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O Ozempic, medicamento originalmente destinado a pacientes com diabetes tipo 2, tornou-se um fenômeno mundial devido ao seu rápido efeito colateral na perda de peso. A perigosa epidemia, popularizada em 2022 por meio de comerciais na televisão norte-americana e redes sociais como o TikTok, espalhou-se rapidamente pelo mundo. No entanto, estudos recentes indicam que o uso massivo da substância nos Estados Unidos está tendo consequências além da saúde.
De acordo com uma pesquisa realizada em março deste ano pela Empresa Gallup, cerca de 15,5 milhões de pessoas (6% dos adultos nos EUA) experimentaram medicamentos injetáveis para emagrecer. Fontes ouvidas pelo "Wall Street Journal" afirmam que esses números estão refletindo diretamente na mudança de consumo no varejo do país.
Jennifer Hyman, co-fundadora e CEO da empresa de aluguéis de roupas Rent the Runway, afirmou à publicação que mais clientes estão vestindo tamanhos menores agora do que em qualquer outro momento nos últimos 15 anos. Com isso, as marcas estão mudando sua produção, oferecendo, por exemplo, corsets ajustáveis em vez de zíperes, além de looks mais transparentes. "Quando você está mais confortável na sua própria pele, está mais disposta a experimentar looks mais ousados", afirma Hyman. "Antes, eu estava insegura com o meu corpo", disse Maggie Rezek, de 32 anos, que perdeu 27 quilos com semaglutida (ingrediente ativo do Ozempic). "Agora, sinto que me visto melhor. Isso me dá confiança para me arrumar e ser mais estilosa." As novas peças indispensáveis de Maggie são tops, shorts jeans e saltos, substituindo seus tênis.
Apesar de não haver certeza de que a mudança está atrelada ao uso massivo do remédio, os empresários afirmam que a curva é diferente de tudo que já viram antes. Tal comportamento vai diretamente na contramão do movimento em prol da diversidade de corpos que a indústria da moda vem batalhando para promover nos últimos anos, trazendo prejuízos para os próprios comerciantes da indústria da moda no país. "No último ano, nossos varejistas têm nos dito que precisam de tamanhos menores", disse Abhi Madan, co-fundador e diretor criativo da Amarra, ao "Wall Street Journal". A marca, especializada em roupas de festa, adicionou tamanhos tão pequenos quanto PP e agora vende mais tamanhos na faixa de 34 a 42 do que na faixa de 46 até 58, mesmo havendo um aumento na demanda por tamanhos maiores após a pandemia de COVID-19.
"A redução dos tamanhos de roupas nos Estados Unidos terá um impacto enorme nos varejistas e poderá custar a eles aproximadamente $20 milhões por ano devido às curvas de tamanho incorretas. Essas perdas só vão aumentar à medida que mais pessoas tomarem medicamentos GLP-1 para perda de peso", afirma Prashant Agrawal, fundador e CEO da Impact Analytics. "Os varejistas geralmente tomam decisões de compra para as próximas temporadas com pelo menos seis meses de antecedência, e se esse impacto na curva não for abordado, terá ramificações nas vendas no varejo que se estenderão até a temporada de festas e além", complementa.
Outra perspectiva preocupante é o descarte de roupas, que pode ir na contramão do hábito adquirido, principalmente, pela nova geração de consumidores de priorizar brechós e roupas de segunda mão. Com a rápida perda de peso promovida pelo Ozempic, consumidores estão procurando por roupas menores e, em alguns casos, se desfazendo de seu antigo guarda-roupa. No entanto, um dos efeitos colaterais do emagrecimento pelo uso da substância é recuperar o peso perdido após interromper o tratamento. Com isso, as roupas menores podem ser descartadas, e o consumidor, mais uma vez, irá comprar novas roupas.
Os relatos agravam ainda mais uma sociedade que, nos últimos anos, retornou a enaltecer um culto pela magreza sem medo. A volta das tendências dos anos 2000 passou de ser uma brincadeira, embalada por roupas Y2K e gêneros musicais nostálgicos, para a busca de um corpo magro a qualquer custo. Inclusive, se o jeito for tomar remédios para isso, ou até retirar procedimentos estéticos, como feitos por personalidades de todo o mundo. Como muito na indústria da moda, a crítica às marcas e desfiles pela contínua preferência a modelos magros parece não surtir nenhum efeito no mercado nacional e internacional. E, com remédios para emagrecer como o Ozempic influenciando essa indústria, é provável que, mais uma vez, essa dose seja repetida.
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