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*Por Marcelo Conde
Há pouco mais de um ano, escrevi um artigo alertando sobre a necessidade de uma política para o setor aéreo, vital para nosso país, que sofre com a rede precária de rodovias, com a inexistência de rede ferroviária e que tem no transporte aéreo um dos principais modais.
Diante do elevado endividamento de Azul, Gol e Latam, torna-se mais complexo ampliar a frota, a oferta de voos e de assentos.
Cria-se, então, um círculo vicioso difícil de equacionar: poucos aviões, poucos voos, poucos passageiros, maiores custos nas passagens e aeroportos subutilizados.
Um movimento inicial de ordenamento foi feito pelo governo no ano passado, com a extensão do prazo e o reequilíbrio das concessões dos aeroportos, também reordenando os equipamentos da cidade do Rio de Janeiro, fortalecendo o RIOgaleão.
Agora, o BNDES está criando linhas de financiamento para a aquisição de aviões fabricados pela Embraer, empresa brasileira — criada há 55 anos como estatal e hoje privada — que é orgulho e unanimidade nacional.
A empresa já produziu 8 mil aviões e hoje é uma importante fabricante de jatos comerciais da Série E, com versões de 90 a 144 passageiros, com mais de 1.800 jatos entregues, operando em 60 países e em mais de 90 companhias aéreas.
Esses aviões, fortes itens de exportação brasileira, só correspondem a 12% da frota de jatos comerciais no Brasil.
A medida anunciada pelo BNDES é oportuna, mas deve ter escala, agilidade e visar ao financiamento de pelo menos cem aeronaves em curto prazo, impulsionando um aumento de 20% na frota atual brasileira.
Assim, chegaríamos próximos aos números da frota em 2012, quando tínhamos 500 jatos. Uma ampliação das linhas de produção da Embraer também será necessária, o que beneficiará a criação de empregos e renda num setor de elevada capacitação.
Quanto aos aeroportos, temos uma excelente malha, mais de 2.700 de todo tipo, ocupando o segundo lugar no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.
Temos dezenas de cidades importantes economicamente, e muitas turísticas, que estão desassistidas, e o resultado é o turismo atrofiado por absoluta falta de transporte aéreo adequado.
Ao estimular esse mercado, levaremos emprego e renda para muitas localidades. Teremos também ganho com o aumento da carga aérea nos porões dos aviões, dinamizando o escoamento de mercadorias e de produtos manufaturados para o mercado interno e externo.
Temos de recordar que o desmantelamento de Varig, Transbrasil, Vasp e, mais recentemente, Avianca resultou na perda de pilotos, de aviões, de logística e da capacidade de mobilização rápida do setor. Portanto é vital preservar Latam, Azul e Gol.
Temos agora a reforma tributária, em que o setor aéreo, pela importância e complexidade, necessita de um estímulo por meio de menor taxação, inclusive para o querosene de aviação.
É fundamental acreditar na nossa capacidade e ver que os recursos já estão aqui.
Contamos com uma rede ampla de aeroportos e com a Embraer, mostrando ao mundo que sabemos fazer excelentes aviões.
Precisamos de uma frota bem maior para que possamos dobrar o número de passageiros nos próximos cinco anos, fazendo com que, em vez de 90 milhões, tenhamos 215 milhões, relação de 1 voo anual per capita, no lugar do baixíssimo 0,4 voo per capita por ano.
UAs medidas para fortalecimento do setor como essa — permitindo maior oferta de voos e mais destinos atendidos — são condição básica para a implementação do plano robusto de desenvolvimento do turismo de que o Brasil tanto necessita.
E com imenso potencial para triplicar o número de turistas que recebemos anualmente (6 milhões), criando emprego e renda para milhões de brasileiros.
Marcelo Conde é empresário
Publicado no O Globo
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