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Gabriele Terra nasceu com Síndrome de Down e um grave problema no coração. Com apenas 20% de chance de sobrevivência, passou por uma cirurgia aos seis meses de vida. Hoje, aos 22 anos, estuda, dança, atua, compete na natação e sonha alto: quer representar o Brasil nos Jogos Paralímpicos.
Quando nasceu, em 25 de julho de 2002, em Niterói (RJ), Gabriele Pereira Terra Gomes carregava consigo um diagnóstico que parecia definitivo: Síndrome de Down e uma grave cardiopatia congênita. Os médicos deram à família uma estimativa brutal - apenas 20% de chance de sobrevivência, e isso se ela chegasse até a cirurgia.
Hoje, aos 22 anos, Gabriele não apenas sobreviveu. Ela brilha. Moradora de São Gonçalo, município do estado do Rio de Janeiro, a jovem tem uma rotina agitada e inspiradora, que vai da sala de aula ao palco, da piscina à passarela. Sua história é daquelas que desafiam todas as estatísticas - e emocionam quem a conhece.
Logo após o nascimento, Gabi não conseguia se alimentar no peito da mãe. Era frágil demais. A família se desdobrava em amor e paciência, oferecendo o leite com colherzinha, enquanto viviam um dia de cada vez. Apesar das resistências da equipe médica em liberar a alta, a mãe, Raimunda Nonata Pereira Gomes e seu pai Carlos Roberto Terra Gomes, decidiram cuidar dela em casa - um ato de coragem que, hoje, se mostra fundamental.
Foi por recomendação médica que a família procurou a renomada cardiologista infantil Dra. Rosa Célia, fundadora do projeto Pro Criança Cardíaca. Com olhar firme e palavras cheias de esperança, a médica disse: "Há muito tempo que eu não perco uma criança". E ela estava certa.
Com seis meses, Gabi foi submetida a uma cirurgia delicada no coração - e venceu.
Uma atleta com sonhos olímpicos
Se os primeiros meses de vida foram marcados por fragilidade, hoje Gabriele é sinônimo de força e determinação. Entre suas diversas atividades, a natação ocupa um lugar especial. A menina moleca, não apenas treina: ela compete. Participa de provas e é destaque nos tiros de nado.
Quem chega aos treinos com a professora Mônica Mauá, no tradicional Clube Mauá, em São Gonçalo, logo percebe: "Gabi é puro talento". Recebe apoio não apenas dos familiares, mas também dos próprios colegas de treino, que vibram com sua evolução. Ela não dá colher de chá - ultrapassa até mesmo os veteranos da equipe, com energia e foco que encantam a todos e chama a atenção pela dedicação.
Gabi e Mônica Mauá, professora de natação do Clube Mauá
Desde 2017, Gabi é acompanhada de perto pelo treinador Patrick Carvalho, figura fundamental em sua trajetória como atleta. Atualmente, os treinos também acontecem no CEFAM - Centro de Referência Paralímpico da Marinha - onde ela integra o Projeto Paralímpico da Marinha, com estrutura de alto nível voltada para atletas com deficiência.
Da esquerda para a Direita: Vitor P. Terra Gomes(irmão da Gabi), Raimunda Nonata (mãe), Patrick (treinador) e Carlos Roberto(Pai).
"Vale a pena cada esforço nosso, é muito compensador. Quando você luta, seu filho alcança." Reforçou Nonata
Patrick conta que a história de Gabi nas competições é marcada por destaque e superação:
"Ela sempre foi muito bem. Em todas as competições que participou, conquistou pelo menos uma medalha de ouro. Já representou o estado do Rio de Janeiro como porta-bandeira da delegação. É inteligente, rápida e está cada vez mais focada. O nosso objetivo agora é alcançar o primeiro lugar e garantir uma vaga nas competições internacionais."
Durante anos, Gabi participou das Olimpíadas Escolares do Movimento Paralímpico - a segunda maior competição do mundo voltada para estudantes com deficiência - promovida pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Nessas competições, ela enfrentava uma classificação única para deficientes intelectuais, o que a colocava lado a lado com outros atletas com diversas condições, incluindo Síndrome de Down. Ainda assim, ela sempre se destacou.
Desde o ano passado, ela começou a competir também pela CBDI - Confederação Brasileira de Desportos para Deficientes Intelectuais, que organiza campeonatos específicos para atletas com deficiência intelectual, e principalmente para atletas com Síndrome de Down. Já em sua estreia, a nadadora ficou em 3º lugar entre 30 competidores em uma prova de velocidade, além de levar outras medalhas. Um feito expressivo que a colocou na mira das próximas grandes competições e a motivou a pleitear a Bolsa Atleta, concedida pelo governo federal.
A perspectiva, segundo Patrick, é de crescimento constante. Os tempos de Gabi estão próximos dos líderes do ranking e a vaga internacional é uma possibilidade real. A equipe está atenta a competições abertas e a possíveis convocações - mas, para isso, o apoio é essencial.
Além da natação, Gabriele cursa o Ensino Médio no Centro Educacional Pericar, onde é reconhecida pela sua alegria e participação ativa. A escola, conhecida pelo trabalho de inclusão, homenageou a aluna recentemente em suas redes sociais.
Sua semana é cheia: aulas de teatro, passarela com correção postural, dança (ballet e hip-hop), reforço escolar e até acompanhamento com preparador físico. Cada atividade é parte do seu desenvolvimento, e também do seu protagonismo.
Nos fins de semana, a agenda desacelera: é hora de descansar e celebrar a vida com os amigos, que fazem parte da sua história.
A trajetória de Gabriele é um testemunho vivo do poder da fé, da dedicação familiar e da importância do acesso a serviços de saúde e educação inclusivos. Mais do que uma jovem que venceu uma condição médica severa, ela é uma inspiração - para outras pessoas com deficiência, para famílias que enfrentam diagnósticos difíceis e para todos que acreditam no valor da vida plena.
Com seu sorriso cativante, sua força nos braços e a coragem no peito, Gabi é prova viva de que nenhum prognóstico define o futuro. E que os sonhos - inclusive os olímpicos - são sempre possíveis quando se tem amor de família, apoio dos amigos verdadeiros e persistência de quem acredita em sonhos.
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