“Feijoada dos Dragões”: Tradição e fé na Pavuna marcam celebração de São Jorge

No Rio de Janeiro, o dia 23 de abril é mais do que uma data religiosa — é uma manifestação de fé, resistência e identidade cultural.

“Feijoada dos Dragões”: Tradição e fé na Pavuna marcam celebração de São Jorge

Em diversos bairros da cidade, as homenagens a São Jorge, o santo guerreiro, tomam as ruas com missas, procissões, samba e, claro, feijoadas. E na Pavuna, zona norte da capital, uma família se destaca pela devoção e pela maneira única de manter essa tradição viva: é a Feijoada dos Dragões, organizada há décadas pela família Lima.

Mais do que uma refeição, a feijoada é um ritual. A preparação começa na véspera, com os caldeirões fervendo ao longo da madrugada, e o aroma se espalhando pelas vielas e casas do bairro. Cada pedaço de carne, cada grão de feijão é colocado com intenção. “Tudo aqui é feito com amor, fé e respeito. A gente não tá só cozinhando, tá agradecendo, tá rezando”, explica Dona Maria Lima, matriarca da família e guardiã da tradição.

O nome Feijoada dos Dragões tem um significado especial. Os “dragões” representam a luta, a força e o espírito guerreiro que São Jorge simboliza. Segundo os organizadores, o nome surgiu de forma espontânea, entre sambas e conversas, e hoje carrega o peso de uma história familiar marcada por superações, batalhas vencidas e muita união. “Todo ano a gente vence um dragão diferente”, brinca Seu Zeca Lima, irmão de Dona Maria. “Às vezes é uma doença, às vezes é o desemprego, às vezes é só a dureza da vida. Mas com fé em São Jorge, a gente vai vencendo.”

No dia 23, a casa da família se transforma. As portas ficam abertas desde cedo. Moradores do bairro, amigos, parentes distantes e até desconhecidos se reúnem para comer, cantar, rezar e celebrar. A trilha sonora é o samba — aquele de raiz, puxado no pandeiro e no cavaquinho, enquanto a cerveja gelada ajuda a refrescar o calor da emoção e do sol de abril.

E como manda a tradição, antes de servir a primeira concha da feijoada, todos se reúnem em oração. É um momento de silêncio e gratidão. Em seguida, o batuque recomeça, as conversas se misturam às risadas, e a festa segue até o entardecer, com a imagem de São Jorge enfeitando o altar montado na entrada da casa.

A Feijoada dos Dragões é mais do que uma celebração — é um símbolo de resistência cultural, de fé popular e de orgulho de ser carioca e favelado. Em tempos difíceis, onde a esperança parece rara, a Pavuna mostra que a força de um povo está na sua união, no seu prato cheio e na sua fé que nunca se abala.

Por Maicon Salles

Por Falando de Baixada Fluminense em 23/04/2025
Publicidade

Comentários

  • Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!

Aguarde..