Equilíbrio emocional e tecnológico

Por: Psicólogo Davis Lichote - @davislichote *

Já sentiu aquela necessidade irresistível de checar o Instagram no meio de uma reunião ou durante um jantar? Uma pesquisa inovadora da Universidade de Durham, revela que essas rápidas espiadas nas redes sociais podem desencadear uma verdadeira montanha-russa fisiológica em nossos corpos, com efeitos que vão muito além de um simples hábito digital.

A pesquisa monitorou 54 usuários do Instagram para mapear suas reações fisiológicas em três fases distintas de 15 minutos cada: leitura de notícias online, uso do Instagram e interrupção forçada do aplicativo.

Os resultados foram surpreendentes e reveladores, expondo como o design do Instagram se entrelaça com nossos sistemas de recompensa cerebrais. Durante a navegação no Instagram, os participantes demonstraram uma queda notável na frequência cardíaca, acompanhada por um aumento significativo na condutância da pele — indicadores claros de um estado de atenção profunda e excitação baseada em recompensa.

Um aumento nesse indicador sugere um estado de alerta e antecipação. Esses dados sugerem que o Instagram é capaz de criar um efeito de imersão total. Essa imersão é cuidadosamente cultivada através de algoritmos que personalizam o conteúdo exibido, maximizando o engajamento.

No entanto, o momento mais impactante do estudo ocorreu quando os participantes foram abruptamente impedidos de usar o Instagram, enquanto ainda recebiam notificações que não podiam verificar. Nesse cenário, a frequência cardíaca disparou e a atividade das glândulas sudoríparas aumentou ainda mais, sinalizando níveis elevados de estresse e ansiedade. Imagine a sensação de estar esperando uma mensagem importante e ser impedido de verificar seu celular – essa é a experiência amplificada que o estudo revelou.

Essa descoberta sugere que o ciclo de uso e interrupção do Instagram pode levar a microciclos diários de estresse, que, a longo prazo, podem contribuir para um padrão viciante e prejudicial ao bem-estar mental. A arquitetura de notificações do Instagram, projetada para capturar nossa atenção repetidamente, intensifica esse ciclo.

Ao contrário das substâncias químicas que causam dependência, o Instagram e outras redes sociais exploram necessidades humanas básicas, como a busca por conexão social, o desejo de pertencimento e a necessidade de validação. Essa exploração de nossas vulnerabilidades emocionais explica por que é tão difícil resistir à compulsão de verificar notificações e rolar a tela incessantemente.

A comparação social constante, a exposição a conteúdos negativos (como cyberbullying ou notícias alarmantes) e a pressão para manter uma imagem perfeita online são alguns dos fatores que contribuem para esses efeitos adversos. Além disso, o tempo gasto nas redes sociais muitas vezes substitui atividades importantes para o bem-estar, como exercícios físicos, sono adequado e interações sociais presenciais. A privação do sono, em particular, pode exacerbar problemas de saúde mental, criando um ciclo vicioso.

Embora se livrar completamente das redes sociais possa não ser uma opção viável ou desejável para muitas pessoas, existem diversas estratégias que podem ajudar a reduzir o impacto negativo em nossa saúde mental e bem-estar:

•    Remova o ícone dos apps de redes sociais da tela inicial: Essa simples mudança pode ajudar a reduzir acessos impulsivos e automáticos.

•    Desative as notificações: Ao minimizar as distrações e interrupções constantes, você pode evitar os ciclos de ansiedade e estresse associados às notificações.

•    Estabeleça horários específicos para checar as redes sociais: Defina períodos de tempo limitados para o uso das redes sociais e evite usá-las fora desses horários.

•    Pratique o "detox" digital regularmente: Reserve um dia da semana ou um fim de semana por mês para se desconectar completamente das redes sociais e se reconectar com o mundo real.

•    Priorize interações sociais presenciais: Dedique tempo para se conectar com amigos e familiares pessoalmente, em vez de apenas online.

O Instagram e outras redes sociais podem ser ferramentas úteis para nos conectarmos com outras pessoas, aprendermos coisas novas e nos expressarmos criativamente. No entanto, é fundamental estarmos conscientes dos potenciais efeitos negativos e adotarmos estratégias para usá-las de forma equilibrada e saudável.

Ao estabelecermos limites, priorizarmos nosso bem-estar mental e buscarmos conexões significativas no mundo real, podemos desfrutar dos benefícios das redes sociais sem comprometer nossa saúde e felicidade.

Lembre-se, o objetivo não é eliminar completamente as redes sociais, mas sim usá-las de forma consciente e intencional, priorizando nosso bem-estar acima de tudo.

*Davis Lichote é Psico?logo Clínico, Palestrante, Professor, Doutorando em Sau?de Mental - UENF, Logoterapeuta, especializado na Abordagem Fenomenológica-existencial