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A realização da COP 30 em novembro de 2025, em Belém do Pará, representa um momento crucial para o Brasil e para a agenda ambiental global. Sediar o maior evento internacional sobre mudanças climáticas na região amazônica é, por si só, um gesto simbólico poderoso. No entanto, os desafios concretos vão além da representatividade. Em meio a um cenário internacional marcado pela redução do apoio financeiro de grandes potências, sobretudo dos Estados Unidos, o Brasil se vê diante da responsabilidade de liderar as negociações climáticas sem contar com uma das principais fontes de financiamento e pressão política do sistema multilateral.
A ausência de apoio norte-americano fragiliza acordos coletivos, compromete o equilíbrio das responsabilidades globais e pressiona países em desenvolvimento a fazer mais com menos. Essa lacuna no financiamento climático, agravada por disputas geopolíticas, afeta diretamente a estruturação de políticas públicas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Enquanto isso, a expectativa internacional sobre o Brasil cresce. A região amazônica, epicentro das discussões ambientais, exige não apenas discursos, mas ações reais, sustentadas por planejamento, recursos e governança eficiente.
Belém, embora carregada de significado por sua localização geográfica e histórica, enfrenta sérias limitações de infraestrutura. Os gargalos em saneamento básico, mobilidade urbana, hospedagem e segurança são evidentes. Para acolher autoridades, cientistas, lideranças indígenas e representantes da sociedade civil de todos os continentes, será necessário um esforço coordenado entre os setores público e privado. O risco é que, sem investimentos robustos e soluções práticas, a COP 30 se torne um grande evento diplomático esvaziado de impactos duradouros — o que seria um desperdício diante da urgência da crise climática.
Paralelamente, o Brasil tem a chance de alinhar sua atuação internacional com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e com o Pacto Global das Nações Unidas. A promoção da bioeconomia, o incentivo a tecnologias limpas, o fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis e a inclusão social na Amazônia são caminhos possíveis para construir um legado que vá além da conferência. Contudo, isso exige uma articulação política madura, compromisso institucional e coragem para enfrentar interesses econômicos que tradicionalmente se opõem a transformações estruturais.
A COP 30 ocorre em um momento decisivo. A crise ambiental se soma a uma crise de confiança nas instituições internacionais, e o Brasil, ao receber o mundo em seu território, será testado em sua capacidade de liderar com responsabilidade, eficiência e visão de futuro. A ausência de apoio dos Estados Unidos, longe de ser apenas um obstáculo, é também um alerta: a transição para um modelo de desenvolvimento sustentável depende, cada vez mais, da disposição dos países de agir localmente com coerência, sem esperar soluções externas. Belém pode se tornar símbolo de um novo capítulo ambiental — ou de mais uma promessa não cumprida.
- Dra. Pricila Menin, jornalista, advogada, presidente do Instituto InvestBrasil e secretária executiva da Frente Investe Brasil do Senado Federal em apoio aos investimentos estrangeiros.
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