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Dona Maria José de Freitas, mãe solteira de quatro filhos, lavadeira de roupa, não ficou sabendo, lá no conjunto habitacional do Paranoá, no Distrito Federal, que o empresário Rubens Menin — dono da MRV, Banco Inter e CNN Brasil — defendeu, sem corar as bochechas bilionárias, que o programa Bolsa Família precisa diminuir. Se possível, pelo seu desejo, urgentemente.
Caso a reivindicação política de Menin seja concretizada, seus negócios estarão mais lucrativos ainda, e dona Maria José de Freitas pode perder a sua proteção social, o que significaria sua ruína. Ela recebe R$ 600 e mais um adicional de R$ 150 concedido pelo governo Lula para ajudar a alimentar as crianças.
Ao defender a causa da turma do bilhão, em encontro de banqueiros do BTG Pactual, Menin foi aplaudido e consagrado pelos colegas. Pela fúria do clube da Faria Lima, SP, o governo federal deve cortar parte do Bolsa Família e do BPC (Benefício de Prestação Continuada), sob pena de arruinar o humor e o discreto charme da burguesia brasileira.
Para a confraria do Menin, é um abuso que essa gente humilde — 20 milhões de famílias, 17,4 milhões chefiadas por mulheres — insista em alimentar seus filhos e sobreviver.
O dono da MRV, uma das construtoras que mais faturou com programas sociais como o Minha Casa Minha Vida, ainda teve a cara de pau escravocrata de associar falta de mão-de-obra aos programas sociais. Ignora que, somente em 2024, 1,3 milhão de famílias que tinham direito à proteção da bolsa deixaram o programa por conquistarem novos empregos.
Dados na mesa, só me resta, diante da proposta do bilionário, convocar o sr. Peixoto, personagem da peça “Bonitinha, mas Ordinária” (1962), de Nelson Rodrigues. “No Brasil, quem não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte”, diz, profético.
A canalhice do sr. Menin, para o gozo coletivo e perverso do clube dos bilionários, é a história de ontem, hoje e sempre dos cafajestes que definem o futuro dos humilhados e ofendidos. É uma atitude que deixaria orgulhoso o Doutor Werneck, para finalizar com o canalha-mor do mesmo drama que reproduz a “elite” brasileira.
Por Xico Sá
Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias
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