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Reunião com embaixadores para por em dúvida o sistema eleitoral é parte de uma ação contínua de ataques às instituições
Brasil de Fato - Ele chamou os embaixadores para atacar a democracia, para descredibilizar a justiça eleitoral
“Bolsonaro já é favas contadas”. Assim o comentarista do podcast Três por Quatro, João Pedro Stedile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), define qual deve ser o resultado do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para Stedile, a burguesia já não tem mais interesse em Bolsonaro e pode rifá-lo, restando saber se após perder os direitos políticos, ele será preso ou não.
“Quem criou a criatura foi a burguesia brasileira. Que ganhou muito dinheiro no governo dele. Mas a burguesia não tem compromissos pessoais. O compromisso dela é com a taxa de lucro. Ela já rifou Bolsonaro. E isso vai repercutindo nos outros espaços da política. O próprio presidente do PL (Valdemar da Costa Neto) disse que, a essa altura do campeonato, não interessa mais que o Bolsonaro tenha seus direitos. É melhor virar a página da história. Bolsonaro já é favas contadas”, afirmou Stedile.
Iniciado nesta quinta-feira (22), o julgamento do TSE que pode tornar Bolsonaro inelegível por oito anos, foi suspenso pelo ministro Alexandre de Moraes, após leitura do relatório e sustentação oral do advogado do PDT, que ingressou com a ação, da defesa do ex-presidente e do Ministério Público Eleitoral (MPE).
A ação pede a condenação de Bolsonaro por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, após uma reunião dele com embaixadores, no Palácio da Alvorada, em julho de 2022. No encontro, transmitido pela TV Brasil, o ex-presidente fez ataques e acusações sem provas contra o sistema eleitoral e aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
A advogada especialista em direito eleitoral e membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), Carla Nicolini, considera que as provas são irrefutáveis e não há linha de argumentação que consiga negar as acusações contra Bolsonaro
“Há desvio de finalidade. Ele como presidente poderia convocar os embaixadores e fazer uma prestação de contas do mandato dele. Seria ato corriqueiro. Alguém poderia dizer que foi propaganda, sofrer pena de multa. Mas ele chamou os embaixadores para atacar a democracia, para descredibilizar a justiça eleitoral. Então, o conteúdo é que é grave. Mentiras, baseadas em fatos que já tinham sido descartados e ele estava engajando as pessoas naquela ideia”, afirma Carla.
A advogada destaca ainda que não cabe comparação com o caso do julgamento que analisou a cassação da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer, por abuso de poder econômico, como tenta fazer a defesa de Bolsonaro. Isso porque, no caso atual, os fatos posteriores comprovam que a reunião com os embaixadores tinha o objetivo de compor o projeto do ex-presidente de desestabilizar o sistema eleitoral brasileiro.
“Ele cria um ambiente de desconfiança na classe política, desconfiança nas instituições. E aí você vai tendo uma quebra de vários parâmetros da sociedade e vai criando um ambiente que é justamente propício ao golpe. É a cereja do bolo porque ele vinha construindo, desde que ele foi eleito, essa ideia de que o processo não é justo, as instituições não funcionam, político não serve pra nada. ‘Tem que ser um cara como eu, não precisa de Congresso, não precisa de judiciário", explica Carla.
O podcast Três por Quatro é apresentado por Nara Lacerda e Glauco Faria, que atuam na equipe de jornalismo do Brasil de Fato. Novos episódios são lançados toda sexta-feira pela manhã.
Edição: Rodrigo Gomes
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