Conselhos Consultivos: Um gigantesco mercado que se abre no Brasil

*Por Tiago Martins

Conselhos Consultivos: Um gigantesco mercado que se abre no Brasil

Todos sabemos que a pandemia iniciada em 2020 teve impactos significativos não apenas na saúde, mas na economia de forma geral. Porém, por pior que seja o cenário de uma crise, geralmente ela faz com que alguns processos sejam acelerados ou mesmo ocorra a abertura para novos pensamentos dentro das empresas. Foi justamente isso que aconteceu em relação às formações de Conselhos Consultivos no país.

Por mais que o assunto já estivesse presente em algumas rodas de conversas e empresas, a implementação de Conselhos Consultivos não era considerada prioridade ou nem mesmo importante dentro das companhias. Com o declínio provocado pelo Covid-19, registrou-se um aumento de 30% na procura de empresas querendo iniciar a formação de Conselhos, administrativos ou consultivos, segundo matéria publicada na Época Negócios, para que seus sistemas de Governança Corporativa fossem implementados.

Benefícios de Conselhos Consultivos

Muitas são as vantagens de Conselhos Consultivos, e cada empresa os têm de maneira distinta em função de seus processos e segmento de mercado, mas os principais benefícios da implantação são:

1- Criação e/ou melhoria de processos internos;
2- Aplicação das boas práticas de Governança Corporativa;
3- Novas visões de mercado e estratégias para o plano de ação;
4- Maior agilidade e critério na tomada de decisões;
5- Planejamento sucessório estruturado;
6- Melhor planejamento de expansões, fusões e aquisições;
7- Maior rastreabilidade e embasamento em decisões estratégicas;
8- Maior transparência e segurança a investidores;
9- Antecipação e análise de possíveis cenários, ameaças e oportunidades de mercado; e
10- Maior conexão e alinhamento da organização com todas as partes interessadas (acionistas, funcionários, fornecedores, clientes, comunidade, meio ambiente e entidades de governo).

Ou seja, os Conselhos Consultivos têm como principal função controlar, posicionar e direcionar as organizações de qualquer tamanho e segmento, na direção dos melhores resultados possíveis, de acordo com os interesses das chamadas partes interessadas, e oferecendo todo suporte e clareza necessários para que a gestão da organização tenha êxito em suas funções e responsabilidades.

Em uma análise mais relacionada ao papel de um Conselho Consultivo, e do quão ampla e diferenciada pode ser sua atuação, quando comparada as atividades principais de um Conselho de Administração tradicional, comuns em empresas de capital aberto, chama a atenção sua função preventiva diante a iminência de um processo de sucessão familiar.

Apesar de não serem objetos principais de análise e discussão nos Conselhos Consultivos, cabe sim aos conselheiros auxiliarem a família empresária inclusive na sucessão de seus bens familiares e pessoais, antevendo e prevenindo eventuais conflitos e disputas que podem emergir a partir da sucessão dos mesmos. A partir de tais conflitos e disputas, o risco de erosão e inviabilidade de comunicação e convivência entre herdeiros podem provocar impactos significativos no que tange o foco na sucessão da empresa, chegando a comprometer inclusive seus resultados e a sua própria continuidade. Neste cenário, conflitos pessoais tornam-se muitas vezes protagonistas em meio a decisões corporativas, sendo responsáveis pelo seu descolamento dos melhores interesses da organização. Estar atento a esta questão é uma das muitas outras funções e responsabilidades de um conselheiro consultivo, que diferem da atuação de um conselheiro de administração.

Como profissionais podem alavancar suas carreiras por meio de Conselhos Consultivos

Os Conselhos Consultivos são colegiados que contam normalmente com a presença de representantes de cada um dos sócios, mas também de profissionais externos e independentes. A priori e preferencialmente, todos capacitados e com experiência necessária para analisar os cenários, possibilidades e estratégias, para então participar das decisões que se relacionem com a organização e sua atuação no mercado. Empresários, “hunters”, sucessores, empreendedores e investidores estão cada vez mais atentos a esses profissionais, pois começam a ver o quão importantes e estratégicos eles vêm se tornando para as empresas de pequeno e médio porte, empresas familiares e startups.

No entanto, um dos grandes desafios relacionados ao processo de recrutamento e seleção destes profissionais está na identificação de um referencial efetivo e adequado aos desafios e à realidade enfrentada por estes conselheiros. Diversas formações tradicionais em Governança Corporativa existem no mercado, porém, em sua imensa maioria, focadas nas características, premissas, conceitos e no formalismo dos tradicionais Conselhos de Administração de empresas de capital aberto. Neste ponto, muitas vezes tal enfoque se distancia do dinamismo, velocidade e desafios enfrentados por conselheiros em empresas de menor porte e/ou de capital fechado, tais como: apego do fundador; sucessão conflituosa; mistura entre ativos familiares e da empresa; conflitos orçamentários entre prioridades estratégicas e familiares; alta demanda por rápidas decisões; risco iminente de sobreposição entre governança e gestão; e etc.

Soma-se a estas características, um formato que não oferece necessariamente um acompanhamento permanente e atualizado do conselheiro pós-formação inicial, com foco em aspectos que estimulem o chamado lifelong learning, além da comprovação de feitos relevantes alcançados por sua atuação, e que demonstrem a boa aplicação dos conceitos e métodos adquiridos. São os chamados cursos que certificam, diferentes de como um processo dinâmico e “vivo” de certificação de pessoas deve ser.

Ressalta-se ainda que, em um mercado tão dinâmico, veloz, com pouca margem para erros e pouco tempo disponível para decisões estratégicas, como é característica do ambiente de PME's, empresas familiares e startups, a capacidade de manter-se atualizado e acumular experiência real, são diferenciais que não podem ser ignorados no que tange a efetividade esperada destes conselheiros.

Conhecimento e oportunidade para exercer essa função em Conselhos Consultivos é o que não falta. No Brasil, temos entre 100 a 150 mil empresas entre PMEs, startups e empresas familiares que estão ou estarão demandando posições de conselheiros consultivos ao longo dos próximos 10 anos. Como especialista em modelos inovadores de avaliação de conformidade e certificação, tive em 2020 a oportunidade de participar da construção do CONCERTIF®, um programa de certificação de conselheiros consultivos que desde 2020 já certificou mais de 70 executivos e ex-executivos das principais empresas do Brasil.

Por Tiago Martins é Engenheiro de Produção; Pós Graduado em Gestão Financeira, Economia e Gestão da Sustentabilidade; Certificado em Gestão de Riscos pela Universidade de Toronto/Canadá; Conselheiro Consultivo Certificado pela CELINTBRA; especialista em sistemas de gestão, e na construção de modelos inovadores de certificação e de avaliação de conformidade.

Por Gestão, Governança e Empreendedorismo em 22/06/2021
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