Deixa o Pau Torar - Ep. 9 - Entre o Globo de Ouro e a História: O Brasil que o Cinema Revela

'Quem te Viu, Quem te Vê': O Legado da Ditadura e o Triunfo do Cinema Nacional

Diálogo entre gerações revela complexidades da história política brasileira e celebra conquista de Fernanda Torres

Em uma conversa rica em detalhes históricos e reflexões sobre o passado e presente do Brasil, dois interlocutores discutem o filme "Ainda Estou Aqui", estrelado por Fernanda Torres, e sua recente vitória no Globo de Ouro. O diálogo abrange temas como a ditadura militar, corrupção, sindicalismo, a importância do cinema nacional e os desafios contemporâneos da sociedade brasileira.

Destaques da conversa:

  1. Filme "Ainda Estou Aqui":

    • Baseado na autobiografia de Marcelo Rubens Paiva
    • Retrata a história de Rubens Paiva, deputado desaparecido durante a ditadura
    • Fernanda Torres interpreta Eunice Paiva, esposa de Rubens
    • Filme arrecadou mais de 62 milhões e teve mais de 3.000 espectadores
  2. Ditadura Militar:

    • Período de 1964 a 1985, inicialmente pensado como transitório
    • Impacto na fiscalização e aumento da corrupção
    • Casos de corrupção citados: Usina de Itaipu, Ponte Rio-Niterói, Transamazônica
  3. Anistia e suas consequências:

    • Anistia concedida para encerrar a ditadura
    • Familiares de acusados de crimes durante a ditadura recebem pensões do Estado
  4. Sindicalismo e Movimentos Trabalhistas:

    • Enfraquecimento dos sindicatos ao longo do tempo
    • Comparação entre mobilização sindical e religiosa na atualidade
  5. Capitalismo e Poder Econômico:

    • Discussão sobre a concentração de riqueza no Brasil
    • Influência do poder econômico nas decisões políticas
  6. Cinema Nacional e Reconhecimento Internacional:

    • Celebração da vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro
    • Expectativas para o Oscar de Melhor Filme Internacional
  7. Transformações no Mundo do Trabalho:

    • Discussão sobre o fordismo e o toyotismo
    • Impacto da globalização na mobilização dos trabalhadores
    • Fragmentação da produção como estratégia de desmobilização da classe trabalhadora
  8. Lobby e Influência Política:

    • Comparação entre práticas de lobby no Brasil e nos Estados Unidos
    • Reflexão sobre a legalização do lobby e seus impactos na política
  9. Poder Paralelo e Violência:

    • Preocupação com o avanço do poder paralelo, especialmente no Rio de Janeiro
    • Discussão sobre a necessidade de priorizar a inteligência sobre a força bruta
  10. Civilização e Progresso:

    • Reflexão sobre a necessidade constante de civilizar-se
    • Alerta contra o retrocesso a formas mais primitivas de organização social
  11. Importância do Cinema:

    • Reconhecimento do cinema como ferramenta de preservação da memória histórica
    • Celebração do sucesso internacional do cinema brasileiro
  12. Educação Histórica e Política:

    • Ênfase na necessidade de conhecer a história para compreender o presente
    • Crítica à falta de preparação política das gerações mais jovens
  13. Concentração de Riqueza:

    • Discussão sobre a desigualdade econômica no Brasil
    • Análise do poder das grandes empresas e do agronegócio na economia brasileira
  14. Direitos Trabalhistas:

    • Recordação das lutas históricas por direitos trabalhistas
    • Alerta sobre os riscos de retrocesso nos direitos conquistados

Reflexões Finais:

Os interlocutores enfatizam a importância de conhecer a história para compreender o presente. Destacam que muitos direitos trabalhistas foram conquistados com luta e sacrifício, e alertam para os riscos de retrocesso. A conversa termina com um apelo à juventude para valorizar essas conquistas e entender que nada foi "dado de graça".

O diálogo ressalta a relevância do cinema como meio de preservar e discutir a memória histórica, exemplificado pelo sucesso e reconhecimento internacional de "Ainda Estou Aqui". A discussão serve como um lembrete poderoso da interconexão entre arte, política e sociedade, celebrando não apenas as conquistas artísticas, mas também sua importância na contínua jornada de autocompreensão e evolução social do Brasil.

Reflexões sobre os males da ditadura:

A ditadura militar no Brasil foi um período sombrio que deixou cicatrizes profundas na sociedade brasileira. Durando de 1964 a 1985, o regime, inicialmente proposto como temporário, se estendeu por mais de duas décadas, trazendo consigo uma série de problemas e violações de direitos humanos.

A falta de fiscalização e transparência durante o regime militar abriu portas para a corrupção generalizada. Diversos casos de desvios de recursos públicos foram citados como exemplos: a construção da Usina de Itaipu, a Ponte Rio-Niterói e a Rodovia Transamazônica são exemplos de obras marcadas por suspeitas de superfaturamento e má gestão de recursos.

A repressão política foi outra marca dolorosa da ditadura, com perseguições, prisões, torturas e desaparecimentos forçados de opositores ao regime. O caso do deputado Rubens Paiva, retratado no filme "Ainda Estou Aqui", é um exemplo emblemático dessa violência institucionalizada.

O enfraquecimento dos movimentos sindicais e estudantis também foi uma consequência direta do regime militar. Com a proibição de greves e manifestações políticas, os trabalhadores e estudantes perderam importantes canais de reivindicação de direitos.

A censura à imprensa e às artes sufocou a liberdade de expressão, limitando o acesso à informação e impedindo o desenvolvimento cultural do país. Muitos artistas, intelectuais e jornalistas foram forçados ao exílio ou silenciados.

O legado da ditadura inclui ainda uma anistia controversa que perdoou crimes cometidos por agentes do Estado, deixando muitos casos sem investigação ou punição adequada. Isso resultou em uma sensação de impunidade e justiça incompleta que persiste até os dias atuais.

Os efeitos econômicos do regime militar também foram significativos, com períodos de aparente crescimento seguidos por crises e inflação descontrolada. A concentração de renda se acentuou, aprofundando as desigualdades sociais.

A educação foi severamente afetada, com a imposição de um currículo controlado e a perseguição a professores e estudantes considerados subversivos. Isso resultou em um retrocesso no pensamento crítico e na formação cidadã.

O trauma coletivo causado pela ditadura deixou marcas profundas na psique nacional, gerando medo, desconfiança nas instituições e uma cultura de silêncio sobre os abusos do passado, que ainda hoje dificulta um debate aberto e construtivo sobre esse período da história brasileira.

Reflexões sobre os Rumos da Esquerda Brasileira:

"A esquerda nasceu da luta por melhorias para os trabalhadores. O PT surgiu com o intuito de diminuir a desigualdade social através dos direitos do trabalhador" que o foco atual em questões de identidade, embora importantes, não deve se sobrepor às pautas econômicas e trabalhistas. "Estão mais preocupados com questões de gênero do que com quem está passando fome ou sendo explorado no trabalho", critica.

Um apelo por um retorno às origens do movimento, lembrando as lutas históricas dos trabalhadores por direitos básicos. "Nada que existe hoje foi dado de graça. Muitos morreram e sofreram para conquistar os direitos que temos", e questiona a narrativa sobre o comunismo no Brasil: "O Brasil nunca teve comunismo. Quando é que o Lula foi comunista? Nunca. Ele é o cara do acordo, o mais conciliador que já vi".

Por fim, defende um equilíbrio entre as pautas de esquerda e direita: "A direita tem seu papel de garantir que o setor produtivo tenha condições de crescer, mas é preciso garantir o mínimo de dignidade ao trabalhador. É aí que entra a esquerda".

A reflexão levanta questões importantes sobre o papel dos movimentos sociais e partidos políticos na defesa dos direitos trabalhistas e na busca por uma sociedade mais justa e igualitária.

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Por Robson Talber e Ralph Lichotti - Advogado e Jornalista, Foi Sócio Diretor do Jornal O Fluminense e acionista majoritário do Tribuna da Imprensa, Secretário Geral da Associação Nacional, Internacional de Imprensa - ANI, Ex- Secretário Municipal de Receita de Itaperuna, Ex-Presidente da Comissão de Sindicância e Conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa - ABI - MTb 31.335/RJ

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Por Ultima Hora em 06/01/2025
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