Mães criticam Paes por retirada de homenagem a crianças vítimas de violência: ‘Indignada’

Memorial feito pela Rio de Paz existe desde 2015 e já homenageou diversas vítimas da violência no estado

Mães criticam Paes por retirada de homenagem a crianças vítimas de violência: ‘Indignada’

A decisão do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), de mandar retirar, no último domingo (29), as 49 fotos de crianças vítimas da violência no estado expostas pela ONG Rio de Paz, na Lagoa Rodrigo de Freitas, provocou a indignação das mães e pais dos jovens homenageados. Paes, no entanto, manteve as homenagens feitas a policiais militares mortos.

“Não dá para cada organização de cariocas indignados achar que vai fazer uma exposição em área pública do Rio de Janeiro — por mais justa que possa ser a homenagem e o registro — e instalar onde bem deseja na cidade”, alegou Paes, que mencionou que a homenagem aos PMs mortos pode ser revista.

No local onde estavam as fotos, representantes da ONG colocaram rosas em homenagem às vítimas. O memorial feito pela Rio de Paz existe desde 2015 e já homenageou diversas vítimas da violência no estado.

Ao ICL Notícias, mães e pais de crianças vítimas da violência no Rio de Janeiro criticaram a decisão do prefeito de retirar as homenagens após o ato da ONG Rio de Paz. Veja os depoimentos:

Depoimentos das mães e pais

João Pedro Matos, morto em 2020, em operação das polícias Civil e Federal, no Complexo do Salgueiro.

RAFAELA MATOS, mãe de João Pedro Matos, morto em 2020, em operação das polícias Civil e Federal, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo.

“Eu me sinto muito triste em saber que o prefeito Eduardo Paes mandou arrancar as fotos das crianças que foram vítimas letais do estado, penduradas na Lagoa Rodrigo de Freitas. Não tem como mascarar essa realidade. Isso é muito cruel, isso é muito triste para uma família que luta por justiça, memória e reparação. Nós somos a memória dos nossos filhos e, enquanto estivermos vivos, lutaremos por essa memória porque todos os dias o estado tenta mascarar essa realidade do Rio de Janeiro”.

Juan Davi de Souza Faria, 11 anos, morto em 1º/01/2023.

LUIS FELIPE ALVES DA SILVA, pai de Juan Davi de Souza Faria, 11 anos, morto em 1º/01/2023 por bala perdida, enquanto via os fogos com a família em Mesquita, na Baixada Fluminense.

“O prefeito Eduardo Paes, que retirou o mural feito pelo Rio de Paz homenageando as crianças mortas por bala perdida, é o mesmo que nos deve resposta e justiça. O mesmo que nos deve empatia e respeito”.

Vanessa Vitória Matos, morta em 2017

LEANDRO MONTEIRO MATOS, pai de Vanessa Vitória Matos, morta em 2017, em tiroteio entre PMs e criminosos quando estava dentro de casa.

“Fizemos o ato simbólico (na Lagoa) de colocar as fotos das crianças assassinadas por este desgoverno e nem nisso eles respeitam a gente. Meu sentimento é de muita dor. Isso é revoltante. Não nos dão segurança e ainda conseguem nos atacar. Nem respeitam mais nossos sentimentos É muito errado essas coisas. Difícil de aceitar. Meu sentimento é de muita tristeza, muita dor”.

Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, assassinado por PMs, na Cidade de Deus, em 2023

PRISCILA MENEZES, mãe de Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, assassinado por PMs, na Cidade de Deus, em 2023. Quatro dos assassinos estão presos.

“Achei uma falta de respeito com as famílias que já perderam seus filhos de uma forma tão covarde, vêm sofrendo, vêm na luta por justiça pelos nossos filhos. E a família, como fica? Por que ele fez isso? Foi uma ofensa? Não entendi e estou querendo entender o que aconteceu. Rosto de crianças, crianças que foram assassinadas, que perderam suas vidas. E deixou a placa dos PMs assassinados, que também, infelizmente, perderam as suas vidas. E só foram retirada a placa das nossas crianças, por quê? E foi uma falta de respeito com o Rio de Paz, que está sempre com os familiares, acendendo a memória dos nossos filhos”.

Ester Assis, morta por bala perdida quando saía da escola, ano passado, em Madureira.

THAMIRES ASSIS, mãe de Ester Assis, morta por bala perdida quando saía da escola, ano passado, em Madureira.

“Antes, eram só nomes. E a ONG Rio de Paz foi dar rosto aos nomes. Por que o senhor tirou apenas das crianças, e dos PMs mortos o senhor deixou? No meu entender, o senhor quis dizer que a vida das nossas crianças não vale nada. Eu, como mãe de uma criança morta com um tiro na testa quando vinha da escola, me sinto indignada, me sinto um lixo por ter votado no senhor, Eduardo Paes, e confiado no senhor o meu voto. Aí o senhor vai lá e arranca aquelas placas, não só da minha filha, mas de 48 crianças, além da minha filha. Eu queria entender o que passou na cabeça do senhor em mandar retirar aquelas placas. Em me sinto com uma sensação de impotência porque a única forma que eu e outros pais temos para gritar por justiça, por ajuda, foi essa, de colocar as fotos e os nomes dos nossos filhos mortos. E fica a minha indignação. O que levou o senhor a fazer isso? O senhor ganhou alguma coisa retirando as fotos lá?”.

Marcus Vinícius da Silva, 14 anos, morto em 2018.

BRUNA DA SILVA, mãe de Marcus Vinícius da Silva, 14 anos, morto em 2018 em operação realizada pela Força de Segurança Nacional, em conjunto com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, durante o período de Intervenção Federal no estado fluminense. Ele estava a caminho da escola.

“O prefeito Eduardo Paes não tem o direito de mexer com a memória dos nossos filhos. São apenas crianças e por que elas estão incomodando tanto? São rostos que nada fizeram. Essas crianças poderiam estar dentro de casa com seus pais, mas o braço armado do estado não permitiu que elas ficassem com a gente. Aí, o Eduardo Paes, para fazer uma vista bonita para os gringos resolveu tirar as fotos dos nossos filhos (do mural). A gente não aceita esse tipo de tratamento com a memória dos nossos filhos. Foi uma atitude covarde. Com tanto problema acontecendo no Rio de Janeiro, na saúde, na escola, e ele preocupado com as fotos dos nossos filhos. Nossos filhos nada fizeram para estarem mortos, nada fizeram para não estarem ali naquele memorial. Nossos filhos têm mãe, nossos filhos têm voz e a gente não vai silenciar não.”

Por Ultima Hora em 31/12/2024
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