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Alvo de apurações sobre violência policial, o investigador da Polícia Civil Moacir Cova lançou sua pré-candidatura a vereador pela cidade de Itu, no interior paulista, em 18 de julho, pelo Partido Renovação Democrática (PRD), uma fusão do antigo Patriota com o PTB.
Vídeo postado por Moacir Cova mostra o investigador adesivando veículo com frase de apoio à própria pré-candidatura | Foto: Reprodução/Instagram
Nas redes sociais, Moacir postou vídeos nos quais aparece colando adesivos em carros com declarações de apoio à sua pré-candidatura. De acordo com Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), apenas pedidos explícitos de votos feitos antes do dia 16 de agosto podem ser configurados como campanha eleitoral antecipada, o que é contra a legislação eleitoral. Esta é terceira vez que o policial disputa um cargo eletivo. Em 2022, alcançou a suplência para deputado estadual.
Conforme registrado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, o policial civil pediu a desincompatibilização das funções para concorrer às eleições no início do mês, pouco mais de 20 dias depois de o delegado geral da Polícia Civil, Artur Dian, ter determinado o afastamento preventivo, por 180 dias, de Moacir e dos investigadores Bruno Bolpete Ceccolini e Fabio Consalez Xavier de Freitas — grupo conhecido como “Bonde do Moacir” —, por conta de uma representação da Corregedoria da Polícia Civil.
Os policiais foram afastados após a Corregedoria receber um grupo de famílias de Itu que denunciou o que afirmam ser casos de prisões injustas e de execuções extrajudiciais que teriam ligação com o “Bonde do Moacir”. A Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, movimento contra a violência de Estado nas periferias, elaborou um dossiê com denúncias de que Moacir e seu grupo — Bruno Ceccolini, o K9, Cirineu Yasuda, o Japonês, e Thiago Santos, o Carioca — estariam tocando o terror na cidade.
Investigado por tortura e mortes
A Ponte localizou ao menos sete inquéritos, todos sigilosos, abertos pela Corregedoria contra o grupo neste ano. A reportagem só conseguiu acesso ao conteúdo de um deles, que apura a denúncia de um adolescente que relatou ter sido agredido para confessar participação no tráfico de drogas, durante uma abordagem ocorrida em janeiro.
A abertura da investigação sobre a conduta dos policiais foi determinada na audiência de custódia, pois o laudo de corpo de delito identificou hematomas no cotovelo direito, na coxa esquerda e escoriações nos punhos do menino. Nenhuma das partes foi ouvida até o momento.
Embora a investigação sobre uma possível prática de tortura ainda esteja em andamento, o adolescente que denunciou os policiais foi condenado, no mês seguinte, a ser internado na Fundação Casa. A condenação se baseou apenas na palavra dos policiais Ceccolini, Cirineu e Moacir. Eles negam ter agredido o adolescente. A reportagem não teve acesso ao vídeo da audiência em que o menino relata como tudo aconteceu.
Outro caso que está sendo investigado é o das mortes de Rian Gustavo Alves de Campos e Antony Juan Nascimento Lisboa, que foram baleados durante ação do “bonde”, em 16 de maio. Testemunhas ouvidas pela Ponte relataram que Rian não estaria armado e que a arma encontrada com ele teria sido “plantada” pelos investigadores. Os policiais negam.
Envolvido com o tráfico local, Rian estaria sendo monitorado por Moacir, Ceccolini e Cirineu, que atuam na Delegacia de Polícia Central de Itu. Segundo o boletim de ocorrência, os policiais civis saberiam que o jovem usava um espaço na mata próximo ao conjunto habitacional para fazer a contabilidade do dia, e por isso teriam se escondido na mata e aguardado a sua chegada.
O documento afirma que Rian reagiu à ordem de parada e disparou duas vezes contra os policiais civis usando um revólver. A arma não foi encontrada no local pela perícia, mas apresentada pelos investigadores na delegacia. A versão dos policiais no boletim não explica por que duas pessoas foram mortas se apenas uma supostamente estava armada.
Segundo as pessoas ouvidas pela reportagem, os jovens baleados foram arrastados do local dos tiros, no meio da mata, para a rua, onde uma ambulância os levou à Santa Casa de Itu, onde já teriam chegado mortos. Antony estava com o braço quebrado e tinha terra em sua boca e nariz. No dia seguinte, familiares das vítimas voltaram ao local da morte e descobriram que o sofá onde Rian morreu havia sido queimado.
Em 2023, a Ponte também contou a história de um adolescente de Itu detido e internado por suposto crime análogo ao tráfico de drogas. Sua mãe, Gislaine Marcolino Dalbello, 50, contou à reportagem que ele havia sido “forjado”, com drogas apresentadas como suas. Ele passou nove meses internado em 2022, e mais sete em 2023, quando foi novamente apreendido, pelos mesmos policiais. Publicamos outra reportagem quando, em 2024, ele foi novamente internado. Em ambos os casos, foram Moacir e seu bonde os responsáveis pela detenção do adolescente, que segue internado ainda hoje.
Nas redes sociais, os policiais costumam fazer piada e celebrar mortes durante as ações. São vídeos mostrando operações e apreensões, expondo pessoas detidas ou suspeitos, inclusive crianças e adolescentes, pedindo compartilhamento de imagens ou informações, mostrando agressões e fazendo chacota com pessoas presas ou suas famílias.
MP pede arquivamento em caso de furto de joias
Um dos poucos casos que se transformaram em uma acusação formal contra parte do bonde teve uma reviravolta em 8 de julho, quando o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) resolveu pedir o arquivamento do processo. Moacir, Ceccolini e Fábio Consalez Xavier de Freitas tinham sido acusados de invadir uma residência e furtar três caixas contendo joias e bijuterias do neto de uma moradora de um condomínio localizado em Indaiatuba, cidade vizinha a Itu, em 2021.
O promotor Marcelo di Giácomo Araújo entendeu que havia “fragilidade” das provas obtidas, uma vez que a moradora do prédio, a única testemunha a mencionar a invasão dos policiais, faleceu oito meses depois sem prestar depoimento em juízo. Já o neto dela, dono das joias, disse na Corregedoria da Polícia Civil que as teria levado com ele em uma viagem ao Chile, mas não chegou a ser ouvido no processo. Por fim, a ex-esposa do dono das joias declarou em audiência, no dia 25 de junho, que ele lhe teria dito que o crime não tinha acontecido.
Os três policiais negaram o furto das joias. O juiz José Eduardo da Costa acatou o pedido do MPSP nesta quarta-feira (24) e absolveu o trio pelo crime.
Em 2022, os agentes foram punidos administrativamente pela Corregedoria da Polícia Civil por não terem informado a realização de diligências na cidade vizinha, já que eles informaram que estavam atrás de um endereço em que haveria a receptação de eletrônicos furtados. Moacir foi penalizado com repreensão e Ceccolini, com advertência. Os dois negaram terem entrado na casa da moradora e disseram que foram a outro endereço, mas o colega Fabio Consales confirmou a ida até o apartamento e alegou que a mulher permitiu a entrada no local.
O que diz a polícia
A Ponte solicitou entrevista com Moacir, mas ele disse que não poderia dar declarações sem autorização da corporação e pediu para que a reportagem entrasse em contato com a Polícia Civil. O policial e pré-candidato também não informou contato de advogados que pudessem representá-lo.
A reportagem procurou a Secretaria da Segurança Pública sobre as apurações que recaem contra os investigadores, mas a Fator F, assessoria terceirizada da pasta, informou em nota que os policiais permanecem afastados das funções e não quis dar maiores detalhes. “Apurações na esfera administrativa são conduzidas contra os agentes e detalhes serão preservados diante do sigilo imposto pela Lei Orgânica da Instituição”, declarou.
Com informações ICL
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