O que fazer com a malha da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA)?

O que fazer com a malha da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA)?

O governo federal está realizando audiências públicas, para definir o futuro do contrato de concessão da FCA, um dos ativos da VLi, que se encerra em 2026.

Uma das possibilidades é a renovação da concessão por mais trinta anos, com algumas contrapartidas ou obrigação de investimentos da parte da concessionária, assim como as demandadas pela sociedade. Segundo o Ministério dos Transportes, o “gerenciamento de desejos” dos governos e empresas nos estados por onde passa a ferrovia é a grande questão do processo de renovação antecipada dessa malha ferroviária, a maior do país, com 7,2 mil quilômetros.

Atualmente, a gestão da malha é feita pela concessionária, definindo o que fazer e o que rejeitar, sem grandes restrições a esse respeito, pois a agência reguladora entende que não é necessária a “mão forte do estado”, uma vez que o Mercado é capaz de resolver todos os problemas.

Não é, até porque quem resolve as demandas do transporte regional de passageiros, assim como as necessidades de desenvolvimento regional, a partir da logística ferroviária de cargas e de passageiros, é o setor público, com as políticas públicas.

Além disso, as atuais concessões da malha ferroviária nacional atuam de acordo com o interesse de seus clientes e muito pouco com o interesse dos consumidores e das regiões.

O caso da soja produzida no Mato Grosso é o maior exemplo disso. Grandes volumes de cargas são destinados a portos afastados da região produtora, como Porto Velho/RO, Miritituba/PA, Santos/SP e Paranaguá/PR, utilizando caminhões, ao invés de trens que são mais adequados e sustentáveis para essa logística, como ensina a boa prática mundial.

No caso da FCA, como consequência da “mão fraca do estado”, foi possibilitado a ela, o abandono de longos trechos ferroviários, por considerá-los antieconômicos, para o seu negócio. A estimativa é que da atual malha de 7,2 mil quilômetros da FCA, 30% sejam devolvidos à União.

Salvo melhor juízo, a questão central é: como será a gestão dessa malha, para atender às necessidades dos usuários e das cidades ao longo dessa via, visando ao desenvolvimento social e econômico, local e regional? Como precificar e como destinar isso, para atender o interesse público?

A solução mais viável, para atender à todas as necessidades, pode ser simples. E não precisa inventar a roda, pois ela já existe. Senão vejamos.

A INFRA SA é uma sociedade anônima de capital fechado, controlada pela União, vinculada ao Ministério dos Transportes que, por ter incorporado a VALEC SA, tem como principal objetivo fomentar a logística ferroviária do Brasil e tem as seguintes competências:

• Administrar os programas de operação da infraestrutura ferroviária, nas ferrovias a ela
outorgadas;

• Coordenar, executar, controlar, revisar, fiscalizar e administrar obras de infraestrutura
ferroviária que lhes forem outorgadas;

• Desenvolver estudos e projetos de obras de infraestrutura ferroviária;

• Construir, operar e explorar estradas de ferro, sistemas acessórios de armazenagem,
transferência e manuseio de produtos e bens a serem transportados e, ainda, instalações e sistemas de interligação de estradas de ferro com outras modalidades de
transportes;
• Promover o desenvolvimento dos sistemas de transporte de cargas sobre trilhos,
objetivando seu aprimoramento e a absorção de novas tecnologias;
• Celebrar contratos e convênios com órgãos nacionais da administração direta ou
indireta, com empresas privadas e com órgãos internacionais para prestação de
serviços técnicos especializados;
• Exercer outras atividades inerentes às suas finalidades, conforme previsão em seu
Estatuto social
Atualmente, a INFRA SA é gestora das seguintes ferrovias:
• Ferrovia Norte-Sul (FNS)
• Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL)
• Ferrovia de Integração Centro Oeste (FICO)
Por outro lado, a FCA definiu os trechos que julga serem lucrativos o suficiente para alguns investimentos a serem feitos nos próximos trinta anos. Especialmente para a logística de cargas, uma vez que não deseja operar transporte de passageiros nem de cargas pouco lucrativas. É justo que ela queira isso.
Mas a sociedade organizada, nos estados que podem ser atendidos por essa malha, quer outros serviços.

Nossa proposta

A nosso juízo, a melhor solução para otimizar necessidades e custos é a seguinte:
• Toda a malha ferroviária, atualmente sob operação da FCA, seria assumida pela INFRA
SA, que passaria a ser a única gestora da malha.

• Os trechos desejados pela FCA, para operar nos próximos trinta anos, seriam
subconcedidos a ela, que pagaria um volume de recursos necessários para revitalizar os trechos abandonados, e em vias de devolução, garantido um fluxo de caixa justo para todas as partes, especialmente para o poder público.

• Os demais trechos seriam objeto de planejamento e encaminhamento de soluções, pela INFRA SA, via PPP patrocinada ou mesmo licitação direta.

• Os trechos de passageiros seriam delegados para a Companhia Brasileira de Trens Urbanos – CBTU, que seria retirada do PND, para cumprir mais esta missão.

• A INFRA SA implantaria um sistema, em toda a malha hoje sob concessão da FCA, destinando um pequeno percentual das receitas das diversas cargas, para garantir o subsídio do transporte de passageiros.
RJ

José Augusto Valente é membro da Divisão Técnica de Transporte e Logística do Clube
  de Engenharia. Foi Secretário de Política Nacional de Transportes e Presidente do DER

Carlos Santana, ferroviário, advogado e professor, foi Deputado Federal pelo estado
 do Rio de Janeiro entre 1991 e 2011

Por Ultima Hora em 20/10/2024
Publicidade

Comentários

  • De fato, Carlos Santana tem toda a razão, contudo vejo pouco ou quase nenhum interesse dos governos, sobretudo do federal. A política de transportes ferroviário em nosso país faz tempo que vem se arrastando, lentamente qual bicho-preguiça atravessando rodovia e; puffut ... já eram, ferrovia e preguiça!
    SERVULO FRAGA DOS SANTOS
    21/10/2024

Notícias Relacionadas

Câmara aprova parecer de deputada Clarissa a favor de parcelamento de multas de trânsito
13 de Outubro de 2022

Câmara aprova parecer de deputada Clarissa a favor de parcelamento de multas de trânsito

Deputadas Célia Jordão e Elika Takimoto entregam Medalha Tiradentes ao Cônsul-Geral do Japão no Rio
25 de Outubro de 2023

Deputadas Célia Jordão e Elika Takimoto entregam Medalha Tiradentes ao Cônsul-Geral do Japão no Rio

O INTERESSE NACIONAL
13 de Outubro de 2024

O INTERESSE NACIONAL

Alerj complenta lei da notificação compulsória para casos de violência contra crianças
13 de Junho de 2023

Alerj complenta lei da notificação compulsória para casos de violência contra crianças

Aguarde..