Norte-americanos sem vacina do sarampo não devem entrar no Brasil, diz pesquisadora

Margareth Dalcolmo defende que certificado de vacinação seja cobrado; surto de sarampo nos EUA já deixou 2 mortos e mais de 200 doentes no país

Norte-americanos sem vacina do sarampo não devem entrar no Brasil, diz pesquisadora

A pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo discursou na abertura do ano letivo da Escola Nacional de Saúde Pública nesta segunda-feira (10) e defendeu que o Brasil passe a cobrar certificado de vacinação de sarampo para turistas norte-americanos que venham ao país.

Membro titular da Academia Nacional de Medicina e pneumologista reconhecida, Dalcolmo falou em uma palestra com o tema “Desafios para o futuro da saúde pública” e expôs sua insatisfação com as medidas do governo Trump em relação aos cuidados com a vacinação e a proteção ao sarampo nos Estados Unidos.

Atualmente, os EUA estão vivenciando um surto da doença. Conforme o último balanço, foram confirmados 198 casos no Texas e dez no Novo México. Cada Estado registrou uma morte. Nenhuma das vítimas estava vacinada contra o sarampo. A causa oficial dos óbitos ainda não foi divulgada, mas os Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA classificaram as mortes como relacionadas ao sarampo.

Segundo Dalcomo, até o momento, depois da folia de carnaval, não há registro de nenhum vírus novo circulando no Brasil. “Eu tenho a disciplina de todas as manhãs entrar no monitoramento, no Infogripe da Fiocruz e no monitoramento da OMS para ver a situação, mas infelizmente não entro mais no nosso querido e respeitado CDC (Centers for Disease Control and Prevention), nos Estados Unidos, pelas medidas tristes, que todos nós sabemos, tivemos o acesso interrompido pela atual administração norte-americana”, relatou.

Sem informações atualizadas publicadas pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), órgão de controle dos Estados Unidos, a desinformação tem contribuído para o descontrole do sarampo.

sarampo

Pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo

“Hoje nós começamos a ver algo que nós nunca tínhamos pensado em termos de saúde pública: uma diáspora ao contrário. Nossos amigos brasileiros voltando para cá. O Brasil provavelmente vai recuperar alguns cérebros muito preciosos que foram embora nos últimos tempos, porque não encontraram como se manter aqui naquele período obscurantista que vivemos; e outros porque não vão mais conseguir permanecer lá (nos EUA)”, disse Margareth Dalcomo.

De acordo com a pesquisadora, a humanidade está diante de riscos de uma nova pandemia. “Eu temo nesse momento a H5N1. Não estamos conseguindo dados atualizados de maneira adequada, porque o CDC não publica mais. Já é hora de o Brasil começar a pedir certificado de vacina para qualquer norte-americano que venha para o nosso país. Nós não temos um caso de sarampo no Brasil há dois anos. Chegar a esse resultado não foi fácil. Deu muito trabalho”, disse Margareth.

Segundo ela, há medidas que são “diplomaticamente delicadas, mas do ponto de vista sanitário são fundamentais” — da mesma forma como sempre foi exigido dos brasileiros o certificado de vacinação em diversos países. “Não é admissível que o Brasil permita que, eventualmente, alguém que não tenha se vacinado contra o sarampo nos Estados Unidos por questões ideológicas possa trazer essa doença para cá — uma doença com alto nível de transmissão”, avaliou Dalcolmo.

Sarampo se espalha pelos Estados Unidos

Os Estados Unidos confirmaram a segunda morte por sarampo neste mês. Testes comprovaram que um morador do Novo México, que faleceu recentemente, estava com a doença. As informações foram divulgadas pelo Departamento de Saúde estadual na quinta-feira (6/3).

O paciente, um adulto que não havia sido vacinado, não chegou a procurar atendimento médico antes de morrer. De acordo com o diretor de informações públicas do Departamento de Saúde do Novo México, David Morgan, essa foi a primeira morte por sarampo registrada no estado em mais de 40 anos.

Com o caso, o número de infecções por sarampo no Condado de Lea, onde a vítima morava, subiu para dez. A região faz divisa com o Condado de Gaines, no Texas, que já registrou mais de 100 casos e a morte de uma criança não vacinada.

Sarampo é de rápida transmissão

O sarampo é uma doença infecciosa grave que pode levar à morte. Sua transmissão ocorre quando o doente tosse, fala, espirra ou respira próximo de outras pessoas. A doença é transmitida por um vírus de rápida circulação — por via aérea e por gotículas. Uma pessoa doente pode contaminar até 90% do seu grupo de convívio caso este não esteja imunizado.

A imunização consiste em duas doses para pessoas até 29 anos, sendo a primeira aplicação aos 12 meses e a segunda aos 15 meses. Para indivíduos de 30 a 59 anos, é aplicada apenas uma dose, caso a pessoa não tenha sido vacinada anteriormente. O imunizante está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).

A maneira mais efetiva de evitar o sarampo é por meio da vacinação. No Brasil, conforme o Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde, a meta de vacinação para evitar surtos da doença é de 95% – índice que foi alcançado com a primeira dose no ano passado. A vacina contra o sarampo faz parte do esquema vacinal da tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola.

Entre os sinais e sintomas do sarampo estão: exantema (manchas vermelhas) no corpo e febre alta (acima de 38,5°) acompanhada de um ou mais dos seguintes sintomas como tosse seca, irritação nos olhos (conjuntivite), nariz escorrendo ou entupido e mal-estar intenso.

Por Ultima Hora em 10/03/2025
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