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Queridos leitores e leitoras,
Há farsas que se repetem com tal frequência que acabam se tornando quase um folclore político. No Brasil, uma delas atende pelo nome de "Lula contra os juros altos". A outra, nos Estados Unidos, atende pelo nome de "Trump como defensor da paz no Oriente Médio". Ambas são igualmente risíveis, mas perigosas, e eis o porquê.
Comecemos pelo Brasil. O Banco Central decidiu elevar a taxa Selic em 1%, levando-a para 13,25%. Somos, mais uma vez, campeões do mundo, mas não de futebol, e sim de juros altos. Como sempre, Lula brada contra os juros altos, ataca o mercado financeiro, o Banco Central e tenta se vender como o grande inimigo dos rentistas. Mas, como bem sabemos, na prática, sua retórica não passa de um teatro. Durante seus dois primeiros governos, ele conviveu muito bem com juros estratosféricos, nunca interferiu na política monetária – poderia ter mudado o presidente do BC – e garantiu lucros robustos aos bancos. O que mudou agora? Apenas o discurso.
A taxa Selic elevada é um problema real, pois encarece o crédito, desacelera a economia e aumenta a dívida pública, mas Lula se recusa a enfrentar esse dilema de frente. Seu governo não promove reformas estruturais que reduzam o déficit público, preferindo aumentar os gastos sem controle, o que, claro, gera desconfiança no mercado e contribui para a manutenção da Selic em níveis altos.
É um círculo vicioso em que Lula finge ser contra os juros altos, enquanto suas políticas os tornam inevitáveis. No fim, quem paga a conta é o trabalhador e o empresário que precisa de crédito. Mas isso, claro, não entra no palanque do presidente. Vale lembrar que o atual presidente do Banco Central, Galipolo, e a maioria dos diretores do órgão são indicações de Lula. Desta vez, no entanto, o presidente poupou o Banco Central e seu presidente, o que não fazia quando era Roberto Campos Neto.
O problema é que o aumento exagerado da taxa de juros é o tipo de remédio que pode matar o doente. O argumento de que a alta da Selic controla a inflação não se sustenta quando os juros atingem níveis tão extremos, sufocando o consumo, desestimulando investimentos e travando o crescimento econômico. No final das contas, combate-se uma doença matando o paciente – ou, no caso, jogando o país na recessão.
Agora, vamos ao hemisfério norte e vejamos a mais recente bravata de Donald Trump. O presidente dos Estados Unidos, recém-eleito, resolveu opinar sobre o conflito entre Israel e Palestina com uma proposta tão absurda que chega a ser criminosa: os EUA deveriam "tomar conta" da Faixa de Gaza, retirando os palestinos de lá. Isso mesmo, Trump defende uma espécie de limpeza étnica patrocinada pelo Pentágono -holocausto II-, disfarçada de "solução de paz".
A ideia não é só inviável, mas também moralmente repulsiva. A Faixa de Gaza já é um território cercado, bombardeado e castigado há décadas, e Trump quer transformar o que restou dela em uma colônia americana, como se os palestinos fossem um incômodo descartável. A proposta revela não apenas a brutalidade do trumpismo, mas também a disposição do presidente em atiçar conflitos globais para alimentar sua base mais radical. Afinal, o que poderia ser mais atrativo para os setores ultranacionalistas dos EUA do que uma nova "conquista" no Oriente Médio?
Assim, abaixo da linha do Equador, temos um presidente que grita contra os juros altos enquanto suas políticas garantem a festa do rentismo. Acima, temos um presidente recém-eleito que se vende como pacificador, enquanto propõe uma ocupação militar genocida. O teatro político segue firme, mas as consequências dessas farsas, infelizmente, são bem reais.
Até a próxima,
Filinto Branco – colunista político
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