Israel matou mais 95 palestinos em Gaza nesta madrugada

Mulheres e crianças são 70% dos mais de 900 feridos; norte volta a ser isolado e há expectativa de ataques terrestres nos próximos dias

Israel matou mais 95 palestinos em Gaza nesta madrugada

Ao menos mais 95 palestinos morreram na madrugada desta quinta-feira (20/03) em ataques de Israel contra Gaza. Não houve aviso prévio nem ordem de desocupação das áreas atingidas. Os bombardeios atingiram localidades do norte e do sul, sobretudo edifícios e casas residenciais em Jan Yunis, Rafah, Jabália, Beit Lahiya e em toda a Strip. Muitos das vítimas são crianças, algumas delas recém-nascidas.

“Os ataques parecem concebidos para causar o máximo de baixas, no mesmo padrão dos ataques no início da guerra”, diz o jornalista Hani Mahmoud da Al Jazeera, diretamente da Cidade de Gaza. “Os últimos ataques tiveram como alvo famílias inteiras reunidas em abrigos temporários”, acrescenta Mahmoud. Muitos morreram quando dormiam ou quando faziam a primeira refeição do dia antes do nascer do sol.

Ao todo, desde terça-feira (18/03), quando Israel rompeu o cessar-fogo, os ataques israelenses mataram ao menos 500 palestinos no enclave.  O número sobe rapidamente porque não há condições de atender adequadamente os feridos, em sua maioria com ferimentos graves. Os hospitais estão parcial ou totalmente destruídos e impedidos de receber insumos há quase três semanas pelo bloqueio de Israel. Também estima-se que haja muitos soterrados, mas a defesa civil não consegue resgatá-los porque a vigilância aérea de Israel continua intensa.

“Cerca de 70% dos feridos desde terça-feira são crianças e mulheres e a maioria dos ferimentos é grave”, disse o porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Khalil Al-Daqran, à reportagem da Al Jazeera Arabic. “Muitos estão morrendo pela impossibilidade de fornecer atendimento médico urgente devido à escassez de equipamentos básicos e medicamentos”, frisou ele.

Bombas atingem instalações da ONU  e matam funcionário

Entre as novas vítimas há um funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele morreu quando os bombardeios atingiram duas casas de hóspedes que esse organismo mantinha em Deir al-Balah, no centro de Gaza. A ONU pediu investigações.

“A localização de todas as instalações da ONU é bem conhecida pelas partes, que estão obrigadas pelo direito internacional a protegê-las”, disse um porta-voz de António Guterres, secretário-geral da ONU.

O ataque ao edifício das Nações Unidas feriu cinco pessoas, entre elas o britânico Darren Cormack, chefe da Mines Advisory Group, instituição de caridade que se dedica a desarmar minas. O exército israelense negou a autoria desse ataque.

As forças de Tel Aviv ainda começaram a retomada do corredor de Netzarim, uma estrada estratégica de 6,4 quilômetros que corta Gaza de leste a oeste, separando o norte do sul da faixa. Durante o cerco ao norte, a estrada ficou conhecida como corredor da morte porque o exército israelense alvejava qualquer pessoa que pisasse a região.

Tropas voltam a isolar o norte de Gaza

Segundo autoridades humanitárias ocidentais mencionadas pelo jornal britânico The Guardian, na madrugada de quarta-feira (19/03), as tropas sionistas voltaram a ocupar boa parte da estrada.

A empresa de segurança privada que protegia os postos de controle na estrada se retirou na noite anterior e, na madrugada, as tropas israelenses entraram com veículos blindados, tanques e a pé. Acredita-se que as forças israelenses já tenham ocupado as quatro bases fortificadas existentes no corredor. Com isso, viajar do norte para o sul de Gaza voltou a ser impossível, segundo as autoridades ouvidas pelo jornal.

Israel também ordenou a evacuação de cerca de 150 mil pessoas no norte e leste de Gaza para que não ficassem numa zona de combate. A expectativa, portanto, é que haja retomada dos ataques terrestres nos próximos dias.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse que a ofensiva continuará “até a vitória total” sobre o Hamas e a libertação dos últimos 59 reféns. Suas palavras foram reforçadas pelo ministro da Defesa israelense Israel Katz que fez um “último aviso” aos palestinos de Gaza na quarta-feira (19/03).

“Devolvam os reféns e removam o Hamas e outras opões se abrirão para vocês, incluindo a possibilidade de partir para outros lugares do mundo”, disse Katz

Entretanto, desde que os ataques a Gaza foram retomados, dezenas de milhares de israelenses tomaram as ruas se manifestando contra o governo de Netanyahu. Eles exigem o fim dos ataques por considerá-los uma sentença de morte para os reféns. Muitos também avaliam que a retomada da guerra é apenas uma estratégia de Netanyahu para se manter no poder e de forma cada vez mais autocrática.

Houthis atacam Israel em solidariedade

Também nesta madrugada (20/03), o exército israelense interceptou um projétil procedente do Iêmen. Embora o míssil tenha sido destruído antes de cruzar a fronteira, os alarmes soaram em várias áreas de Israel.

Uma hora depois, um porta-voz dos houthis, disse que o grupo era o autor do ataque que tinha como alvo o Aeroporto Internacional Bem Gurion, perto de Tel Aviv. Desde que Israel rompeu o cessar-fogo em Gaza, os houthis prometeram retaliar em solidariedade aos palestinos. “Vocês não estão sozinhos”, disseram eles.

O grupo rebelde informou também que voltou a atacar na madrugada desta quinta-feira o porta-aviões norte-americano USS Harry e os navios de guerra em seu entorno, no mar Vermelho.

Ao longo dos 15 meses da guerra em Gaza, os houthis atacaram várias vezes navios mercantes que atravessavam o Mar Vermelho levando suprimentos para Israel. Os ataques foram interrompidos durante o cessar-fogo e retomados quando Israel restabeleceu o bloquei à entrada de suprimentos en Gaza. O foco agora está na frota militar dos Estados Unidos no mar vermelho.

FONTE Opera Mundi

Por Ultima Hora em 21/03/2025
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