Kamala e Trump trocam ataques sobre aborto, economia e imigração em debate marcado por provocações e desmentidos

Kamala Harris colocou adversário na defensiva com tom mais assertivo e agressivo. Trump insistiu na narrativa anti-imigração e foi corrigido diversas vezes pelos apresentadores.

Kamala e Trump trocam ataques sobre aborto, economia e imigração em debate marcado por provocações e desmentidos

 

O primeiro debate entre Donald Trump e Kamala Harris, na noite desta terça-feira (10), foi marcado por trocas de acusações em temas centrais da corrida à Casa Branca e pelo tom mais assertivo de Harris, que colocou o adversário na defensiva.

Enfática e expressiva, Kamala Harris investiu em ataques a Trump, procurou se desmarcar de Joe Biden ao mesmo tempo em que defendeu seu governo e evocou, com oratória segura, seu passado como procuradora-geral, despistando dúvidas sobre se conseguiria lidar com acusações de Trump em respostas rápidas e sem apoio de sua equipe e de anotações, que não puderam entrar no auditório do debate.

Donald Trump, que começou o debate repetindo o tom mais calmo que adotou no cara a cara contra o presidente Joe Biden, em junho, também foi optando por falas mais agressivas ao longo do enfrentamento em reação a provocações constantes da adversária.

Ele tentou atrelar democrata a Joe Biden, tentando tirar proveito do mau desempenho do presidente. "Ela é Biden. Ela está querendo se afastar de Biden, mas ela é Biden", disse.

"Claramente, eu não sou Biden, e certamente não sou Donald Trump. Estou querendo oferecer uma nova geração de líderes aos americanos", retrucou Kamala Harris.

A atual vice-presidente dos EUA disse ter passado os quatro últimos anos "limpando a bagunça de Donald Trump", acusou o ex-presidente de deixar o governo com altas taxas de desemprego e com uma política externa desastrosa e criticou sua gestão da pandemia.

Foi especialmente enfática e cresceu no debate ao ser questionada sobre aborto. Disse que seu adversário vai liderar um "plano nacional para banir o direito ao aborto", o que Trump negou.

O ex-presidente acusou a adversária de "querer fazer operações transgênero pelo país", a chamou de "marxista" e disse que os EUA se tornarão "uma Venezuela com anabolizante" caso a adversária vença.

No entanto, o republicano insistiu em discursos voltados ao seu eleitorado, como o de que o país está sendo "invadido" por criminosos de outros países. Em cinco ocasiões diferentes, repetiu o discurso anti-imigração, desvirtuando de outros temas. Chegou a dizer que imigrantes estão comendo cachorros de norte-americanos e foi desmentido pelos apresentadores.

Após o debate, sua equipe se queixou das correções, e o próprio Donald Trump afirmou ter achado o mesmo e disse que o debate "foi um 3 contra 1".

O enfrentamento, que durou pouco mais de 90 minutos, foi também o primeiro encontro entre o republicano e a democrata, que nunca haviam ficado frente em frente ao vivo. Antes mesmo do início do debate, quando entraram no estúdio, Kamala Harris mostrou uma postura mais assertiva. Caminhou até o candidato republicano, estendeu a mão e disse: "bom te ver".

Para Kamala Harris, o debate foi a primeira e, talvez, única oportunidade de se apresentar para o público geral — uma pesquisa do "The New York Times" afirmou que 28% dos eleitores não sabem bem quem ela é — e de tentar fazer chegar ao eleitorado de Trump o discurso de que seu rival, um bilionário, só governará para si mesmo, enquanto ela, uma ex-procuradora-geral, seguirá pensando no povo.

Ao responder à primeira pergunta, sobre economia, ela disse que "vim da classe média e seguirei governando para a classe média", enquanto Trump "governará para ele mesmo". "Meus valores não mudaram", afirmou a democrata, que se esquivou ao ser questionada sobre se a oconomia do país estava melhor agora do que há quatro anos. Ela disse apenas que reduzirá taxas para a compra de imóveis.

Raça

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Como esperado, Donald Trump evitou ataques pessoais a Kamala Harris, mas foi perguntado pelos apresentadores por que questionou a identidade racial da adversária durante um comício em julho.

"Eu não ligo o que ela é, não podia me importa menos. Eu disse aquilo porque li que ela não disse era branca", disse o republicano.

Harris, que também tem evitado explorar demais as questões de raça e gênero, aproveitou o momento para evocar o passado "racista" de Trump. "É uma tragéida que tenhamos alguém que queira ser presidente e que tenta usar a raça para dividir o povo americano. Não queremos essa abordagem, especialmente sobre raça", disse.

Guerra em Gaza e na Ucrânia

Quando os temas de Israel e da guerra em Gaza foram colocados no debate, as atenções voltaram para Kamala Harris — seus comícios têm sido alvo de protestos pró-Palestina por conta do apoio que o governo de Joe Biden tem dado a Israel desde o início do conflito.

Em uma fala repetida e sem riscos, a democrata disse apoiar o direito de defesa de Israel mas achar que "vidas inocentes demais foram pedidas em Gaza", e, por isso, defende o acordo de cessar-fogo e a solução de dois Estados.

Trump foi mais enfático ao falar sobre o tema: "Se eu fosse presidente, a guerra nunca teria começado. Se eu fosse presidente, a Rússia nunca teria invadido a Ucrânia. Eu conheço o Vladimir Putin muito bem".

Ele também acusou Harris de "odiar Israel e a população árabe". Aproveitando o gancho aberto pelo próprio adversário ao mencionar Putin, a democrata disse que "é sabido que ele admira ditadores".

Sobre o conflito na Ucrânia, Trump disse que tem "um bom relacionamento" tanto com Putin quanto com presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky e prometeu que dará um fim à guerra caso seja eleito. Já Biden, afirmou o republicano, não tem boa relação com nenhum dos dois.

"Deixe eu te lembrar que você não está concorrendo com o Joe Biden. Você está concorrendo comigo", retrucou Kamala Harris, que defendeu a atuação da gestão de Biden na guerra da Ucrânia. "Se não fosse ele, Putin estaria sentado na Europa".

Antes do debate, especialistas estimaram que o cara a cara deveria ocorrer sem grandes riscos de ambos os lados, por conta da disputa apertada entre os dois — que aparecem em empate técnico nas últimas pesquisas de intenção de voto (leia mais abaixo).

A expectativa é que Kamala não foque sua narrativa nas questões de raça e gênero e use habilidades oratórias que conquistou durante sua carreira de procuradora-geral da Califórnia, cargo que ela conquistou através do voto público. E que explore ao máximo o discurso de que governará para a classe média, como fez quando era procuradora —além de investir em ataques a Trump.

Com informações G1

 

 

Por Ultima Hora em 11/09/2024
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