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DA REDAÇÃO - Um fim de mandato melancólico para Paulo Skaf, presidente da Fiesp, que unilateralmente adiou a publicação de um amplo manifesto sobre a crise política provocada pelo presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro, previsto para esta terça-feira e gerou bastante incômodo entre empresários e industriais.
A atitude não foi oficialmente comunicada aos cerca de 200 signatários do documento. Eles ficaram sabendo do recuo pela imprensa, o que gerou mal estar no setor privado.
Um dos articuladores do golpe de Estado que destituiu a presidenta Dilma Rousseff da presidência, Skaf, que sempre se mostrou próximo ao bolsonarismo e deixa o comando da maior entidade industrial do país em quatro meses, foi um dos organizadores do manifesto e trabalhou colhendo assinaturas para o documento, intitulado “A Praça é dos Três Poderes”. Detalhe, Skaf não é dono de nenhuma indústria.
A decisão de adiar a publicação do documento partiu exclusivamente de Skaf. O recuo teria ocorrido após conversa do presidente da Fiesp com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e em meio à pressão do governo federal, por meio dos bancos públicos BB e Caixa Econômica Federal, sobre a Febraban, uma das entidades que articulou o documento.
O dirigente de uma grande entidade setorial afirmou que a reação do governo Bolsonaro de tomar o manifesto como uma afronta contrasta com o teor “água com açúcar” do documento.
Segundo esse mesmo dirigente, o ato de Skaf foi visto como um golpe contra a veiculação do documento que pode desidratar outras manifestações de grandes empresários e associações setoriais que já estavam em articulação para depois do 7 de setembro.
A avaliação é de que não faz sentido agora publicar um texto de um único segmento ou mesmo mais amplo com menos assinaturas do que o que vinha sendo gestado até domingo.
Outro presidente de associação industrial afirma que os signatários foram informados de que o manifesto seria publicado antes do 7 de setembro, data para a qual estão previstas manifestações bolsonaristas, e que publicá-lo depois não faria sentido. Segundo esse mesmo dirigente, uma mudança de data implicaria perda de assinaturas.
Leia na íntegra a versão do documento que circulava entre os empresários no início da tarde desta segunda-feira:
A PRAÇA É DOS TRÊS PODERES
A praça dos três poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos poderes.
Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles.
Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição nos impõe.
As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população.
Mais do que nunca, o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da Nação brasileira. (Do Jornal O Globo)
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