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A maioria das pessoas já ouviu falar em “Efeito Placebo”, quando o simples fato de ingerir uma pílula de farinha ou açúcar tem um efeito de melhora inesperada. É a crença de expectativa de que se está tomando o medicamento experimental que vai curar a doença. É um mecanismo desencadeado pelo nosso sistema nervoso.
As emoções de base, como Antônio Damásio descreve em seus trabalhos, são fisiológicas e surgem através de percepções do mundo externo. As seis emoções de base (alegria, raiva, tristeza, medo, espanto e nojo) são emoções que surgem para nos proteger. Exatamente isso! Como o medo pode nos proteger? Ter medo de andar na beirada de um edifício bem alto é algo inteligente a se fazer, não acham? Ou ter nojo de se alimentar de algo já estragando, nos protege de uma infecção intestinal. Apesar de ser bastante interessante, não existem muitos estudos científicos que explorem os mecanismos bioquímico-fisiológicos para o efeito placebo, o que pode ser reflexo do financiamento das pesquisas com medicamento ser feito pelas grandes farmacêuticas.
Mas um efeito análogo vem chamando a atenção das indústrias farmacêuticas dos genéricos: O “Efeito Nocebo”. Esse efeito seria o contrário do efeito placebo. Um exemplo clássico é bem brasileiro: Os senhores de escravo falavam para os escravos que leite com manga fazia a pessoa passar mal e essa lenda era aceita como verdade a ponto de causar mesmo complicações digestivas bem reais. Isso evitava que os escravos consumissem o leite. O efeito Nocebo seria, assim, uma espécie de reação fisiológica a uma crença, exatamente como o efeito placebo, mas de efeito maléfico. Existem muitas dessas crenças.
Mas como esse efeito pode atrapalhar um tratamento? Quando o paciente acredita que o medicamento não é de um bom laboratório, como é comum falarem a respeito dos genéricos, que muitas pessoas acreditam que são menos eficazes por serem genéricos. Mas isso não é verdade.
Quando um laboratório desenvolve um medicamento, eles investem e, portanto, têm o direto de venda exclusiva por um certo tempo. Até que essa patente “cai” e todos os laboratórios passam a poder produzir o medicamento. Mas o laboratório que criou não divulga como ele desenvolveu o medicamento e por isso, os outros laboratórios produzem medicamentos “semelhantes”. Bons laboratórios irão produzir bons medicamentos semelhantes e que são tão eficazes quanto os medicamentos originais.
A questão é que quando o paciente acredita que o medicamento não vai agir como agiria o original ou que o genérico terá mais efeitos colaterais, é exatamente essa crença de expectativa que pode se manifestar e um medicamento que poderia ser eficaz contra aquela patologia, simplesmente perde a sua capacidade terapêutica devido ao pensamento!
Desde o primeiro ensaio clínico placebo-controlado em 1799 (de Craen AJ, Kaptchuk TJ, Tijssen JG, Kleijnen J. Placebos and placebo effects in medicine: historical overview. J R Soc. Med. 1999;92:511-5), o efeito placebo mostrou a influência das emoções na saúde. Com os ensaios clínicos randomizados, duplos-cegos e placebos-controlados, padrão-ouro para avaliar tratamentos, os relatos de mudanças clínicas significativas no grupo placebo destacam os efeitos poderosos do placebo em várias condições clínicas.
Os achados indicam que o sistema nervoso é capaz de produzir substâncias químicas sinalizadoras ou bioeletricidade através das conexões nervosas que podem amenizar os sintomas de uma patologia (efeito placebo), mas que também quando a crença é ruim, ela pode se manifestar (efeito Nocebo). E quando o paciente acredita que o tratamento não terá resposta positiva, pode acionar o “Efeito Nocebo” e levar ao fracasso no tratamento. Mas estamos apenas no início dessa jornada de conhecimento e muitos estudos ainda serão necessários para desvendar o enigma do: “Mente sã, corpo são!”.
Profª. Drª. Adriana Pedrenho
Departamento de Ciências Fisiológicas, UFRRJ
Idealizadora da Nave Química Fisiológica
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