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Hoje é o Dia da Favela. Mas será que temos mesmo algo a comemorar? O termo “favela” surgiu no final do século XIX, associado aos primeiros assentamentos urbanos formados por ex-combatentes da Guerra de Canudos que, ao retornarem ao Rio de Janeiro, foram esquecidos pelo Estado e encontraram no Morro da Providência o único lugar onde podiam se abrigar. Ali, construíram suas moradias improvisadas, uma resistência que nada mais era do que um grito de socorro. Desde então, a palavra “favela” carrega o peso de um Brasil que virou as costas para seus próprios filhos.
Mas o tempo passou, e o cenário não mudou. Ao contrário, a favela multiplicou-se, tornou-se parte do cenário nacional, e milhões de brasileiros nascem e crescem nela, sem o acesso mínimo a condições dignas de vida. Nesses espaços, o que se vê são ruas estreitas, esgoto a céu aberto, escassez de escolas, postos de saúde precários e uma constante ausência de oportunidades. Para muitos, a favela tornou-se sinônimo de violência e abandono – um reflexo da falta de políticas públicas e da desigualdade estrutural que se perpetua ao longo das décadas.
O Dia da Favela, ao invés de ser comemorado, deveria ser uma lembrança amarga de que, em pleno século XXI, permitimos que a favela seja o lar de tantas vidas. Essa realidade é um lembrete cruel de um Estado ausente, que, ao longo dos anos, pouco fez para transformar esses espaços em bairros com dignidade e oportunidades reais. A favela existe porque o sistema permite e porque o olhar da sociedade para esses territórios é o de marginalização e descaso.
Por que as favelas ainda existem? Porque, em algum ponto da história, normalizamos a ideia de que parte da população brasileira vive à margem, em condições desumanas. Essa normalização é uma ferida aberta na história do país, reforçando a exclusão e perpetuando o sofrimento de gerações. A favela não deveria existir. E, mais do que isso, deveria ser transformada em bairros, com infraestrutura, educação, saúde e lazer para seus moradores. Essa transformação é mais do que um desejo; é uma necessidade urgente para garantir a dignidade humana.
Então, no Dia da Favela, que tenhamos a coragem de olhar para essa data não com festa, mas com indignação. Que sejamos capazes de ver, com clareza, a desigualdade escancarada e a ausência de um Estado que deveria proteger e amparar. E que essa indignação nos mova a lutar, a cobrar, a exigir políticas que não apenas amenizem, mas eliminem essa injustiça social.
As favelas não devem ser apenas vistas como “focos de resistência” ou “celeiros de cultura”. Elas são também o reflexo de uma dívida histórica que o Brasil ainda não pagou. Que o Dia da Favela, então, nos inspire a uma luta por transformação, para que um dia, possamos olhar para esses territórios e ver bairros, onde a dignidade humana não seja uma exceção, mas uma regra.
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