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Beneficiada por ganhos com atividades rurais e pela distribuição de lucros e dividendos, a renda da população mais rica do Brasil cresceu, nos últimos anos, até três vezes mais do que os rendimentos da parcela mais pobre.
A elite, que representa 0,01% da população e é composta por um grupo de 15 mil pessoas, viu a sua renda crescer em 95%, entre 2017 e 2022.
Por outro lado, a renda da maioria da população adulta do país (95%), no mesmo período, avançou 33%. Para ter uma noção do que o percentual representa, basta indicar a inflação oficial desses anos totalizou 31%. Ou seja, para a grande maioria das pessoas do país, o crescimento na renda superou por pouco a inflação, o que aponta para uma estagnação no poder de compra.
Os dados foram revelados em uma nota técnica publicada na última terça-feira 16 pelo Observatório de Política Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
O autor do trabalho, o primeiro feito após a divulgação de dados mais detalhados do Imposto de Renda pela Receita Federal, é o economista Sérgio Gobetti.
Recorde na concentração de renda
A pesquisa buscou avaliar em que níveis os ricos do país se tornaram ainda mais ricos, comparando o avanço da concentração de renda com aquele sentido pela população mais pobre.
A concentração se ampliou em todos os níveis, segundo a pesquisa. No grupo que representa 1% da população, formado por cerca de 1,5 milhão de pessoas, a renda média mensal em 2017 estava na casa dos 52,5 mil reais. Em 2022, o valor saltou para 87,7 mil reais. O avanço foi de 67%.
Por outro lado, a fatia referente a 95% da população do país recebia, em 2017, uma média de 1.748 reais por mês. Cinco anos depois – e um período de pandemia no meio -, a renda média cresceu para 2.332 reais. Pouco acima da inflação, como mencionado.
Há dois eixos centrais para compreender o crescimento recente da concentração de renda brasileira, e ambos passam pela falta de tributação no país: a atividade rural – composta pela agropecuária, por exemplo – e a distribuição de lucros e dividendos.
De acordo com a pesquisa, em 2022, por exemplo, “dos R$ 147 bilhões de renda proveniente da atividade rural, mais de dois terços foi isenta de tributação (R$ 101 bilhões) e nada menos do que 42% desse montante foi parar no bolso do milésimo mais rico da população”. O índice de concentração é quase o mesmo do registrado por lucros e dividendos (44%).
A distribuição de lucros e dividendos é um mecanismo do mercado financeiro. Na prática, diz respeito à remuneração que um investidor obtém de uma companhia, seja ele sócio ou simples acionista, trabalhando ou não na empresa.
A Petrobras é um exemplo de empresa que distribui dividendos elevados. Em 2022, a petroleira distribuiu cerca de 21,7 bilhões de dólares (ou 112,4 bilhões de reais, na cotação da época) aos seus acionistas, assumindo o posto de segunda maior pagadora de dividendos do mundo naquele ano, segundo a gestora de ativos inglesa Janus Henderson.
Fenômeno mundial
O caso brasileiro não é isolado. Também merece destaque o patamar de concentração de renda do país e os exemplos permanentes de uma desigualdade social crônica, como as taxas de analfabetismo, as dificuldades de acesso à educação básica e as elevadas taxas de juros.
Entretanto, o país é apenas mais um caso de como a concentração da renda nas mãos dos mais ricos cresce em um ritmo vertiginoso no mundo.
Em termos gerais, os dados sobre a relação “concentração de renda X desigualdade social” no planeta mostram o avanço de um modelo econômico que privilegia a concentração, à parte, inclusive, dos esforços institucionais e de organizações sociais para a redução da pobreza no mundo.
No último domingo 14, um relatório da organização Oxfam Brasil deu uma nova roupagem a um fato já conhecido e já divulgado, em outras oportunidades, pela mesma entidade: o que aponta que os ‘super-ricos’ do mundo estão ficando cada vez mais ricos.
Segundo o relatório, a riqueza dos cinco homens mais abastados do planeta aumentou 114% entre 2020 e 2023. Se, antes, a riqueza somava 405 bilhões de dólares, o valor aumentou para 869 bilhões de dólares.
Os nomes incluem as cinco maiores fortunas do mundo, segundo a revista Forbes: Elon Musk, Bernard Arnault, Jeff Bezos, Larry Ellison e Warren Buffett.
O estudo Oxfam mostrou, inclusive, que a ínfima parcela de 0,1% dos mais ricos do mundo possui 43% dos ativos financeiros globais.
Via Carta Capital
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