continuidade, valorizando uma gestão pragmática e eficiente, enquanto Rosário busca mobilizar jovens e eleitores das periferias para diminuir a diferença. Uma derrota aqui reforçaria as dificuldades do PT em se reposicionar no Sul, região onde o conservadorismo e a direita predominam.

Em Curitiba, a disputa se dá entre dois candidatos de direita. Eduardo Pimentel (PSD) lidera com 49% das intenções, enquanto Cristina Graeml (PMB) aparece com 45%, configurando um empate técnico dentro da margem de erro Pimentel representa a continuidade administrativa da gestão de Rafael Greca e tenta atrair o voto moderado, enquanto Graeml, com o apoio de Jair Bolsonaro, aposta no eleitorado mais conservador e ideológico. A disputa exemplifica a hegemonia da direita na capital paranaense, onde a esquerda não tem espaço significativo.

Porto Alegre e Curitiba são, assim, espelhos das dinâmicas políticas que moldam o Sul do Brasil: enquanto Curitiba reforça a hegemonia da direita, Porto Alegre ainda mantém o PT como alguma força, mesmo com dificuldades para reverter a liderança do MDB.

Fortaleza: duelo entre PL e PT e as ambiguidades do PDT

Fortaleza apresenta um dos cenários mais imprevisíveis. André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) estão praticamente empatados. As últimas pesquisas mostram Fernandes com cerca de 45% das intenções e Leitão logo atrás, com 44%, conforme o Datafolha. Outros levantamentos indicam um empate técnico, com ambos os candidatos alternando pequenas vantagens. A capital cearense reflete a intensa polarização nacional, e as campanhas estão focadas em atrair os indecisos e garantir uma base firme de votos na reta final.

No segundo turno em Fortaleza, a posição do PDT, representado pelo prefeito atual José Sarto, é de grande relevância e, ao mesmo tempo, ambígua. O partido, que ficou fora da disputa após o primeiro turno, tornou-se um alvo de ambas as campanhas. Com Sarto obtendo cerca de 164 mil votos, o apoio dele é visto como decisivo tanto para Evandro Leitão (PT) quanto para André Fernandes (PL).

Embora o PDT não tenha declarado formalmente um apoio consistente, várias lideranças locais têm se mostrado receptivas ao diálogo com ambos os candidatos. Essa postura revela uma estratégia pragmática, possivelmente buscando preservar espaços de influência independente do vencedor. Fernandes, por exemplo, mencionou que aceita qualquer apoio que venha, mas rejeita acordos explícitos por cargos, uma tentativa de sinalizar autonomia e rejeitar as práticas políticas tradicionais

A dubiedade do PDT nesta fase final reflete também a dificuldade do partido em se posicionar claramente num contexto de polarização intensa, ao mesmo tempo em que procura manter relevância para futuras disputas regionais e nacionais. Essa movimentação pode ter implicações importantes na dinâmica política local e no alinhamento de forças para 2026.

Ciro Gomes assumiu uma posição ambígua no segundo turno das eleições em Fortaleza. Enquanto o presidente do PDT, Carlos Lupi, declarou apoio explícito a Evandro Leitão (PT), Ciro optou pela neutralidade oficial. Nos bastidores, porém, há relatos de que Ciro estaria colaborando para fortalecer André Fernandes (PL), com o objetivo de impedir a vitória do PT na capital cearense. Essa divisão interna no PDT reflete a complexa relação entre Ciro e o PT, além de aprofundar o racha dentro da legenda regionalmente e nacionalmente.

Não detalhamos as demais capitais, para não alongar demais o artigo, que convenhamos já está bem mais longo que o tradicional, focando nas cidades com maior relevância política ou que possuem cenários mais emblemáticos nesta eleição. São Paulo, Fortaleza, Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba foram escolhidas por concentrarem disputas acirradas ou por envolverem dinâmicas políticas com impacto regional e nacional mais evidente.

Nas outras dez capitais com segundo turno — Aracaju, Belém, Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, João Pessoa, Manaus, Natal, Palmas e Porto Velho —, embora cada uma tenha sua relevância local, as tendências eleitorais seguem padrões mais previsíveis ou têm menor repercussão no cenário político nacional neste momento. Essas cidades também refletem, em muitos casos, a polarização tradicional ou disputas regionais menos conectadas às dinâmicas nacionais que estamos analisando neste contexto

Fragmentação e incerteza na reta final

A reta final desta eleição evidencia um Brasil cada vez mais fragmentado e menos dependente das polarizações tradicionais entre esquerda e direita. As campanhas se intensificam na busca por cada voto, cientes de que o resultado pode redefinir alianças e dinâmicas políticas para 2026.

Seja como for, as eleições de 2024 mostram um cenário de fragmentação e de desgaste das velhas polarizações, sugerindo que o país caminha para uma nova fase de recomposição política. No próximo dia 27 de outubro, acompanharemos de perto como os eleitores responderão a esses novos desafios e o que o resultado das urnas pode indicar para 2026.

Filinto Branco - colunista Político.

 

 

Por Ultima Hora em 19/10/2024
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