O Brasil é o país em que até errar é um privilégio masculino

Por André Courel - Advogado e Jornalista

A seleção brasileira feminina foi eliminada da Copa do Mundo. A equipe liderada por Marta até jogou bem, mas não conseguiu furar a forte defesa da Jamaica, que jogava com o regulamento debaixo do braço. Resultado: Brasil eliminado. 

Bastou a eliminação ser sacramentada para as redes sociais serem inundadas de efusivas comemorações de homens que, apesar de habitarem em 2023, têm comportamentos do século XIX. Ninguém é obrigado a torcer por esportista nenhum pelo simples fato de ser brasileiro. Porém, alguns desses detratores das meninas do Brasil são adeptos aquela pachecada quadrienal, a seleção masculina.

A idiotice de alguns foi pantagruélica. Um deles, inclusive, disse que "a seleção feminina deve sua estrutura à seleção masculina, que ela dá dinheiro a CBF". Só faltou sugerir que a seleção feminina fizesse um ritual do beija-mão ao Neymar ou qualquer astro da masculina. 

Os termos "lacração" e "vexame" foram formas de qualificar tanto a seleção quanto a cobertura da imprensa acusada de "apoiar demais" nossas atletas, nem parecemos o país da "pátria de chuteiras". A acusação de lacração é ainda mais soturna, pois aparecer em propagandas das patrocinadoras da seleção, lutar por uma maior igualdade salarial, investimento no esporte ou tirar as estrelas do uniforme seriam formas de lacrar um termo que é tão 2016. Pelo menos fomos poupados daquele vencido adágio "quem lacra não lucra".

As meninas do Brasil realmente erraram. Quem elas julgam que são para buscarem direitos? Homens? A eliminação da forma que se sucedeu foi dolorosa e obviamente inesperada, mas muito longe de ser um vexame. 

O Brasil é um país extremamente machista, apesar da negação de alguns. Se todo problema fosse só a torcida contra, mas isso é só a ponta do iceberg' Falta estrutura, investimento, calendário para as equipes, dinheiro e o pior de todos, o respeito. Vivemos em país onde "beber demais" e a roupa que uma mulher veste pode dar o direito dela ser abusada e lutar por algum espaço pode ser considerado "lacração". 

E aos homens, infelizmente o maior vexame da história do esporte mundial é nosso. Já se esqueceram do 7 a 1 em casa? A derrota no futebol podemos esquecer ou até ignorar, mas enquanto as mulheres não tiverem o mínimo de apoio na sociedade, vamos ter esse eterno 7 a 1 onde mais dói na carne do nosso povo, de nossas mulheres.