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Após a alta ingestão calórica durante as festas de fim de ano, todos acabam com a consciência pesada e procuram maneiras de queimar aquelas rabanadas extras. O conhecimento sobre as mudanças evolutivas que moldaram o comportamento alimentar da nossa espécie até os dias de hoje, e como conseguimos romper regras ecológicas de consumo alimentar, é essencial para compreendermos melhor o metabolismo energético.
Nos primórdios da humanidade, nosso comportamento alimentar era herbívoro, carnívoro ou generalista. No entanto, cerca de 2,5 milhões de anos atrás, as coisas tomaram um rumo evolutivo diferente. Os primeiros indivíduos do gênero Homo adotaram uma estratégia colaborativa inovadora, onde alguns caçavam, outros coletavam e todos compartilhavam o que adquiriam. Com os avanços no desenvolvimento de ferramentas na época da pedra lascada, eles puderam capturar animais maiores, construir casas e, eventualmente, surgiu a agricultura. Esse estilo de vida cooperativo reduziu o gasto energético necessário para conquistar alimentos, refletindo no aumento da inteligência da espécie.
Essa cooperatividade não mudou apenas os alimentos que consumimos, mas também a forma como o metabolismo utiliza os produtos da digestão. Dado o grande interesse em emagrecimento, dietas e exercícios, seria de se esperar que a ciência já tivesse desvendado todos os mistérios sobre o assunto, certo? Não é bem assim. Contudo, já existem alguns resultados científicos que parecem mudar nossa visão sobre como gastamos calorias. Compreender melhor nossas estratégias para ganhar, queimar e compartilhar calorias é a chave para explicar nosso extraordinário sucesso como espécie.
Cada uma das nossas 37 trilhões de células é uma verdadeira operária com tarefas específicas para realizar. A energia para esse trabalho celular é obtida dos alimentos que consumimos. Durante o processo, os alimentos são oxidados para liberar energia, gerando gás carbônico e água como subprodutos. Esse processo, chamado respiração celular, consome oxigênio. O nosso próprio metabolismo define as calorias necessárias para a nossa sobrevivência. Toda a ingestão alimentar que não é utilizada para gerar energia é armazenada para uso posterior, e o controle desse estoque deve ser feito pelo organismo para que não haja excessos nem faltas.
Estudos publicados no livro "Burn: New Research Blows the Lid Off How We Really Burn Calories, Lose Weight, and Stay Healthy", do antropólogo evolucionista Herman Pontzer, da Universidade de Duke, em 2021, indicaram resultados surpreendentes. Eles mediram o gasto de energia diária de animais e pessoas em várias situações e momentos da vida. No estudo, os pesquisadores consideraram a massa magra do organismo e concluíram que, independentemente de o indivíduo fazer exercícios, o gasto calórico total não muda muito.
Os novos estudos mostram que a taxa metabólica está majoritariamente relacionada ao volume de massa magra de um indivíduo, não estando atrelada ao gênero. No entanto, a idade é um fator importante, com uma diminuição progressiva no consumo calórico diário à medida que envelhecemos. Dessa forma, o exercício facilita a manutenção de um corpo eficiente no controle energético, devido ao ganho de massa magra. Além disso, ao nos exercitarmos, são produzidas miocinas, moléculas sinalizadoras que colaboram para o controle metabólico geral do organismo, além de promover outros benefícios para a saúde, como a atividade anti-inflamatória. Para saber mais sobre o assunto, a NAVE Química Fisiológica está gravando uma série intitulada “Jejum de cabo a rabo”, que será lançada ainda essa semana.
Ainda temos muito a compreender sobre os mecanismos regulatórios para o controle metabólico do gasto calórico, além dos mecanismos hormonais já delineados. Os exercícios que promovem o aumento da massa magra, como a musculação, são importantes estratégias para quem deseja emagrecer e manter-se magro, pois a massa magra é o principal controlador do gasto calórico diário (taxa metabólica).
Profª. Drª. Adriana Pedrenho
Departamento de Ciências Fisiológicas, UFRRJ
Idealizadora da NAVE Química Fisiológica
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