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Na semana do rock em Brasília, o Jornal da República e Última Hora foi ao encontro de uma figura emblemática da cena musical da capital: Magu Cartabranca, fundador da banda Sepultura de Brasília e testemunha ocular do nascimento do rock na cidade.
Em entrevista exclusiva realizada no Museu da Música em Brasília, Magu Cartabranca compartilhou memórias e reflexões sobre os primórdios do rock brasiliense. "Realmente é uma história longa", afirma o músico, rememorando o ano de 1977, quando ele e dois amigos fundaram a Banda Sepultura de Brasília.
Cartabranca destaca o contexto histórico da época: "Brasília não tinha nada, não tinha movimento, só aquele lado realmente tenebroso que era a ditadura". Foi nesse cenário que nasceu o desejo de agitar a cidade. "Você podia deitar ali no Eixão, tirar até uma soneca que não passava carro nenhum", relembra o músico.
O pioneiro do rock brasiliense também relata seus encontros com outras figuras icônicas da música nacional. "Tive o privilégio de tocar com o Renato Russo em 79, no projeto Canta Gavião", conta Cartabranca, ressaltando a importância desses eventos na formação da cena musical da capital.
Magu não poupa críticas à atual "Rota do Rock" de Brasília, idealizada por Felipe Seabra da Plebe Rude.
"Essa rota do rock ela vai só em certo lugar, mas ela não vai nos lugares principais, principalmente onde começou tudo", lamenta o músico.
O roqueiro também relembra sua participação no Aborto Elétrico, banda que contava com Renato Russo e membros do que viria a ser o Capital Inicial. "Desse movimento todo, a única pessoa que eu não tinha muito contato era realmente o Dinho Ouro Preto", revela.
Cartabranca não se furta a abordar temas polêmicos, como as diferenças de tratamento entre músicos de diferentes origens sociais. "Os filhos dos milicos tinham esse privilégio, as costas eram mais largas", comenta, referindo-se a integrantes de bandas como os Paralamas do Sucesso.
O músico também critica o cenário atual do rock em Brasília, apontando a existência de "panelinhas" que dificultam o acesso de novos artistas a oportunidades e cachês. No entanto, ele elogia iniciativas como o Dia do Rock Brasiliense, criado pelo deputado distrital Ricardo Vale.
Um dos momentos mais curiosos da entrevista foi quando Cartabranca relembrou a história do caixão em sua casa, que chegou a ser visitada por Renato Russo. "Eu não dormia dentro do caixão, dormia do lado", esclarece o músico, desfazendo um mito que perdurou por anos.
Magu também abordou a disputa judicial pelo nome "Sepultura" com a famosa banda de metal. "Foi uma briga longa, demorou, e acabou indo pro Supremo", conta. Apesar da derrota na justiça, o músico mantém o orgulho pela história de sua banda.
Ao final da entrevista, Cartabranca deixa uma mensagem para as novas gerações: "É importante você seguir essa história, parar e pensar. O rock tem esse lado de trazer filosofia, poesia, te mostrar o caminho das coisas".
O legado de Magu Cartabranca não se limita apenas à sua atuação com a Sepultura de Brasília. Em julho de 2022, o músico deu início a um novo capítulo em sua carreira, fundando a banda Os Candangos, juntamente com Balaio Sann e Márcio Lennon. O grupo, que começou a se apresentar em outubro do mesmo ano, tem levado seu repertório autoral a diversos eventos importantes no Distrito Federal.
"O set de apresentação da banda Os Candangos traz o saudosismo do rock autoral dos anos 80 em Brasília", explica Cartabranca. Com uma formação atual que inclui Magu nos vocais, Márcio Lennon na bateria, Rodrigo Brou na guitarra, Devi Kunhn no contrabaixo e back vocal, e Apolos Paz na harmônica, teclado e back vocal, a banda tem resgatado não apenas o som, mas o espírito do rock brasiliense.
Entre as músicas do repertório, encontram-se algumas que eram tocadas pela antiga Sepultura de Brasília, compostas pelo próprio Magu. "São músicas cantadas em português, que trazem esperança, falam do sonho de Dom Bosco, do céu mais bonito, das aventuras de crescer e morar nessa cidade maravilhosa, na Capital do Rock", descreve o músico.
A trajetória de Magu Cartabranca é tão rica e diversificada quanto a própria história do rock em Brasília. Nascido na divisa de Goiás e Mato Grosso, às margens do rio Araguaia, o músico chegou à capital federal no final de 1969, aos 12 anos de idade. "Logo de cara senti a brisa, o sonho de Dom Bosco me abraçar, acalmar meu coração", relembra ele sobre suas primeiras impressões da cidade.
Ao longo de sua carreira, Cartabranca não se limitou apenas à música. Ele também se aventurou na literatura, tendo escrito três livros: "O Cantor e o Som Imaginário", "O Anjo, Novela e Filosofias" e "Os Dez Olhos do Homem". Essa versatilidade artística se reflete em suas composições, que frequentemente mesclam elementos poéticos e filosóficos.
O músico faz questão de ressaltar a importância de se preservar e transmitir a história do rock brasiliense para as novas gerações. "É fundamental que os jovens conheçam suas raízes musicais, que entendam o contexto em que essas bandas surgiram e o impacto que tiveram na cultura da cidade e do país", afirma.
Cartabranca também aborda os desafios enfrentados pelos músicos durante a ditadura militar, período em que o rock emergiu como uma forma de expressão e resistência. "A gente era ideologicamente conduzido a não gostar da polícia. Era muito dedurismo, muita vigilância", relembra ele, destacando como esse ambiente repressivo acabou por alimentar a criatividade e a rebeldia dos jovens músicos.
Apesar das dificuldades e mudanças no cenário musical ao longo das décadas, Magu mantém-se otimista quanto ao futuro do rock. "Não acredite que morreu, que é censurado", aconselha ele aos jovens músicos. Para Cartabranca, o espírito do rock permanece vivo na atitude e na criatividade das novas gerações.
A entrevista com Magu Cartabranca não apenas revisita a história do rock brasiliense, mas também serve como um chamado à valorização e preservação desse importante capítulo da cultura brasileira. Seu testemunho e sua contínua atividade musical são provas vivas de que o rock de Brasília, longe de ser apenas um fenômeno do passado, continua a influenciar e inspirar músicos e fãs em todo o país.
Ao final da reportagem, fica claro que Magu Cartabranca não é apenas um músico, mas um verdadeiro guardião da memória do rock brasiliense. Sua jornada, que se confunde com a própria história da capital federal, serve como inspiração e fonte de conhecimento para todos aqueles que desejam compreender a rica tapeçaria cultural que é o rock brasileiro.
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