Pré-candidatos nas eleições de 2020 se reuniram com miliciano Tandera, dizem MP e polícia

Investigações do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público e da 48ª DP (Seropédica) revelaram que Tandera ofereceu apoio a quatro pré-candidatos.

Pré-candidatos nas eleições de 2020 se reuniram com miliciano Tandera, dizem MP e polícia

Na reunião, ele ainda disse: ‘Nada sai de graça’. Fotos e áudios revelaram que o miliciano Danilo Dias Lima, o Tandera, que atua na Baixada Fluminense e em parte da Zona Oeste do Rio, se reuniu com quatro pré-candidatos a cargos eletivos para as eleições de 2020, na região da Baixada Fluminense.
As investigações do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público e da 48ª DP (Seropédica) resultaram na denúncia de três candidatos que não se elegeram em 2020.
Cinco pessoas foram presas em uma operação nesta quarta-feira (3).
Entre os denunciados, estão Thaianna Cristina Barbosa Dos Santos, conhecida como Doutora Thay; e Luciano Henrique Pereira, conhecido como “Luciano Da Rede Construir”.
Thay Magalhães, rainha de bateria da Paraíso do Tuiuti em 2022
Marcos Serra Lima/g1
Doutora Thay foi candidata à prefeitura de Mesquita em 2020. No mesmo ano, Luciano Henrique Pereira também foi candidato à prefeitura de Seropédica.
Nenhum dos dois foi eleito: ambos terminaram na terceira posição das eleições municipais.
Segundo a Polícia Civil, haveria, de acordo com os termos da reunião, um direcionamento de licitações e contratos feitos pelo poder público em alguns municípios da Baixada:
“É uma reunião pré-eleitoral, onde ele reúne um grupo de políticos e oferece a eles apoio. Apoio no sentido de conseguir mais eleitores, mas também de ‘aqui você vai estar confortável, vai estar protegido. Em compensação, depois que vocês assumirem, eu vou querer alguma vantagem’. Ali ele cita claramente licitação. Algumas licitações teriam que ser desviadas, fraudadas, para que eles assumissem aqueles contratos”, explicou Vinicius Miranda, delegado titular da 48ª DP (Seropédica).
O ex-deputado Federal Cornelio Ribeiro também foi denunciado, mas não chegou a disputar as eleições na prefeitura de Nova Iguaçu. Na casa dele, foram encontrados R$ 450 mil em dinheiro vivo na operação do MP e da Polícia Civil.
“Nós identificamos relacionamentos dessa organização com a política, uma tentativa de obter secretarias, cargos públicos, contratos administrativos por meio de licitações fraudulentas, o que revela o quão complexa se tornou essa organização criminosa”, afirmou a promotora do Gaeco, Glaucia Mello.
Procurados, Thaianna Cristina e Luciano Henrique Pereira e Cornelio Ribeiro não responderam às perguntas até a publicação desta reportagem.
‘Tudo é um investimento’, diz Tandera
Danilo Dias Lima, conhecido como Tandera, é um miliciano que está foragido da Justiça desde 2016. Na reunião, ele oferece apoio, mas avisa que ‘nada sai de graça’.
“Para a gente conseguir alcançar o legislativo, o judiciário, o executivo e o quarto poder, nada sai de graça. Para vocês estarem aqui hoje também, vocês sabem que lá na frente, pô, tudo é um investimento”, afirmou Tandera.
Em seguida diz aos candidatos que a ideologia dos candidatos “bate” com a deles.
“Eu tenho um pedido para fazer. Se não fosse para vocês ia ser pra outras pessoas que viessem com uma ideologia, mas a ideologia de vocês bate com a gente.”
Na reunião, a candidata Doutora Thay se manifestou e prometeu entregar vantagens aos bandidos, de acordo com o Ministério Público:
“O importante é vocês terem a estrutura de vocês. Como é que a gente vai fazer? Vocês vão botar outras empresas para concorrer junto com vocês, mas todo mundo alinhado”, comentou ela, em gravações obtidas pelo RJ1.
“A minha proposta aqui é o apoio de vocês, junto à comunidade, sem nenhum interesse que vocês façam o bem ou o mal”, disse Cornelio Ribeiro.
Carnaval e polêmica
Thay Magalhães, madrinha da Acadêmicos de Niterói
Alexandre Durão/g1
Thaianna também tem outra ocupação: foi rainha de bateria da Paraíso da Tuiuti em 2022 e madrinha de bateria da Acadêmicos de Niterói em 2023.
Thay Magalhães diz que não continua como rainha de bateria da Tuiuti: ‘Já deu esse ano’
Usando o nome artístico de Thay Magalhães, ela se envolveu em uma polêmica com a então princesa da bateria da Tuiuti, Mayara Lima. Thay deixou o posto de rainha de bateria logo após o carnaval de 2022.
Operação
Polícia Civil e MP do Rio faz operação contra milícia nesta quarta-feira (3)
Agentes saíram para cumprir 13 mandados de prisão e 25 de busca e apreensão. Até a última atualização desta reportagem, cinco pessoas haviam sido presas.
De acordo com as investigações, a quadrilha é responsável por extorsões, homicídios, ameaças, grilagem de terras, agiotagem, exploração ilegal de areais, lavagem de dinheiro, entre outros crimes, principalmente nos municípios do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, Queimados e Seropédica.
Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Capital e a ação conta com o apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ).
Danilo Dias, o Tandera: envolvido em uma guerra de milícias na Zona Oeste
Reprodução
Quem é Tandera
Tandera domina regiões de Nova Iguaçu e de Seropédica, na Baixada Fluminense. Até 2020, Tandera integrava a maior milícia do RJ, mas rompeu com Wellington da Silva Braga, o Ecko, que então chefiava o grupo paramilitar.
Com a morte de Ecko em uma ação da polícia em junho de 2021, Tandera tentou tomar dos rivais áreas de Santa Cruz e Paciência, na Zona Oeste do Rio, mas acabou rechaçado. Irmão de Ecko, Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, herdou a quadrilha no mês seguinte e manteve Tandera como inimigo.
Armamento apreendido e que seria da milícia de Tandera
Reprodução
A milícia de Tandera tinha vasto poderio bélico. Em agosto do ano passado, a polícia apreendeu 16 fuzis que pertenceriam ao paramilitar. Uma das armas era um fuzil do Exército americano capaz de atingir um alvo com precisão a 400 metros de distância. Na identificação, estava escrito “propriedade do governo dos Estados Unidos”. A numeração tinha sido raspada.
Também naquele mês, a polícia apreendeu um carro-forte usado pelos milicianos para intimidar desafetos e para proteger criminosos durante confrontos com rivais.
“Caveirão da milícia’ foi apreendido em Nova Iguaçu
Divulgação
A quadrilha, no entanto, vem enfraquecendo, com sucessivas operações. Irmão de Tandera, Delso Lima Neto, o Delsinho, foi morto em uma ação da polícia em agosto de 2022. Ele era o segundo na hierarquia do grupo paramilitar.
 

Por Falando de Baixada Fluminense em 03/05/2023
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