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Capturadas em Angola e levadas ao Brasil como escravas, a curandeira Natula e a filha Kalinda encontram na ancestralidade um refúgio para superar as dificuldades: elas utilizam chás e unguentos feitos com ervas medicinais para ajudar os escravizados doentes. Esse é o enredo central do livro A curandeira Bantu, lançamento de Renato Moreira, pós-doutor em Bioquímica e professor universitário aposentado.
Para escrever a narrativa, o autor entrelaçou seus estudos de Ciência com a paixão pela História: realizou uma extensa pesquisa sobre herança das curandeiras negras africanas, acontecimentos do período colonial e processos de cura. O resultado foi um romance que resgata a contribuição dos povos africanos para o desenvolvimento da medicina no país.
Em entrevista, Renato Moreira fala sobre as referências presentes na obra e como utilizou sua bagagem científica para narrar a trama.
1. Você tem pós-doutorado em Bioquímica e soma uma vasta bagagem acadêmica nos estudos científicos, tendo passado por universidades da França e da Escócia. Como você equilibra sua formação acadêmica com sua paixão pela História? De que forma essa combinação de conhecimentos se reflete em A curandeira Bantu?
Renato Moreira: A paixão pela história, da minha parte, é antiga e alimentada pela atividade científica, que por sua vez é guiada pela curiosidade. A ciência, como a história, é guiada por perguntas sobre o que acontece e aconteceu com a vida humana. No caso do livro A curandeira Bantu, a ciência é abordada quando tento resgatar a prática de cura, usando plantas medicinais, quer da tradição africana, quer dos povos originários do Brasil.
2. A história narra os conhecimentos científicos das curandeiras angolanas escravizadas, destacando a importância das plantas medicinais e dos métodos de cura ancestrais. Além desse legado, como você enxerga a contribuição dos povos africanos para a consolidação da cultura e da medicina brasileira hoje?
Renato Moreira: A contribuição dos povos africanos na formação da sociedade brasileira é enorme, embora pouco divulgada. O uso de plantas medicinais no processo de cura é do maior impacto na medicina. O resgate de processos de cura tem mostrado que a bagagem cultural trazida pelos negros africanos escravizados, notadamente aqueles homens e mulheres que na sua terra natal exerciam a função de curandeiros, foi essencial para o processo de cura em uma época de tão precária atenção médica, numa sociedade em formação.
3. No livro, as curandeiras fundam a "Casa da Mãe Neusa", um local dedicado aos cuidados dos enfermos. De que forma essa instituição simboliza não apenas um espaço de cura, mas também de resistência e esperança para a comunidade negra no Brasil colonial?
Renato Moreira: Trago a discussão das casas de cura para o livro, exemplificada pela casa da mãe Neusa, para mostrar como esses espaços estavam presentes principalmente no interior do país. As famosas rezadeiras e curandeiras africanas sempre estiveram em comunidades pouco assistidas pela medicina tradicional.
4. No final da história, há um compilado com elementos adicionais, como os anexos sobre nomes históricos, linha do tempo, locais reais e plantas medicinais mencionadas. Na sua visão, como esses recursos enriquecem não somente a leitura, mas também a compreensão do contexto histórico e cultural abordado na obra?
Renato Moreira: Os anexos visam complementar as informações contidas no livro, trazendo para o leitor informações adicionais sobre tópicos específicos, como informações científicas e fatos históricos importantes, para facilitar a compreensão do contexto da época sem interromper o fluxo da leitura. Destaco como da maior importância a relação de algumas plantas medicinais e processos de cura citados na história. Também cito algumas das obras e referências que utilizei como fonte para elaborar a trama.
5. Você fez uma longa pesquisa para escrever esse romance histórico. Poderia nos contar um pouco mais sobre como foi esse processo de imersão?
Renato Moreira: Consultei dezenas de livros e centenas de textos em sites da internet, seja estritamente científico, seja de divulgação geral, para criar A curandeira Bantu. É claro que meus conhecimentos prévios na bagagem científica também foram de grande importância na condução do processo de pesquisa bibliográfica e de escrita. Enfim, foram muitas horas dedicadas à pesquisa e leitura de livros e textos avulsos para a construção da trama.
Sobre o autor: Renato de Azevedo Moreira é natural de Recife e, aos 17 anos, mudou-se para Fortaleza, onde vive até hoje. Sempre teve duas paixões: o estudo das Ciências da Natureza e a História. Formado em Química Industrial pela Universidade Federal do Ceará (UFC), seguiu carreira acadêmica na área da Bioquímica; fez doutorado e pós-doutorado em Bioquímica e Imunologia na França e na Escócia. Atualmente é Professor Titular Aposentado da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de Fortaleza (Unifor). Também é membro da Academia Cearense de Química e da Academia Cearense de Ciências. Seu livro de estreia na literatura é o romance histórico João Caetano, Memórias de um Abolicionista, publicado pela Editora Autografia, e agora lança A curandeira Bantu.
Instagram do autor: @renato_de_azevedo_moreira
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