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Por Walter Felix Cardoso Junior, Coronel
Era uma missão de reconhecimento do terreno, e o soldado russo progredia sozinho entre os arbustos nas cercanias de Kursk. Carregava o peso do cansaço acumulado por noites mal dormidas, alimentação inadequada e o desânimo que meses em operação haviam imposto. Sentia medo, um medo constante, daquilo que poderia acontecer a qualquer instante. Sua mente era um campo de batalha à parte, dominada pela incoerência entre as tragédias que presenciava diariamente e as palavras pomposas dos superiores. Lembrava-se, com amargura, dos argumentos ufanistas dos recrutadores que o haviam conduzido àquela situação indesejável.
Ele não confiava no comandante de seu pelotão. A propaganda do governo era, para ele, uma farsa evidente. Perdido em devaneios, seus pensamentos foram abruptamente interrompidos pelo zumbido insuspeito de um drone. Instintivamente, ergueu o olhar e gelou ao perceber o dispositivo parado no ar, a poucos metros de distância, observando-o. Foi um instante terrível em que sentiu a morte rondá-lo, como um abismo a se abrir sob seus pés.
Em fração de segundos, imagens de sua filha de cinco anos e de sua esposa carinhosa vieram à mente. Não havia como escapar. O destino trágico parecia selado. Então, em um último gesto de desespero, largou o fuzil no chão e ajoelhou-se, fixando o olhar no instrumento de morte que pairava diante dele. De mãos postas, começou a orar. As palavras saíam entrecortadas por soluços, misturadas às lágrimas que corriam por seu rosto. Por alguns segundos, o drone permaneceu imóvel, observando-o. A eternidade parecia condensada naquele instante.
Sua oração tornou-se mais intensa, menos mecânica. Ele não pedia apenas por sua vida, mas por algo maior, algo que talvez nem soubesse nomear. Em algum lugar próximo, oculto entre as sombras da vegetação, alguém assistia a cena através de um visor. Aquele observador tinha em suas mãos o poder de decidir entre a vida e a morte daquele homem. Era uma imagem dramática, quase irreal: o soldado ajoelhado, vulnerável, implorando ao que acreditava ser sua última esperança. Que decisão tomar? Os segundos, agora minutos, estendiam-se como uma agonia sem fim.
Então, de repente, o drone acelerou e subiu rapidamente, desaparecendo acima das copas das árvores mais altas. O soldado permaneceu ajoelhado, perplexo, tentando compreender o que acabara de acontecer. Quem seria aquele que o havia poupado? E por quê? Teria sido sua prece fervorosa que mudara o curso de seu destino?
Confuso, mas tomado por uma sensação de alívio e gratidão, ele se esgueirou pela mata até chegar à trincheira. Ali se recolheu, pensativo, ainda sob o impacto do que havia vivenciado. Algo nele havia mudado para sempre. Nos momentos mais implacáveis, quando tudo parecia perdido, ele encontrou em sua oração uma chama que reacendeu a esperança e, quem sabe, tocou algo muito maior do que ele podia compreender.
Epílogo: Enquanto orarmos pedindo ao Pai a satisfação de nossos desejos e caprichos, é possível que nos retiremos da prece inquietos e desalentados. Mas, sempre que solicitarmos as bênçãos de Deus, a fim de compreendermos a sua vontade justa e sábia, a nosso respeito, receberemos pela oração os bens divinos do consolo e da paz.
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