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Marcos Pereira, presidente do Republicanos, diz que será muito difícil partido apoiar Lula em 2026
Deputado defende reeleição de Tarcísio a governador, reafirma ser conservador, e é contra a taxação dos super-ricos
22 de dezembro de 2024 – 08:21
O presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP), afirmou que considera “muito difícil” que o partido apoie a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026. A declaração foi feita em entrevista ao jornal Estadão. Atualmente, a sigla comanda o Ministério de Portos e Aeroportos no governo federal.
Pereira também comentou sobre a possibilidade de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), lançar candidatura à Presidência. Ele classificou a ideia como inviável, principalmente devido à incerteza quanto aos planos políticos de Jair Bolsonaro (PL).
O deputado federal, no entanto, não descartou dialogar com o governo Lula sobre ampliar o espaço do partido em uma possível reforma ministerial. Apesar disso, enfatizou a necessidade de unir forças no campo da centro-direita para as próximas eleições. Segundo ele, se esse grupo chegar dividido em 2026, as chances de reeleição de Lula serão “ainda maiores”.
Veja os principais pontos da entrevista:
Se o Republicanos não lançar o governador Tarcísio de Freitas à Presidência em 2026, existe a possibilidade de o partido apoiar o presidente Lula já no primeiro turno?
O Tarcísio é candidato à reeleição. É o nosso sentimento e é o que a gente tem conversado. Não dá para ele sair candidato a presidente numa incerteza de que Bolsonaro vai se lançar também ou não. Bolsonaro toda hora diz que ele é o plano A, B e C. Como é que Tarcísio renuncia ao governo de São Paulo em abril e fica esperando Bolsonaro colocá-lo como plano D, já que ele mesmo é o plano A, B e C? Nesse contexto, eu acho que o Tarcísio é candidato à reeleição.
O Republicanos vai discutir em 2026 o que vai fazer. Eu não posso dizer agora se há possibilidade de apoiar A, B ou C, porque a decisão não é minha, pessoal, é uma decisão coletiva, discutida com a bancada, com os presidentes estaduais e deliberada em convenção do partido. Agora, é óbvio que, quando você olha para o raio X do partido, bem pouca gente sinaliza intenção de apoio à esquerda. O partido é de centro-direita. A ala de quem tem simpatia pelo presidente Lula é uma ala minoritária.
Nesse sentido, teria dificuldade de apoiar o Lula em 2026?
Eu penso que sim. Mas, como eu falei, o debate será feito em 2026. Mas conhecendo as pessoas que participarão do debate, como eu conheço, é óbvio que será muito difícil.
Mas há uma pressão do meio político, e até do meio empresarial, para Tarcísio ser candidato a presidente.
Pode haver a pressão que houver, mas ele não pode largar o governo, renunciar ao governo que foi eleito. Como é que o paulista vai olhar para isso? E ficar esperando Bolsonaro se registrar para depois ir contra Bolsonaro, eu entendo que ele não vai.
O senhor vai defender que ele vá para a reeleição mesmo?
Sim.
O cenário muda para Tarcísio caso Bolsonaro esteja preso?
Eu acho que não, porque o Lula registrou a candidatura dele preso e depois substituiu pelo (Fernando) Haddad. Tem que saber muito o que o Bolsonaro vai pensar e o que ele vai querer fazer. E se ele decidir, mesmo preso, registrar a candidatura? O que você vai fazer? Eu acho que a centro-direita precisa estar unida. Se estiver dividida, é mais fácil ainda para o Lula ganhar a reeleição.
Como o senhor avalia essa possível estratégia do ex-presidente Bolsonaro de levar a candidatura até o último momento possível?
É uma estratégia, a meu ver, de sobrevivência. Ele está fazendo isso para manter o (seu) nome (em evidência) e os seus seguidores, vamos dizer assim, animados e esperançosos. E dele, pessoalmente, é uma questão de sobrevivência. É lutar até o fim.
E para o campo conservador?
Para o campo, eu acho que é ruim, porque seria interessante ter a união desse campo. Seria bom que todos estivessem unidos, não só os partidos, mas também os pré-candidatos afunilassem para um nome, seja o do Tarcísio, que eu acho que não é, do Caiado, do Ratinho ou outro nome.
O senhor acredita que Eduardo Bolsonaro teria o apoio de partidos como o Republicanos e outros de direita e centro-direita, ou enfrentaria dificuldades para se viabilizar candidato a presidente no lugar do pai?
Eu acho que ele vai ter mais dificuldade. Uma coisa é o Bolsonaro, outra coisa é o Eduardo. Acho que, por exemplo, o Caiado não abriria mão (da candidatura a presidente) para apoiá-lo. Acho que o Caiado apoiaria um Tarcísio, talvez um outro nome, mas o Eduardo eu não vejo, até pelas brigas que eles tiveram. Acho que a gente tem que ter maturidade. E o próprio Bolsonaro deverá ter, a meu ver, lá na frente, maturidade para ver uma coisa mais ampla em prol do projeto não pessoal, mas do projeto de país e desse campo político.
Kassab tem se colocado como um possível candidato a vice na chapa de Tarcísio, caso o governador opte pela reeleição. O senhor já afirmou, em outras entrevistas, que sempre olhará para Kassab lembrando que ele o impediu de presidir a Câmara. O senhor pretende vetar o nome dele como vice?
A escolha do vice é uma escolha, a meu ver, que depende de dois fatores. Ela é, num primeiro momento, mais pessoal; tem que dar conforto ao próprio candidato. Em segundo lugar, envolve o diálogo com os demais partidos. Na eleição passada, Tarcísio só tinha quatro partidos: o Republicanos, o PL, o PSD – que veio depois e pediu a vaga de vice – e o PSC. Para a reeleição de 2026, há uma sinalização de que ele terá outros partidos, como o MDB, até pelo apoio ostensivo ao Ricardo Nunes; o PP, que não estava com ele, estava com o Rodrigo Garcia, assim como o União Brasil.
Haverá quatro vagas em disputa nessa majoritária: a do próprio governador – que, pelo que disse, ficará no Republicanos –, garantindo essa vaga ao partido; a de vice; e duas vagas para o Senado. Como há mais partidos do que vagas, vai ser um debate que terá de ser feito e construído. É legítimo o Kassab colocar esse pleito. Eu não vou vetar, obviamente não tenho por que vetar. Mas não é uma decisão minha também. É uma decisão que passa primeiramente pelo governador e depois pelos partidos.
Independentemente de ser uma decisão do governador e de precisar ser negociada com os demais partidos, o senhor acredita que o Kassab seria a melhor escolha para a vaga?
Eu acho que ele vai ter veto do PL. Eu ouvi, recentemente, o Valdemar (Costa Neto, presidente do PL) falando abertamente na imprensa que ele vetaria (o Kassab). E do próprio Bolsonaro também, que já disse abertamente que vetaria. Ele precisa superar esses dois problemas para poder ser o nome.
Do senhor, então, não vai ter veto?
De mim, não. Imagina. Eu não faço política com mágoa, não. Claro que toda vez que eu olho para ele eu lembro que ele não quis me apoiar e, com isso, eu não consegui ser o candidato a presidente da Câmara por consenso. Mas não tenho mágoa.
O senhor acha que ele seria um bom nome para vice?
Ele é uma pessoa experiente, que conhece bem a máquina, conhece bem São Paulo, que foi vice-prefeito e depois prefeito. É uma pessoa que eu entendo que tem ajudado o governador. O governador que vai avaliar qual é o melhor perfil para ser vice ou não. Até porque eu acho que a dupla que está, está dando certo. Por que não reeditar a dupla Tarcísio e Felício (Ramuth)? E aí o PSD já estaria contemplado.
Tarcísio tem sido alvo de investidas do PL para uma possível filiação, com algumas idas e vindas nesse assunto. O senhor teme perder o governador para o PL?
Não temo, não. Confio na palavra dele e ele tem dito para a gente e para outras pessoas que ele fica.
Tem alguma estratégia para garantir a permanência dele?
Quando ele era ministro, Bolsonaro disse que queria ele no PL, e ele acabou não indo, veio para o Republicanos. Por que agora que ele já tem um mandato, mais independência para decidir o seu futuro, ele iria para o PL? A estratégia é continuar agindo como a gente age: sendo correto com ele e ajudando ele todas as vezes que ele demanda, que ele precisa e que ele pede.
Há expectativa de uma reforma ministerial no próximo ano. O Republicanos considera ampliar presença no governo?
Nós não fomos chamados ainda para dialogar sobre o assunto. Por enquanto, tudo o que eu tenho ouvido é pura especulação. A informação que eu tenho, pela conversa com outros partidos, é que também não foram chamados. Prefiro não ficar no campo da especulação. Vamos aguardar para ver como vai ser.
Mas estaria aberto a um diálogo sobre ampliar presença no governo?
A gente sempre está aberto ao diálogo, né? O Republicanos é um partido de diálogo. De centro e de diálogo.
Na sua opinião, por que o presidente Lula não tem conseguido melhorar a aprovação de seu governo?
A avaliação do governo até que saiu boa (na última pesquisa Quaest). Principalmente, na projeção de intenção de votos para 2026. Ele venceria todos os concorrentes. Lula, sendo candidato em 2026 – porque ele pode optar por não ser –, a priori, ao avaliar pela situação de hoje, é favorito.
Hugo Motta deve ser eleito presidente da Câmara com votos expressivos da Casa. O que podemos esperar da relação da Câmara com o governo nessa nova gestão? Ele será um aliado do governo ou vai ter uma postura mais independente?
Todo presidente da Câmara tem que ter postura independente, porque a Constituição determina isso, que haja harmonia e independência entre os Poderes. Eu acho que ele vai ser uma presidência mais harmoniosa do que é o estilo do Arthur (Lira) – é o perfil dele, não estou falando mal nem bem, estou registrando apenas que o perfil dele é diferente. Agora, o próprio Arlindo Chinaglia (do PT), quando foi presidente da Câmara e o governo era o Lula, teve momentos que ele contrariou o interesse do governo para defender o interesse da Câmara. O presidente da Câmara tem que defender o interesse do Brasil e da Câmara. E, se precisar, nesse contexto, contrariar eventuais interesses do governo, terá que fazê-lo. Por outro lado, não vai ser um inimigo também do governo. Vai ser um parceiro, mas obviamente guardado nas independências que a Constituição e o cargo requerem.
O fato de Motta ter sido referendado pelo governo implica, necessariamente, na possibilidade de o partido se alinhar mais a Lula?
Nós já apoiamos todos os projetos que vêm de governabilidade, tirando as pautas de costume. Quando o Silvinho (Costa Filho) foi para o governo, eu já havia dito a ele que existem pautas de costumes e econômicas que nós não podemos apoiar. As que têm vindo, nós temos apoiado. Agora, eventualmente, uma ou outra a gente não apoiou porque não vai ao encontro daquilo que defendemos. O que for ao encontro daquilo que defendemos, por exemplo, o corte de gastos, nós apoiamos, nós vamos apoiar. Porque apoiamos a PEC do teto de gastos com o Michel Temer.
Defendemos um ajuste fiscal, mais rigor e equilíbrio nas contas públicas. Agora, eventualmente, no que se refere à taxação de super-ricos para compensar o imposto de renda, eu, pessoalmente, sou contrário. Taxação de dividendos eu sou contrário. Estou falando eu, pessoalmente. O partido vai debater. A cada pauta polêmica ou a cada pauta mais relevante que vai para plenário, é feita uma reunião com a liderança e com a bancada e é debatido. Vai continuar sendo assim, debatido pauta a pauta, internamente, para ver o que é possível apoiar e o que não é possível.
Do ponto de vista da relação com o governo, como o senhor avalia que Hugo Motta pode se diferenciar de Lira?
Eu acho que ele vai ter mais diálogo. Eu acho que esse problema que o Arthur (Lira) tem abertamente declarado com o (Alexandre) Padilha, por exemplo, que é a articulação política do governo, logo de cara já vai ser resolvido, porque o Hugo Motta se dá bem com o Padilha, se dá bem com todos, ele é de diálogo com todos.
O partido espera uma atuação dele em relação às pautas conservadoras? Afinal, o Republicanos se define como um partido conservador em seu estatuto.
Importante dizer que é conservador, mas não é radical. Esse projeto do aborto, que tira o que já existe hoje, eu, pessoalmente, sou contra. Não faz sentido, é um retrocesso. Como é que você vai obrigar uma mulher que foi estuprada a manter um feto? Está na lei que é permitido. Ou em caso de risco de vida da gestante também, ou em caso de feto anencéfalo…
Então, primeiro, é importante dizer que a gente, sim, é conservador, se diz conservador no estatuto, mas sem radicalismo. Com bom senso. E, nesse contexto, o que ele (Hugo Motta) tem dito é que não vai se envolver com essas pautas. Vai, na medida possível, não trabalhar essas pautas, porque não é o perfil dele. O que o povo, no final do dia, quer mesmo é melhoria na qualidade de vida, emprego, renda, educação, segurança, saúde. E eu acho que são essas pautas que têm que ser priorizadas.
O senhor tem alguma outra pretensão política? Houve um tempo em que se especulava sobre a possibilidade de o senhor se tornar ministro do Supremo. Essa é uma ambição que o senhor ainda mantém?
Eu estou igual o Zeca Pagodinho, deixa a vida me levar.
Vou entender como um sim…
A minha pretensão é ser candidato a deputado federal, à reeleição em 2026. A pretensão mais próxima e mais presente, vamos dizer assim.
Com informações do Estadão.
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