Lula, a Inflação e o Bolso Furado do Povo

Lula, a Inflação e o Bolso Furado do Povo

Queridos leitores e leitoras.

Não está nada fácil para o governo Lula. Se até alguns meses atrás a popularidade do presidente ainda se sustentava no discurso de reconstrução nacional, as últimas pesquisas mostram que a paciência do eleitorado tem prazo de validade – e ele está vencendo mais rápido do que iogurte fora da geladeira. O motivo? Nada menos que um clássico da política brasileira: a inflação dos alimentos.

Fevereiro trouxe um registro indesejado para o governo, com os preços subindo como foguetes de Elon Musk, só que sem perspectiva de aterrissagem. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 1,31% no mês, a maior taxa para fevereiro desde 2003. Quem foi ao supermercado nas últimas semanas vê que a conta final não bate: arroz, feijão, carne – tudo com valores que fariam um gourmet questionar se está comprando comida ou investindo no mercado financeiro.

A queda na popularidade de Lula é quase uma regra matemática: preço do tomate sobe, aprovação desce. E o tomate, queridos leitores, não está apenas subindo; ele está escalando o Everest com uma mochila cheia de juros altos e desalento econômico. Pesquisa do Instituto GERP de 28 de fevereiro indicava que apenas 25% consideravam o governo Lula ótimo ou bom, já a pesquisa IPEC divulgada ontem, mostra que 41% dos brasileiros avaliam o governo como ruim ou péssimo, enquanto 27% o classificam como ótimo ou bom.

Mas e o governo? Bem, a resposta tem sido um misto de cautela e otimismo compulsório. A equipe econômica aposta que o pior já passou (será mesmo?), enquanto Lula tenta manter seu eleitorado fiel com medidas paliativas e uma boa dose de retórica. Uma dessas medidas é a isenção de impostos de importação para alimentos como carnes, café, açúcar e milho, anunciada recentemente com o objetivo de conter a inflação.

No entanto, especialistas apontam que essa estratégia pode ter efeito limitado. O economista Matheus Dias, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), afirmou que a isenção terá um impacto limitado sobre os preços internos, já que "praticamente nenhum dos itens beneficiados é efetivamente importado". Além disso, os fatores de câmbio e logística continuam pressionando os preços, tornando-se uma medida insuficiente para conter a inflação dos alimentos.

E como a oposição está aproveitando o momento? Com um festival de 'eu avisei' e indignados de ocasião, os bolsonaristas de plantão já tratam a inflação como um presente caído do céu, pronto para ser usado nas redes sociais e nos discursos de pré-campanha. Afinal, a memória política do Brasil é curta, e muitos já esqueceram que a carne já estava impraticável bem antes de Lula voltar ao poder.

O governo parece apostar que o problema se resolverá sozinho, ou que um intervalo temporário será suficiente para estancar a sangria da popularidade presidencial. Mas o mercado – e, mais importante, o consumidor – sabe que a economia não se governa com discursos, e sim com medidas eficazes. Se o brasileiro continuar sentindo no bolso o peso de um carrinho de compras cada vez mais vazio, a conta política para Lula poderá ser bem mais salgada do que qualquer ovo inflacionado.

No fim das contas, o governo precisará mais do que narrativas para reverter esse cenário. Se o eleitor sentir que seu bolso virou um buraco negro onde o salário desaparece antes do dia 10, a lua de mel com Lula pode acabar mais cedo do que o esperado. E político sem popularidade é como feira sem pastel: falta glamour.

Resta saber se o governo conseguirá domar essa inflação antes que ela se transforme no grande vilão do próximo ciclo eleitoral.

Agora vamos aproveitar o fim de semana e comer aquele bife ancho argentino, sem impostos.

Filinto Branco - Colunista político

Por Ultima Hora em 15/03/2025
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