Da Ameaça de Extinção ao Exemplo Global: A Revolução do Agronegócio dos Haliti-Paresi 'Case de Sucesso'

Etnia indígena de Mato Grosso apresenta case de sucesso na COP-27 e mostra como aliou preservação cultural e desenvolvimento econômico

Povo Haliti-Paresi: Da Beira da Extinção ao Protagonismo na Agricultura Sustentável

Em uma história de superação e resiliência, o povo Haliti-Paresi, que há algumas décadas esteve à beira da extinção, hoje se destaca como um caso exemplar de agricultura indígena sustentável no Brasil. A etnia, que habita uma reserva de 1,3 milhão de hectares em Mato Grosso, levará sua experiência bem-sucedida à COP-30, mostrando ao mundo como é possível conciliar tradição ancestral e desenvolvimento econômico.

Os Haliti-Paresi, que chegaram a contar com apenas 340 indivíduos, hoje somam quase 3.000 pessoas distribuídas em mais de 100 aldeias. Esse crescimento populacional é fruto de um projeto de vida construído pelos caciques e anciões, que buscaram alternativas para garantir a sobrevivência e o fortalecimento de seu povo.

O projeto agrícola, iniciado há mais de duas décadas, surgiu como resposta à alta mortalidade infantil e à desnutrição que assolavam a comunidade. Hoje, a etnia cultiva 15,5 mil hectares, o que representa menos de 2% de seu território. A produção inclui soja convencional, milho, feijão e uma variedade de culturas que garantem segurança alimentar e renda para as famílias.

Arnaldo Zunizakae, presidente de uma das cooperativas indígenas, explica:

"Nosso projeto é inédito e único no Brasil e no mundo. Foi construído por necessidade, não por escolha. Nossos anciões nos disseram que não adiantava ter um território grande se não pudéssemos sobreviver nele."

A iniciativa dos Haliti-Paresi vai além da agricultura. A etnia investe em educação de qualidade, formando dezenas de profissionais em diversas áreas, incluindo médicos, engenheiros e pedagogos. O etnoturismo também contribui para a manutenção da identidade cultural, aliando geração de renda à preservação das tradições.

Apesar do sucesso, os Haliti-Paresi enfrentam desafios, como a burocracia para obtenção de licenças ambientais e acesso a crédito. "Precisamos que o estado brasileiro discuta e implemente o direito econômico dos povos indígenas", afirma o cacique Genilson Kezomae Paresí, uma das lideranças da etnia.

A experiência dos Haliti-Paresi na COP-27 promete abrir novos diálogos sobre o papel dos povos indígenas na economia e na preservação ambiental, mostrando que é possível construir um futuro sustentável respeitando as raízes ancestrais.

O sucesso dos Haliti-Paresi não se limita apenas à agricultura. A etnia tem se destacado em diversas áreas, demonstrando uma notável capacidade de adaptação e inovação.

Adilson Muduywane Paresi diretor da Coopihanama, uma organização que representa o povo Paresi, destaca: "Nosso território está de portas abertas para quem quiser conhecer e ver como estamos vivendo hoje. Somos indígenas, mas temos o direito de viver com dignidade e acessar tudo que é garantido por lei na Constituição."

Um dos aspectos mais impressionantes da história dos Haliti-Paresi é a forma como conseguiram reverter o quadro de saúde precária que ameaçava a sobrevivência da etnia. Arnaldo Zunizakae relata: "Tínhamos um ano com 42 óbitos de crianças de 0 a 5 anos numa população de 1.250 pessoas. Hoje, isso praticamente zerou. Não morremos mais de desnutrição."

A educação tem sido outro pilar fundamental na transformação da realidade dos Haliti-Paresi. Nos últimos 15 a 20 anos, mais de 40 jovens da etnia concluíram o ensino superior em diversas áreas, incluindo medicina, odontologia, nutrição, pedagogia, farmácia e engenharia agronômica. Esse investimento em formação tem permitido que a comunidade se torne cada vez mais autossuficiente e capaz de gerir seus próprios projetos.

O etnoturismo emerge como uma nova frente de atuação, permitindo que os Haliti-Paresi compartilhem sua cultura e tradições com visitantes, ao mesmo tempo em que geram renda de forma sustentável. Essa iniciativa tem se mostrado fundamental para a preservação da identidade cultural da etnia, incluindo suas festas tradicionais, pinturas corporais e vestimentas típicas.

Genilson Parecis enfatiza: "O direito econômico hoje é um determinante social para 99% da população indígena brasileira. Precisamos trabalhar isso no Congresso Nacional, implementar no Poder Executivo e ter o reconhecimento do Judiciário."

Contudo, os desafios persistem. A burocracia para obtenção de licenças ambientais e a dificuldade de acesso a crédito ainda são obstáculos significativos. A etnia também enfrenta o desafio de equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação de sua cultura e território.

A experiência dos Haliti-Paresi levanta questões importantes sobre o futuro dos povos indígenas no Brasil e no mundo. Como conciliar tradição e modernidade? Como garantir o direito ao desenvolvimento econômico sem comprometer a preservação ambiental e cultural? Essas são perguntas que estarão no centro dos debates durante a COP-30.

Arnaldo Zunizakae conclui com uma mensagem de esperança e um convite: "Estamos vivendo um momento ímpar na nossa história. É hora de fazermos algo de bom para o nosso povo. Convidamos todos a conhecerem nosso território e verem de perto o que estamos realizando."

A história dos Haliti-Paresi é um testemunho vivo de que é possível construir um futuro sustentável, respeitando as raízes ancestrais e abraçando as oportunidades do mundo moderno. Seu exemplo promete inspirar novas abordagens para o desenvolvimento sustentável e a preservação da diversidade cultural em todo o planeta.

Um dos aspectos mais notáveis do projeto dos Haliti-Paresi é a sua abordagem à agricultura sustentável. Diferentemente de muitos produtores não-indígenas, eles são obrigados a usar apenas sementes convencionais, evitando organismos geneticamente modificados. Embora isso resulte em uma produtividade menor por hectare, também os coloca na vanguarda de práticas agrícolas mais sustentáveis.

Adilson Paresi explica: "Nós produzimos menos, mas existe um prêmio na questão da venda do soja convencional. Infelizmente, nem sempre esse prêmio compensa totalmente a diferença de produção, mas estamos comprometidos com práticas que respeitam nosso território e nossa cultura."

A questão do financiamento também é um desafio significativo. Apesar de terem conseguido uma aprovação inicial para um crédito do Plano Safra, os Haliti-Paresi enfrentaram obstáculos burocráticos que impediram o acesso aos recursos. Arnaldo Zunizakae comenta: "Perdemos a oportunidade no ano passado, mas continuamos pleiteando. É um processo lento, mas estamos avançando."

O sucesso dos Haliti-Paresi também levanta questões importantes sobre o futuro das terras indígenas no Brasil. Genilson Paresi argumenta:

"Temos o direito de desenvolver projetos econômicos dentro do nosso território para que possamos viver bem através do nosso próprio trabalho. Ao mesmo tempo, respeitamos aqueles povos que querem viver de forma mais tradicional."

A experiência desta etnia desafia a percepção comum de que as terras indígenas são meramente áreas de preservação. Como Adilson Paresi enfatiza:

"Nós não somos animais em uma reserva. Somos cidadãos brasileiros com os mesmos direitos, incluindo o direito ao desenvolvimento econômico."

O modelo de desenvolvimento dos Haliti-Paresi também oferece lições valiosas sobre distribuição de renda e geração de empregos em comunidades indígenas. Arnaldo Zunizakae ressalta:

"Não queremos que nossa gente dependa de auxílios. Queremos criar condições para que eles desenvolvam seus próprios empreendimentos e trabalhos."

Genilson Paresi conclui: "Estamos vivendo um momento único na história do Brasil, com indígenas ocupando espaços importantes na política nacional. É hora de fazermos a diferença para nosso povo."

A história dos Haliti-Paresi é um testemunho poderoso de como os povos indígenas podem ser protagonistas de seu próprio desenvolvimento, aliando tradição e modernidade. Seu exemplo na COP-30 promete abrir novos caminhos para o reconhecimento e a implementação dos direitos econômicos dos povos indígenas, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

À medida que o evento se aproxima, os olhos do mundo se voltam para essa etnia do Mato Grosso, ansiosos para aprender com sua experiência única de desenvolvimento sustentável e preservação cultural.

Os Haliti-Paresi não estão apenas escrevendo um novo capítulo em sua própria história, mas também estão redefinindo o papel dos povos indígenas no século XXI.

Por Ralph Lichotti - Advogado e Jornalista, Foi Sócio Diretor do Jornal O Fluminense e acionista majoritário do Tribuna da Imprensa, Secretário Geral da Associação Nacional, Internacional de Imprensa - ANI, Ex- Secretário Municipal de Receita de Itaperuna-RJ, Ex-Presidente da Comissão de Sindicância e Conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa - ABI - MTb 31.335/RJ

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Por Ultima Hora em 20/03/2025

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