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Queridos amigos,
Hoje, escrevo a vocês não como professor de Direito, mas como um brasileiro que, entre conversas, comidas e bebidas, sempre compartilhou preocupações sobre o mundo que estamos construindo. E hoje, mais do que nunca, penso no Papa Francisco — argentino de raízes, mas humano acima de tudo — que enfrenta desafios de saúde enquanto o planeta enfrenta desafios ainda maiores.
Sabem, amigos, há algo que sempre admirei em Francisco: ele não nos fala de religião, mas daquilo que nos torna humanos. Enquanto a Argentina, sua terra natal, atravessa tempos difíceis — onde a motosserra virou símbolo não apenas de cortes em florestas, mas também de direitos e sonhos —, ele nos lembra que a ganância disfarçada de "pragmatismo" tem o mesmo rosto em qualquer parte do mundo. Seja no Brasil, onde a desigualdade corta vidas como uma lâmina invisível, ou na Argentina, onde promessas de progresso escondem o peso do autoritarismo, sua voz é um alerta contra a desumanização.
E o que me inquieta, amigos, é que, quando leio a Laudato Si’, não vejo um texto religioso, mas um espelho do que vivemos. Na Amazônia, onde povos indígenas resistem ao avanço do agronegócio, ou nas periferias de São Paulo, onde jovens são tratados como estatísticas descartáveis, Francisco nos mostra que não se trata apenas de fé, mas de sobrevivência. Ele não fala em dogmas, mas no direito básico de respirar um ar que não envenene, de beber uma água que não seja mercadoria, de viver sem medo do amanhã. Porque ele conhece a América Latina não pelas manchetes, mas pela carne e pelo suor de seu povo.
Vocês lembram quantas vezes falamos sobre como as Big Techs e os novos colonialismos digitais nos transformam em produtos? Francisco, de forma simples e certeira, já respondeu: "Nenhuma tecnologia substituirá o abraço". E enquanto a Argentina caminha sob a sombra de uma motosserra que dilacera laços sociais, e o Brasil ainda clama por justiça em meio à corrupção e à violência, ele insiste em algo essencial: a política deve servir ao povo, não ao poder.
Não sou religioso, como vocês sabem, mas aprendi com ele que esperança é verbo. Quando Francisco apoia migrantes, denuncia a especulação financeira ou desafia os donos das motosserras — sejam elas de aço ou de discursos vazios —, ele age como um de nós: alguém que não aceita que o "progresso" seja desculpa para devastar vidas.
Por isso, desejo-lhe uma rápida recuperação. Não por devoção, mas porque o mundo precisa de sua teimosia em acreditar que ainda há saída para a barbárie. E nós, brasileiros, precisamos lembrar que, mesmo em tempos de cinismo, há argentinos — como ele — que nos ensinam que a luta pela dignidade não tem fronteiras.
Com um abraço apertado,
Jorge Tardin
Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2025.
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