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Por Carlos Arouck
A recente condenação de uma cabeleireira por escrever com batom em uma estátua escancara uma realidade incômoda: a covardia do jornalismo contemporâneo. Diante de uma pena de 14 anos, era de se esperar uma cobertura crítica.
No entanto, a mídia, em vez de denunciar a pena desproporcional, preferiu transformar a ré em um símbolo político, encaixando-a em narrativas convenientes – especialmente as de direita. O resultado? O debate sobre justiça e proporcionalidade foi soterrado por mais uma batalha ideológica estéril.
Não há nada de “suposto” no abuso dessa condenação. Mas é exatamente esse tipo de eufemismo que domina as manchetes. “Supostos abusos”? A palavra não é neutra; ela comunica hesitação, medo, submissão. Como se fosse necessário um decreto divino para que os jornalistas chamem um exagero jurídico pelo nome. Essa postura não é prudência – é conivência.
E quando a imprensa não se omite, em vez de investigar e contextualizar, recorre ao conforto da “repercussão nas redes”. Mas desde quando registrar o que já está sendo dito em plataformas digitais é jornalismo? Isso não é informar; é refletir o barulho da multidão sem acrescentar nada.
Depois, ironicamente, os mesmos veículos reclamam da perda de credibilidade. Mas como esperar respeito do público se, diante de um caso evidente de desproporção, o jornalismo se recusa a tomar posição? A imprensa não perde espaço porque é vítima – perde porque se acovarda. E credibilidade não se implora; se conquista.
O caso da cabeleireira poderia ter sido o ponto de partida para uma discussão séria sobre justiça, liberdade de expressão e o equilíbrio das penas. Mas não foi. Em vez disso, virou mais um espetáculo político em que a mídia escolheu o papel de coadjuvante omissa. O que está em jogo aqui não é só esse episódio, mas o futuro de um jornalismo que, ao hesitar, se torna irrelevante.