O Mapa Político de 2024: Qual o Norte da Bússola do Futuro? - Por Luciano Martins

O Mapa Político de 2024: Qual o Norte da Bússola do Futuro? - Por Luciano Martins

 

O panorama geopolítico mundial de 2024 revela um equilíbrio delicado entre as forças ideológicas que moldam o presente. Em um ano em que 63 países foram às urnas, os resultados se dividiram quase igualmente entre a direita (27 vitórias) e a esquerda (25), com o restante distribuído entre movimentos de diferentes correntes. À primeira vista, essa divisão pode parecer a repetição de um padrão familiar: a eterna disputa entre dois polos ideológicos. No entanto, as eleições de 2024 não se limitam a uma simples manifestação dessa polarização. Elas são o reflexo de um momento global singular, em que as ideologias, embora ainda significativas, parecem se tornar um obstáculo na busca por soluções realmente transformadoras.

 

As separações políticas de 2024 não podem ser analisadas apenas sob a ótica de um espectro binário. O que as urnas revelam é que, por trás da fachada ideológica, o mundo enfrenta desafios profundos que não podem ser superados com soluções simplistas ou promessas de curto prazo. O nacionalismo, a crise ambiental, a desigualdade econômica e as migrações em massa são questões globais que, apesar de muito debatidas, muitas vezes são tratadas de forma superficial por uma política ainda pautada por dicotomias rígidas. A busca por alternativas que ultrapassem essas divisões se tornou mais urgente do que nunca, mas as eleições, em vários casos, refletem uma tentativa de preservar um status quo que já não responde adequadamente às demandas do século XXI.

 

Em diversas partes do planeta, observamos como essas crises se entrelaçam com ideologias que, apesar de distintas, convergem para um ponto comum: a incapacidade de lidar com a complexidade do momento. No Uruguai, Yamandú Orsi representou a continuidade de um projeto progressista, enquanto no Chile, a busca por inclusão se tornou central. Por outro lado, na Europa, o crescimento de partidos nacionalistas, como o Partido da Liberdade na Áustria, e o fortalecimento do populismo conservador nos Estados Unidos indicam que a resposta ao globalismo não ocorre apenas por meio da luta ideológica, mas pela demanda de preservação das identidades nacionais, que se veem ameaçadas por uma realidade interconectada e globalizada.

 

No entanto, ao nos concentrarmos exclusivamente na disputa entre direita e esquerda, corremos o risco de desviar o olhar do que de fato importa: as grandes transformações que estão moldando a vida das pessoas ao redor do mundo. A polarização pode até ser uma lente útil para analisar os conflitos, mas também obscurece as respostas necessárias para questões globais como a mudança climática, a desigualdade crescente e a tensão entre os fluxos migratórios e a construção de novos paradigmas geopolíticos. A verdadeira disputa não é entre ideologias; é pela busca de um caminho coletivo que ultrapasse essas divisões e enfrente os desafios globais sem recorrer a soluções simplistas.

 

A derrota de Winston Churchill em 1945 serve como um ponto de reflexão importante. Ele, um ícone da resistência durante a Segunda Guerra Mundial, conhecido como Senhor da Guerra, foi superado nas urnas não por falhas em sua liderança ou estratégia, mas porque a sociedade britânica estava em um momento de transformação, buscando uma reconstrução que exigia uma nova abordagem. Esse evento histórico nos recorda que, por mais que uma figura possa simbolizar estabilidade, o espírito do tempo frequentemente exige mudanças profundas e novas direções. De forma similar, hoje, os desafios globais demandam respostas que transcendam as opções ideológicas tradicionais, e a política não pode mais ser uma mera alternância de poder. A verdadeira liderança será aquela que enxergar além das divisões e se concentrar em soluções duradouras para os problemas globais.

 

Em 2024, as urnas podem ter refletido um mundo fragmentado, mas a questão central que se impõe é: o que as sociedades realmente precisam para lidar com o futuro? A política não pode mais ser vista apenas como uma disputa entre dois polos opostos. O futuro exige mais do que alternâncias ideológicas; ele demanda uma bússola coletiva que nos guie para além das divisões políticas, permitindo-nos enfrentar os desafios do século XXI com visão e coragem.

 

Luciano Martins é advogado, assessor legislativo e vice-presidente da União Brasileira de Apoio aos Municípios (UBAM) no Estado de Mato Grosso do Sul. Atuou como secretário-adjunto de Governo, controlador-adjunto e diretor-presidente da Fundação Social do Trabalho no Município de Campo Grande (Funsat).

Por Gestão, Governança e Empreendedorismo em 15/01/2025
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