Quando você quer saber, mas não consegue...

A melhor decisão demanda elementos não disponíveis nas redes.

Walter Felix Cardoso Junior

wfelixcjr@gmail.com

Mesmo lançando mão de tecnologia de ponta para vasculhar as fontes informativas, é praticamente impossível captar todos os aspectos que desejamos saber da realidade. Embora a ânsia de desvendar as coisas, quando muito, conseguimos ter uma consciência apenas relativa do entorno. E isso se torna uma penosa vulnerabilidade quando somos premidos pela crescente demanda por ação.

Quem não dorme pensando se a aplicação do dinheiro foi realmente segura ou se o superior hierárquico não deseja secretamente substituí-lo ou se amanhã não vai ser enganado na feira por não estar a par dos melhores preços das frutas? A incerteza é um fator incrivelmente presente nas nossas vidas.

Mas, por que isso é tão excruciante? Falta-nos vontade, determinação para nos inteirarmos do que acontece? Não conseguimos reunir a tempo os meios de saber?

Estamos cercados por infinitas fontes de informação que disseminam fatos e ideias, muitas delas improváveis, incoerentes e desconexas, que vão desde conteúdos tendenciosos até relatos estranhos, porém, que podem ser verdadeiros e importantes.

Não obstante, em princípio por pressão do tempo, é impraticável confirmar a veracidade do turbilhão de dados captados. Também não dá para processar e analisar tudo aquilo que achamos que pode ser aproveitável. Entretanto, o pior de tudo, é que a prospecção séria do ambiente, além de ser um processo complexo e caro, falha muito no que mais necessitamos, a antecipação do que vai acontecer.

A conjuntura sempre foi volátil, multifacetada, mas agora a informação do mundo todo se torna cada vez mais ousada, ela vem a qualquer momento e arromba as portas da nossa mente, sendo verdadeira ou não, jogando problemas ao nosso colo.

Tenho dúvidas se realmente existem organizações provedoras de informações que consigam atender plenamente as necessidades informacionais mais críticas, mesmo porque, de tanto ser caçada, a informação relevante, a que faz a diferença, aprendeu a se esconder. 

Então, quando suplicamos humildemente por mais qualidade no saber, havemos de lançar mão de times experientes, hábeis com tecnologia, dispendiosos por isso mesmo; mas, ainda assim, na maioria das vezes, são capazes apenas de nos brindar com uma imagem desfocada e fugaz da realidade.

Bem, não preciso nem dizer o quanto essa situação é desafiadora para jornalistas, atores da inteligência, cientistas da informação ou mesmo simples pesquisadores acadêmicos.

No entanto, quase sempre desconhecida ou esquecida, existe uma possibilidade que vai além da informação obtida pelos meios puramente corriqueiros – a intuição – a capacidade de entender, identificar ou pressupor coisas que não dependem de um conhecimento empírico, de conceitos racionais ou de uma avaliação mais específica.

Sendo a intuição um conhecimento único, claro, direto, imediato, que pode ser referir a fatos verdadeiros, mas que não demanda o auxílio direto do raciocínio para emergir mentalmente, é válido lhe concedermos um grau elevado de legitimidade. Embora não seja uma potencialidade generalizada das pessoas, porque depende de condicionantes extrafísicas, é bom dar-lhe mais atenção, posto que é inegável que possa influenciar o pensamento, melhorando a qualidade das nossas decisões.

A intuição viceja ainda como um processo misterioso pelo qual os humanos passam, mesmo que involuntariamente e inconscientemente, sendo seu funcionamento, e até mesmo a sua existência, um enigma para a ciência.

Entretanto, há que se considerar algo importante sobre o viés e a qualidade da intuição. Ela pode servir a uma condição maligna, danosa, quando a mente humana se propõe a trabalhar numa faixa de vibração inferior, apoiada em sentimentos de vingança, egoísmo, vaidade e toda a sorte de interesses escusos, conformando planos destruidores ou imorais. Neste caso, a sugestão soe acontecer atraindo somente um conjunto de energias negativas, e o resultado disso nunca é bom.

Ao contrário, quando as pessoas laboram em projetos de objetivos retos, almejando contribuir sinceramente para causas justas, colimando o bem comum, torna-se provável obter intuitivamente boas colaborações, com sugestões éticas emanadas das profundezas do Universo. Isso não tem a ver com religião, correspondendo apenas às leis morais. Não precisamos se adivinhos para saber que ciência e religião caminham para se encontrarem no futuro da humanidade.

Daí o cuidado que precisamos ter na estruturação das equipes que lidam com os ativos informacionais, potenciais “antenas” captadoras de intuições. Destaco aqui a importância na escolha, treinamento e direção dos recursos de chefia e de assessoramento à decisão. Torna-se essencial atrair talentos com base na integridade, depois, priorizar a motivação e a capacidade, além de considerar a compreensão e o conhecimento. Finalmente, como fator menos importante, observar a experiência. Sem integridade, todas as demais qualidades podem se tornar perigosas num cenário desafiador onde a moral é cada vez mais descartável.

É bom frisar que a seleção das pessoas para qualquer empreitada deve sempre priorizar o caráter. Podemos treinar habilidades, mas o caráter não. WF

Por Walter Felix Cardoso Junior - Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina; graduado na Academia Militar das Agulhas Negras, ex-Comandante do 63 BI; Egresso de 4 cursos do Centro Hemisférico de Estudos de Defesa, Washington/USA; diplomado em Gestão de Recursos de Defesa pela Escola Superior de Guerra; ex-Diretor do Departamento de Defesa e Segurança da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo; e ex-Secretário de Planejamento Estratégico da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Publicou três obras de Inteligência Competitiva, uma delas na Argentina.