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A adesão aos BRICS levanta questões sobre o enfraquecimento de organizações como a ONU, semelhante ao impacto que esta teve sobre a Liga das Nações. Mesmo com previsões de crescimento moderado para 2024, os BRICS continuam a exibir uma média de expansão de 3,6%, em contraste com o 1% dos países do G7. Embora o PIB do G7 supere o dos BRICS em US$ 15 trilhões, a trajetória de crescimento dos BRICS sugere a possibilidade de os ultrapassarem economicamente nas próximas duas décadas. Há previsões de que eles serão responsáveis por aproximadamente 30% do PIB mundial até o final desta década.
Os BRICS emergem como uma nova versão dos países não alinhados, mas com características distintas. Diferente do antigo Movimento dos Países Não Alinhados, que se focava na neutralidade em um mundo dividido durante a Guerra Fria, os BRICS se concentram em reformular instituições globais e reequilibrar a distribuição de poder, sem uma postura de neutralidade. Eles promovem uma ordem multipolar e desafiam a hegemonia ocidental, especialmente em instituições como o FMI e o Banco Mundial, propondo alternativas que ampliem suas influências globais.
A liderança do presidente Lula, entretanto, chamou atenção ao barrar a entrada da Venezuela nos BRICS, usando a “regra do consenso” como justificativa. O Brasil, apesar do apoio da China, Rússia e Irã à adesão venezuelana, defendeu que todas as decisões do bloco devem ser tomadas em conjunto, o que culminou na exclusão do país sul-americano. Da América Latina, apenas Cuba e Bolívia foram aceitos. Celso Amorim, assessor de Lula, declarou que a posição do Brasil “não é um julgamento moral ou político”. Isso gerou debates sobre a postura do governo brasileiro e seu alinhamento com os interesses de Washington.
A oposição à entrada da Venezuela nos BRICS por parte do Brasil levanta questionamentos entre críticos, que afirmam que o governo Lula segue uma agenda ditada pelos EUA. Thomas Shannon, ex-subsecretário de Estado americano, em uma declaração anterior, previu que Lula seria uma ponte entre a velha e a nova esquerda latino-americana, um papel crucial para redefinir o futuro político da região. De fato, a posição do Brasil vem sendo vista como uma estratégia diplomática para equilibrar as relações globais, sem romper com os interesses de potências ocidentais, ao mesmo tempo que sustenta sua influência na América Latina.
A política externa de Lula, neste contexto, parece se afastar da postura radical antiocidental de outros líderes latino-americanos, como Nicolás Maduro. A medida gerou reações mistas. Alguns observadores enxergam o bloqueio como um reflexo do pragmatismo diplomático brasileiro, enquanto outros consideram uma traição aos princípios de solidariedade regional. Contudo, o consenso é que o Brasil busca manter sua relevância no cenário global, reforçando sua posição como um player crucial em negociações multilaterais.
Lula tem enfrentado críticas por sua abordagem nas negociações internas do grupo, faltando a maturidade esperada em contextos diplomáticos complexos.
O grupo mantém uma agenda clara de desenvolvimento, comércio e cooperação financeira, exemplificada pela criação do Novo Banco de Desenvolvimento. Assim como os não alinhados, os BRICS representam a busca por maior autonomia e um protagonismo mais acentuado para os países em desenvolvimento na arena global.
Durante a cúpula dos BRICS em 2024, Vladimir Putin enfatizou a crescente relevância do grupo como líder de uma mudança global rumo ao multipolarismo, destacando que mais de 30 países manifestaram interesse em aderir ao bloco. Xi Jinping, por sua vez, destacou o papel crucial dos BRICS em meio às tensões geopolíticas atuais, enquanto Índia e China deram passos significativos em suas relações ao firmar um acordo histórico para resolver disputas fronteiriças.
A participação do Brasil nos BRICS deveria ser uma via para fortalecer sua política externa e alavancar o desenvolvimento econômico, mas a atuação recente do país revela incertezas estratégicas. O bloqueio à entrada da Venezuela, ainda que justificado sob a “regra de consenso”, reforça uma imagem de submissão aos interesses ocidentais, especialmente dos EUA. O governo de Lula, que prometia resgatar a liderança regional e global, agora parece oscilar entre pressões internas e externas, deixando em segundo plano a verdadeira projeção de poder e relevância no cenário internacional.
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