Entrevista com o prefeito de Campos Wladimir Garotinho

Entrevista com o prefeito de Campos Wladimir Garotinho

Principal desafio das novas administrações tem sido a luta contra a Covid-19. Como tem sido enfrentar esse desafio em Campos? 

WG - Realmente, temos concentrado muita energia no enfrentamento à Covid-19 porque não esperávamos que, um ano depois, a situação estivesse como está, por isso, desde o primeiro momento estivemos na luta por mais leitos e a vinda da vacina. A Covid-19 fez com que mudássemos um pouco o planejamento neste início de governo, mas aos poucos estamos escrevendo uma nova história para nosso município. Hoje, já temos cerca de 70 mil campistas vacinados, o que representa cerca de 11% da população, o que faz com que Campos esteja acima da média nacional e do Estado do Rio de Janeiro.  

Temos feito uma força-tarefa e, assim que mais vacinas chegam, ampliamos os postos de vacinação para que possamos imunizar nossa população.  Atualmente, estamos na fase vermelha e, após 21 dias de restrições e a abertura de novos leitos, começamos a flexibilizar algumas medidas, baseado na ciência e sempre ouvindo minha equipe técnica, mas a situação ainda é grave porque ainda temos pacientes na fila de espera, mas houve uma redução do índice de circulação do vírus. É tudo muito novo, quando se trata da Covid-19 e é, por isso, que não abro mão de ouvir a ciência e estar sempre atento ao que dizem os pesquisadores, gestores da saúde e profissionais da linha de frente.  

Entendemos que essa eficácia depende de um conjunto de fatores, mas que inclui também a conscientização da população. Estamos orientando sobre os cuidados preventivos, ampliando os leitos, cobrando vacinas e recorrendo a outras esferas de poder para conseguir medicamentos que estão em falta no mercado, mas é fundamental que as pessoas parem de se aglomerar, de promover e participar de festas clandestinas. 

A população tem colaborado? 

WG  - Acredito que, em geral, a população entende, principalmente, aqueles que tiveram alguém muito próximo acometido pela doença, mas ainda existem aqueles grupos que insistem em promover aglomerações e realizar festas clandestinas. Desde janeiro, venho alertando a população de que a conta é de todo mundo porque, se não houver a colaboração de todos, todo mundo sai perdendo com esse vírus. Temos que saber lidar com esse momento.  

Chegamos em uma etapa da pandemia em que a doença está atingindo todos: crianças, jovens, adultos e idosos.  Precisamos que as pessoas, em geral, tenham compreensão porque a equipe de fiscalização não consegue estar em todos os locais ao mesmo tempo. Campos é um município muito grande.  Então, é preciso que cada um faça a sua parte. Nesta nova onda da doença, com a circulação de novas variantes no município, há o risco também para os mais jovens.  

Então, esse público também precisa se cuidar e evitar novos casos porque os leitos estão cheios. Temos duas soluções para evitar a contaminação: se proteger com o isolamento social agora e a imunização através da vacina que, à medida que está chegando, estamos aplicando na população. Estamos fazendo a nossa parte e a população precisa se prevenir para evitar novos casos e, consequentemente, mais mortes. Todos precisam entender que estamos lidando com um inimigo invisível, que estamos em uma pandemia e a situação é grave.  

Que balanço o senhor faz dos 100 dias de governo? 

WG - São três meses de trabalho intenso, realmente, porque queremos construir uma Campos melhor.  Encontramos os servidores sem o pagamento de dezembro e sem o 13º. Tivemos que tomar medidas de austeridade na questão financeira e uma delas foi o contingenciamento das despesas públicas e a criação de um novo organograma com redução de cargos comissionados para que a prefeitura pudesse cumprir os compromissos.  

Nestes 100 dias, também, foi lançado o Programa de Aprendizagem Eficiente (PAE) em parceria com universidades e órgãos municipais e foi criada a nova lei da regência para professores que atuam na modalidade de aulas não presenciais.  Também vem sendo realizado um amplo trabalho de reposição de lâmpadas para deixar a cidade mais iluminada e, ainda, aumentar a sensação de segurança da população.   

Nestes três meses, o Projeto Justiça Itinerante foi retomado, uma parceria do Tribunal de Justiça (TJ-RJ) com a Prefeitura de Campos; implantado o primeiro consultório móvel do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), que teve a primeira parada no Farol de São Thomé. O trabalho de combate ao mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya também vem sendo realizado com visitas domiciliares dos agentes de endemia.  

O senhor falou também durante a campanha em “dinheiro novo” e parcerias para driblar a crise. Está conseguindo? 

WG - Isso mesmo. Como Campos vem sofrendo com a queda de arrecadação de royalties e participações especiais, situação que vem sendo agravada com os reflexos da pandemia, a solução seria esta: trazer dinheiro novo. Somente nestes três meses, já consegui R$ 76 milhões de recursos, através de emendas parlamentares. 

Também estamos trabalhando com parcerias. Inclusive, lancei o Programa Amigo da Cidade, onde tanto pessoas físicas como empresas podem fazer doações de materiais e serviços para o município, o que possibilitou, por exemplo, a reforma do Restaurante Popular, que está na fase final.  

Realmente, foram 100 dias de muito trabalho, principalmente, na área da saúde. 

WG - Nestes três meses, também reabri duas Unidades Básicas de Saúde, que estavam fechadas; estamos em dia com os repasses dos hospitais contratualizados (Santa Casa de Misericórdia, Beneficência Portuguesa, Hospital Plantadores de Cana e Hospital Escola Álvaro Alvim, além de clínicas e laboratórios, entre outros) que dão suporte à rede própria do município. Além disso, mudamos o sistema de transporte público porque o anterior trazia muito sofrimento para a população e daquela forma não podia continuar.   

Agora, estamos repactuando a contratualização dos hospitais para que possamos, provisoriamente, transferir o atendimento do Hospital Geral de Guarus (HGG), enquanto o prédio recebe uma ampla reforma, para estas unidades. O HGG atende milhares de pessoas diariamente, mas infelizmente está em péssimas condições, colocando em risco pacientes e servidores públicos.   

Quando chove, não sei se tem mais água dentro ou fora do hospital por causa dos problemas no telhado.  Em virtude do agravamento da pandemia, tivemos que adiar o início das obras porque não tínhamos como transferir pacientes neste momento.  

Ainda na saúde, foram retomadas em março as cirurgias realizadas no Centro de Atendimento Odontológico a Pacientes Especiais (CAOPE), que estavam suspensas há três anos, e inaugurada a Sala de Acolhimento para pacientes atendidos pelo Programa de Tratamento Fora do Município, que passaram a ter um espaço com cadeiras, banheiros e a segurança na Guarda Civil Municipal (GCM), antes de seguirem para o atendimento fora da cidade.  

Em abril, foi inaugurada a reforma do setor de Tisiologia do Hospital Ferreira Machado, que conta com sete leitos, passando a oferecer um ambiente mais digno aos pacientes com tuberculose que precisam ficar internados em sistema de isolamento para o tratamento de casos mais graves da doença.

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E na área social? Sabemos que, neste momento, muitas pessoas estão passando por muitas dificuldades. Como o município está lidando com essa situação? 

WG  - O Restaurante Popular, que está com a obra sendo finalizada como te falei, é um equipamento de segurança alimentar muito importante neste momento de pandemia que estamos vivemos e em que tantas pessoas estão passando por dificuldades, passando fome mesmo, sem ter como se alimentar e alimentar a família. Infelizmente, nesta etapa da pandemia, ainda não podemos reabri-lo para não gerar aglomeração.  

Outro projeto que tem sensibilizado bastante a população é o da Vacinação Solidária, uma campanha para arrecadar alimentos para as pessoas em situação de vulnerabilidade. Os postos de arrecadação estão nos locais de vacinação. A população não é obrigada, mas se puder, doe um quilo de alimento. Quem já se vacinou e sentir o desejo de contribuir, doe também.  

A Secretaria de Desenvolvimento Humano também está atenta ao atendimento à população em situação de rua e acompanhando através dos CRAS as famílias em situação de vulnerabilidade social. 

Como sua gestão tem tratado a política de assistência às mulheres, às crianças e adolescentes? 

WG - Na política de assistência às mulheres, criei a Subsecretaria Municipal de Políticas para Mulheres, que instituiu o Dia Laranja, marcado todo dia 25 para o enfrentamento à violência contra a mulher e, também, já foi anunciada parceria para instalação do Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam) no município, completando a rede de proteção.  

A Fundação Municipal da Infância e da Juventude (FMIJ) iniciou cursos on-line de Gastronomia e Informática para adolescentes, além de ter recebido doações de móveis e eletrodomésticos, além de roupas de uma grande rede de lojas. Esses parceiros ganharam o selo Amigo da Fundação.  

Os acolhimentos institucionais também tiveram as despensas e as farmácias abastecidas para atender às crianças e adolescentes.  

Como tem sido sua relação com os governos estadual e federal? 

WG  - Tenho buscado tanto no Governo do Estado como em Brasília apoio para nossa cidade e já tivemos várias respostas positivas de uma forma geral para Campos. Na pandemia, entendo que a situação está difícil para todos com falta de leitos e medicamentos, mas estamos conseguindo vacinas, equipamentos, medicamentos e novos leitos.  

Continuamos na luta para oferecer o melhor para nossa população. Tem sido uma batalha de hora em hora para conseguir remédios, uma batalha de todos os prefeitos. Falei com todos eles da região sobre a dificuldade de medicamentos. No último dia 08, fiz pedido emergencial, em contato pessoal com o governador Cláudio Castro, e a resposta foi que eles não estavam conseguindo comprar os medicamentos mas disse que ia ceder um pouco do que tinha de estoque.  

No dia seguinte, além de receber 11.500 doses da vacina, também, recebemos mais uma remessa do “kit intubação”, com medicamentos fundamentais para o tratamento de pacientes internados em estado grave em UTI. Mais uma vez, o Governo do Estado prontamente atendeu o nosso pedido.  

Esses medicamentos, que não estão sendo encontrados no mercado, vão nos ajudar neste momento tão difícil. Continuamos a nossa luta de salvar vidas e vacinando a nossa população de forma ininterrupta. 

Como tem sido para sua equipe de fiscalização cobrir um município com a extensão territorial de Campos? 

WG  - A equipe de fiscalização tem sido incansável. Trabalha diariamente atendendo a muitas denúncias de descumprimento do decreto. Em algumas vezes, os fiscais constatam as irregularidades infelizmente.  

Como possui grande extensão territorial, é complicado estar em todos os locais, por isso, é tão importante a conscientização das pessoas: que usem máscara, álcool 70% e evitem aglomeração. As equipes de saúde estão esgotadas porque, em um ano de pandemia, imaginava-se que o ritmo de trabalho seria reduzido e, na verdade, o que aconteceu com a circulação da nova variante no Brasil, foi um aumento do número de casos e óbitos e agravamento do quadro dos pacientes, que agora são mais jovens.  

Com as restrições das duas últimas semanas, conseguimos reduzir a circulação de pessoas e frear a curva de casos, que estava ascendente. Isso permitiu, cientificamente, flexibilização na atividade comercial e reabertura gradual, tratada junto com as entidades de classe, mas existem pontos que estamos revendo porque ainda não podemos sair da fase vermelha.  

Vale ressaltar que, mesmo com as flexibilizações, é preciso bom senso de todos porque precisamos lembrar que a situação ainda é grave. A pandemia não acabou. 

Alguma medida de recuperação econômica? 

WG  - Estamos, através do Fundecam [Fundo de Desenvolvimento de Campos] e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo adotando medidas para viabilizar, em caráter emergencial, modalidades de crédito para atender as necessidades do empreendedor individual e das microempresas.  

Isso, para evitar demissões nas empresas em dificuldades financeiras agravadas pela pandemia da Covid-19. No Fundecam, tem a modalidade de crédito até R$ 3 mil para o empreendedor individual e pessoa física. Para a microempresa, tem a modalidade de crédito até R$ 6 mil. Ambos, com a taxa de 2% ao ano. 

 Ralph Lichotti - advogado, jornalista e diretor da Tribuna da Imprensa Digital.

 

 

 

 

Por Ralph Lichotti em 16/04/2021
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